terça-feira, 27 de outubro de 2015
Mulheres da Antiguidade - Hidna & suas Companheiras Heroicas
Isto
é história
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
HIDNA & SUAS COMPANHEIRAS HEROICAS
Vicki León
Com
as guerras, pragas e convulsões políticas, sempre havia alguma cidade-estado ou
polis grega em apuros. Entretanto, mulheres de todos os níveis de vida aprenderam
a enfrentar a crise. Através dos séculos, elas tiveram bastante treinamento.
Tomem
por exemplo Hidna de Escione, que se tornou um ás da natação e do mergulho,
assim como seu pai, que era mergulhador. Num momento crítico na guerra de 480
a.C. contra os persas, ela e o pai foram encarregados de uma missão quase
impossível: cortar as amarras dos navios persas. Nadando uns dezesseis
quilômetros em meio a uma tempestade para executar a tarefa, eles retardaram a
frota. Em reconhecimento, dedicaram-se estátuas a eles em Delfos. Na época da
sua maratona a nado, Hidna devia ser jovem ou solteira – de fato, os gregos
acreditavam que você tinha de ser virgem para mergulhar! (A não ser que fosse
homem, é claro).
Depois
temos Telesila. Doentia quando criança, nascida em Argos (próximo de Esparta ao
sul da Grécia) ouviu de um oráculo que deveria arranjar um passatempo. O
oráculo recomendou fortemente a música, e Telesila se tornou poeta (normalmente
a poesia grega era cantada, com o acompanhamento de uma lira). A paixão poética
funcionou, e ela se tornou a principal atração de sua cidade natal. No século V
a.C, o exército de sua cidade foi esmagado pelos espartanos, que se dirigiram
para o centro de Argos para fazer a operação de limpeza. Neste meio tempo, Telesila
pôs escravos e velhotes para guardar os muros da cidade, enquanto ela e outras
mulheres vestiam as roupas de batalha e punham os espartanos para correr. Dali por diante, os cidadãos agradecidos fizeram um festival anual no qual todos se
vestiam com as roupas do sexo oposto para celebrar o triunfo de Telesila.
As
pessoas bem-nascidas torciam o nariz para Leôncia de Atenas, uma garota que
combinava o seu amor por filosofia epicurista com prazeres mais terrenos.
Leôncia estudava diariamente com Epicuro em sua escola-jardim-público. Após o
horário de estudo, ela afiava seus talentos sexuais com uma variedade de
amantes pagadores, inclusive Epicuro (talvez eles fizessem uma troca). Leôncia
conquistou fama com seus textos espirituosos, especialmente a estudada réplica
que dirigiu ao filósofo Teofrasto, que odiava mulheres. Mas seu melhor momento
foi em 296 a.C., quando Atenas foi sitiada por Demétrio, o Conquistador de
Cidades. Longos por natureza, os cercos se arrastavam enfadonhamente. Em
Atenas, todos estavam morrendo de fome, inclusive os epicuristas. Leôncia
pensou em sua companheira de carreira, Lâmia, uma ex-flautista que por acaso
era o principal arrocho do mencionado Demétrio, e deu a própria espremidinha.
Resultado: ela obteve secretamente o suficiente para alimentar seu grupo
enquanto durou o cerco. Não sendo esnobe em relação à comida, Epicuro ficou
bastante feliz em ver aqueles legumes e escreveu uma encantadora nota de elogio
para ela: “Oh! Deus Apolo, minha querida pequena Leôncia, com que aplauso
tumultuoso fomos inspirados a aplaudi-la quando lemos sua carta”.
No século IV a.C, um bando de pitagóricos, que incluía uma
filósofa em estado de gravidez adiantado chamada Tímica, foi assaltado pelos
soldados de um outro tirano, que desta vez era siciliano. Em vez de escapar por
um campo de feijão – um grande tabu para eles -, os filósofos lutaram e
morreram, com exceção de Tímica e seu marido, que haviam se atrasado, ficando
atrás dos outros. Quando ouviu as novidades, o tirano ficou morrendo de vontade
de saber a história por trás dos feijões. Entretanto, Tímica se recusou a
contar-lhe qualquer coisa, finalmente cortando a própria língua com uma mordida
e cuspindo-a aos seus pés. As medidas heroicas tomadas pela Sra. T podem
parecer um exagero em se tratando de legumes, mas o princípio que ela defendeu
foi o direito às suas crenças religiosas, por mais estranhas que possam parecer
para as mentes modernas.
