Aracaju/Se,

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Mulheres da Antiguidade - Khentkawes

Isto é história
Mulheres Audaciosas da antiguidade
Khentkawes
Vicki León

O poder das pirâmides não estava confinado aos homens, ou, em tempos mais tarde, nem mesmo à realeza. Diversas rainhas egípcias se ocuparam com a preparação de sua morada vertical para a vida após a morte. Por exemplo, na frente do grupo de três pirâmides em Gizé estão localizadas três pequenas pirâmides, cada uma digna de uma rainha. Esta seria a rainha principal, é claro, chamada “a grande esposa real”. Somente os grandes membros da realeza (e nem todos eles) tinham essa arrogância; se todas as esposas de segunda linha dos faraós tivessem recebido suas próprias pirâmides, a essas horas o deserto egípcio estaria coberto delas em toda sua extensão.
Khentkawes, que viveu por volta de 2500 a.C., levou as coisas ainda mais longe. Soberana da quarta dinastia, casada diversas vezes, cujas alianças com irmãos meios-irmãos e similares ainda são discutidas, ela montou uma estrutura para seu sono final que ainda se encontra erguida até hoje perto da Esfinge. Não poderíamos realmente chamá-la de pirâmide – ou mesmo de uma tumba do tipo mastaba. As mastabas têm os lados em declive e os topos planos; dão a impressão de que alguém planejou uma pirâmide e desistiu completamente da idéia, depois de fazer um terço dela. Como a Esfinge, o monumento de Khentkawes é enigmático, uma tumba gigantesca cortada em pedra e depois cercada por uma construção feita de calcário; embaixo dela, um corredor desce até um refúgio de câmaras e salas sepulcrais. Num canto, está uma vala para barcos – nenhum barco, apenas a vala (Os encantos de uma vala para barcos foram moda durante séculos – Quéops tinha uma cujo barco ficou preservado até hoje).
Tudo sobre a vida de Khentkawes é enigmático. Dizem que ela era mãe de dois reis, mas ninguém chega a um acordo sobre quem eram eles. Após a morte de Khentkawes, um faraó que acreditamos ser um de seus filhos adicionou mais uma peça ao quebra-cabeça. Ele construiu uma pequena pirâmide para ela em Abu Sir, que agora está vazia mas ainda coberta de inscrições com seu nome e seus títulos. Bom rapaz, ele não queria que ela passasse a eternidade numa mastaba, que simplesmente não dá conta do recado do ponto de vista mágico: na morte, as pirâmides eram as únicas acomodações aceitáveis.
O último capítulo misterioso sobre Khentkawes vem de Heródoto, aquele historiador grego divertido mas nem sempre confiável, que passou um tempo no Egito em torno de 450 a.C.. Enquanto esteve lá, ele entrou numa câmara e viu diversas estátuas com as mãos faltando. De acordo com uma explicação, Khentkawes teve uma filha que se suicidou porque o pai a estuprou. Em sua agonia e raiva, Khentkawes decepou as mãos dos serventes que permitiram ao rei ter acesso à menina, então erigiu este lembrete inquietante como advertência àqueles que poderiam querer abusar do corpo de uma mulher.

(*) – A próxima postagem sobre as Mulheres Audaciosas da Antiguidade, vai falar de NITOCRIS, rainha egípcia que reinou no XXI século a. C. Inconformada com o assassinato do seu marido e irmão, construiu uma imponente câmara subterrânea, mais ou menos do tamanho de um shopping center e, para sua inauguração, convidou todos os conspiradores que tomaram parte na morte do marido-irmão. No auge da festa, trancou seus convidados e abriu uma enorme tubulação deixando que as águas do rio Nilo inundassem o local e matassem todos afogados.

(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".

A Autora
Vicki León

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