A autora
Vicki León
- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da
Antiguidade vai falar de “CINISCA”, uma mulher pertencente a uma família muito
rica. Ela se dedicou aos esportes e à luta para que as mulheres participassem
dos jogos olímpicos. Ela era irmão do rei de Esparta e participava dos jogos em
carruagens de quatro cavalos.
– Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”,
título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de
Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
O Discreto Charme da Hipocrisia
artigo pessoal
O discreto charme da
hipocrisia
Clóvis Barbosa
Outubro de
1960
- Câmara Municipal de Aracaju, Palácio Graccho Cardoso. Aprovado pelo Decreto
Legislativo n° 05, a concessão do Título de Cidadão de Aracaju ao Dr. João
Belchior Goulart, então vice-presidente da República Federativa do Brasil, “em reconhecimento aos inestimáveis serviços
que vem prestando ao operariado nacional”. O autor da proposta, assim
justificava a emissão de tal honraria: “Nascido em São Borja, recebendo do
imortal presidente Getúlio Vargas as lições de política social que iria
colocá-lo, mais adiante, na liderança dos trabalhadores brasileiros, o Dr. João
Belchior Goulart, conhecido por Jango, é uma das nossas mais autênticas
personalidades no cenário político do País, quer pela herança do trabalhismo,
quer, sobretudo, pela figura de condontieri
em defesa dos ideais e anseios das classes que labutam no comércio, no campo e
na indústria nacionais. Agora mesmo, devido à sua proverbial interferência, o
Governo foi compelido a decretar a Lei Orgânica da Previdência Social, estatuto
básico dos benefícios e amparo dos que fazem do trabalho o progresso da Pátria.
Outras lutas têm recebido de sua honrada pessoa o mais franco apoio, todas elas
revestidas da aspiração de um futuro melhor e de um presente mais risonho para
os humildes e os que são pobres. Deputado Estadual, Federal, Secretário do
Interior e de Justiça do Rio Grande do Sul, Ministro do Trabalho e
Vice-Presidente da República, jovem e portador de uma carreira promissora,
Jango merece o nosso aplauso franco, pela luta, também, da preservação de
nossas riquezas do subsolo, sendo, portanto, justo, esta homenagem a este
grande homem, por ter sido no passado, como no presente, um homem público de
envergadura, merecedor da confiança e da estima de milhões de brasileiros que
empregam o seu labor para o alevantamento da Nação”.
Outubro de
1961
– Câmara Municipal de Aracaju, Palácio Graccho Cardoso - Aprovado pelo Decreto
Legislativo n° 02, a concessão do Título de Cidadão de Aracaju ao Governador
Leonel Brizola, “em reconhecimento aos
inestimáveis serviços prestados em defesa da Constituição e da legalidade
brasileira”.
Abril de 1964 – Câmara
Municipal de Aracaju, Palácio Graccho Cardoso – Declarada pela Resolução n° 5 a
perda do mandato do vereador Manuel Vicente do Nascimento, eleito pelo Partido
Trabalhista Brasileiro. Estão nas justificativas da resolução: as Forças Armadas brasileiras, dando
magnífico exemplo de fidelidade às suas gloriosas tradições democráticas,
expurgou do Poder um governo que estava seriamente comprometido com o
vandalismo de Moscou, Pequim e Havana; esse movimento de caráter patriótico,
plenamente vitorioso, foi inspirado e promovido em defesa da restauração de
nossas liberdades ameaçadas pelos agentes da subversão; torna-se imprescindível
para a consolidação do regime e da ordem, o saneamento nos quadros
constitucionais em todas as esferas, especialmente na legislativa, de
parlamentares ligados, comprovadamente, com o comunismo internacional; o
vereador Manuel Vicente do Nascimento é filiado às hostes do extinto Partido
Comunista do Brasil, e vinha participando dos atos subversivos deflagrados em
nosso País, tornando-se um dos seus destacados líderes com vida ativa e
notória, especialmente no setor ferroviário; e, finalmente, que o referido edil
situou-se como um inimigo declarado da Pátria e de suas instituições, violando
a própria Lei de Segurança Nacional.
Maio de 1964 – Câmara
Municipal de Aracaju, Palácio Graccho Cardoso – Duas resoluções foram
aprovadas, a de n° 14, de 21 de maio de 1964, revogando o Decreto Legislativo
n° 2, de 19 de outubro de 1961, que concedeu o Título de Cidadão de Aracaju ao
Sr. Leonel Brizola, “em vista haver o
ex-Deputado Federal concorrido para a comunização do Brasil”; outra, a
Resolução n 10, de 25 de maio de 1964, que revoga o Decreto Legislativo n° 02, que
concedeu o Título de Cidadão de Aracaju ao Sr. Leonel Brizzolla, “tendo em vista a recente cassação dos seus
direitos políticos e a perda de seu mandato, decretadas pelos órgãos
competentes”.
Maio de 1964 – Câmara
Municipal de Aracaju, Palácio Graccho Cardoso – Aprovada Resolução nº 11, de 26
de maio de 1964, revogando o Decreto-Legislativo n° 5, de 24 de outubro de
1960, que concedeu o Título de Cidadão de Aracaju ao Sr. João Belchior Goulart,
“tendo em vista a recente cassação dos
seus direitos políticos e a perda de seu mandato, decretadas pelos órgãos competentes”.
Dezembro de
1995
– Câmara Municipal de Aracaju, Palácio Graccho Cardoso – Duas resoluções foram
aprovadas. A de n° 18 restituiu o Título de Cidadão de Aracaju ao Sr. João
Belchior Goulart, precedida da seguinte justificativa: Nunca é tarde para reparar uma grande injustiça. Mesmo após a morte do
Sr. João Belchior Goulart, cabe a esta Casa reparar o ato injusto e
subserviente que cometeu ao cassar o Título de Cidadania deste bravo brasileiro;
a de nº 19 restituiu o Título de Cidadão de Aracaju ao Sr. Leonel de Moura
Brizola, com a seguinte justificativa do autor do projeto: Esta Resolução visa reparar um ato de injustiça praticado por esta Casa
Legislativa quando subservientemente resolveu agradar aos senhores da ditadura
Militar, cassando o Título de Cidadão Aracajuano concedido ao Sr. Leonel de
Moura Brizola pelo fato de que o mesmo fora cassado.
Pois
bem, tirante as incongruências contidas nos atos formais das resoluções, como
aquelas que tratam da revogação do Decreto-Legislativo que concedeu o título a
Leonel Brizola, na verdade, as cassações dos títulos de cidadania que foram
concedidas ao ex-presidente João Goulart e ao ex-governador do Rio Grande do
Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, estão eivadas de nulidades. Os títulos
foram concedidos através de um Decreto-Legislativo e somente por esta
ferramenta jurídica poderia ser revogada. Na ânsia de baixar as calças para a
ditadura militar, os vereadores aracajuanos resolveram revogá-los através de
resoluções, cujos efeitos são meramente internos, não alcançando o mundo
exterior. Não havia a necessidade dos títulos serem restaurados em 1995, uma
vez que os mesmos, juridicamente, nunca foram revogados. O mesmo ocorreu com o
vereador Manuel Vicente do Nascimento, eleito pelo povo e que teve o seu
mandato cassado através de resolução. Não poderia ser feito por esse
instrumento jurídico pelos mesmos argumentos. A injustiça perpetrada pela
Câmara Municipal de Aracaju com esses homens precisam ser reparadas, mesmo post-mortem. A Câmara deve pedir desculpa
ao povo sergipano e às famílias de João Goulart, Leonel Brizola e Manuel
Vicente do Nascimento. Aos dois primeiros, entregando aos seus familiares o
Título de Cidadão de Aracaju. Ao último, restituindo simbolicamente o mandato
de vereador.
As ditaduras têm um poder
extraordinário na criação de um tipo de disfunção mental onde o indivíduo é
incapaz de distinguir o bem do mal. É a chamada hipocrisia consciente, que
chega a tornar-se pandêmica. Um exemplo foi o golpe militar que se instaurou no
Brasil a partir de 1964 durante os anos de chumbo. Mas tudo isso acabou. Está
na hora de se resgatar a dignidade através do discreto charme. Não, o da
hipocrisia, mas o da virtude da justiça. Façamos, pois, em nome da justiça, as
reparações a esses três cidadãos.
-
Publicado no Jornal da Cidade,
Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 22e 23 de dezembro de 2013,
Caderno A-7.
-
Postado no Blog Primeira Mão no
domingo, 22 de dezembro de 2013, às 18h48min, sítio:
sábado, 10 de outubro de 2015
Mulheres da Antiguidade - Elpinice
Isto
é história
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
ELPINICE
Vicki León
Arrogante,
intelectual e elegantemente falida, Elpinice conseguiu fazer o que poucas
mulheres atenienses já fizeram – manter-se solteira depois dos catorze anos, a
idade em que a maioria das garotas se tornava noiva. Feminista ela não era. Ela
detestava liberais, pessoas pobres e malditos estrangeiros, com exceção dos
espartanos – em outras palavras, quase todos que não tivessem sangue
aristocrático. Contudo, ela também conseguiu viver uma vida relativamente
independente – uma proeza que as mulheres de sua classe simplesmente não tinham
muita chance de realizar na Atenas do século V.
Naturalmente,
ela pagou por seu comportamento. Os atenienses diziam que ela dormia com o
pintor Polignoto, que colocou seu rosto numa pintura autorizada para um prédio
público (esse ato aterrorizante de autoconfiança excessiva é que foi
interpretado como ir além dos limites pela turma lacônica de seu círculo
social). Uma fofoca ainda mais suculenta estava sempre circulando sobre seu
relacionamento com o meio-irmão, Címon, líder político da cidade antes de
Péricles. Ela vivia com ele há anos; mas será que ela, você sabe, vivia com
ele? Que ela amava o irmão, não há dúvida; pelo menos duas vezes Elpinice se
prostrou diante de Péricles em sua defesa – uma vez, quando Címon estava sendo
julgado, sob risco de pena de morte. A mulher também não conhecia o significado
de quiproquó. Anos mais tarde, quando Péricles fez sua oração pelos homens que
haviam morrido na guerra contra a ilha de Samos, Elpinice quase cuspiu em sua
cara: “Claro que você foi corajoso – mas nos privou de homens valiosos ao lutar
com outros gregos numa cidade aliada. Não foi a mesma coisa que meu irmão
Címon, que perdeu seus homens lutando contra os persas”. Era mais uma vez o
argumento do “estrangeiro sujo”. Címon já havia falecido àquela altura, morto
numa batalha em Chipre.
Elpinice
tocava flauta – que era sempre um hábito malicioso numa mulher; ela também foi
retratada numa jarra tocando sua flauta (primeiro, a pintura, e agora isto!).
Para seu governo, pinturas em jarras, especialmente em taças de vinho, eram
consideradas privilégios de olhos masculinos, já que a maioria das festas só
era frequentada por homens e mulheres de reputação duvidosa. O objeto do tema
tendia a estar nu e picante, e quaisquer mulheres retratadas eram geralmente
profissionais pagas. Os pintores de jarras (alguns deles eram mulheres) também
não tinham boa reputação; o distrito cerâmico, onde os vasos eram modelados,
também era o distrito sórdido, onde as prostitutas vendiam sexo.
Não
obstante seu comportamento incômodo e a preferência por uma vida de solteira,
Elpinice casou. Seu marido, Callias, famoso como diplomata e soldado, também
tinha dinheiro. Com essa mulher sem cerimônia e sem limites, ele provavelmente
precisou mais de sua diplomacia do que dos seus dracmas.
A autora
Vicki León
- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da
Antiguidade vai falar de “HIDNA E SUAS COMPANHEIRAS HERÓICAS”. Elas viveram no
século V, a.C. e Hidna era um ás da natação e do mergulho. Essas mulheres
gregas , a , mulher ateniense que viveu no século V, a.C. Era arrogante,
intelectual e elegantemente falida.
– Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”,
título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de
Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.
- Todas As imagens foram extraídas do Google.
Assinar:
Postagens (Atom)