terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Mulheres da Antiguidade - Corina e as suas companheiras poetas
Isto
é história
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
CORINA E AS SUAS COMPANHEIRAS POETAS
Vicki León
Originalmente,
poesia significava palavras colocadas na música. Nossa expressão “lírico” vem
de lira, o instrumento de cordas frequentemente utilizado para acompanhar a
palavra falada ou cantada. Os gregos tinham uma longa tradição de reverenciar
poetas como Safo, acreditando que eles funcionavam como canais sagrados para os
deuses. Ironicamente, sua bem-merecida popularidade (e o pequeno número de
poemas deixados por outras mulheres além de Safo) colocou as outras poetas,
como as três que se seguem, à sombra.
Corina,
da cidade de Tânagra do século V, a. C., era uma contemporânea de Píndaro,
considerado o melhor poeta homem do mercado pelos vencedores dos jogos
olímpicos, que lhe pagavam uma boa nota para escrever poemas pegajosos de
adulação. Entretanto, na mais importante competição de poetas, Corina ganhou de
Píndaro cinco vezes seguidas. Num hábil discurso de derrota, dizem que Píndaro
a chamou de porca. Em uma outra ocasião, depois de ler a imagem retórica
incrustada de mitos de seu rival, Corina gentilmente sugeriu: “Tente semear com
a mão, não com o saco”. Os fragmentos que restam de seu trabalho têm um tom
límpido e melancólico – neles não encontramos versos sufocados por mitos.
Em
torno de 300 a.C., Anite de Tegea, no sul da Grécia, era admirada pelos seus
encantadores epigramas e epitáfios para animais. O mais importante é que ela
pode ter sido a primeira pessoa a transformar as glórias da natureza em poesia.
A fama de Anite a tornou heroína de uma estranha história, que ainda era
contada quinhentos anos mais tarde. Ela conta que num sonho, Esculápio, o deus
da cura, ordenou que Anite entregasse uma mensagem interurbana a um homem
chamado Falásio, que estava ficando cego. Ao acordar, ela encontrou uma
tabuinha de cera lacrada ao lado de sua cama, fez uma viagem por mar e procurou
o homem (na sua época não se ignoravam sonhos ou presságios, especialmente se
eles tinham alguma coisa a ver com deuses). Abrindo a tabuinha. Falásio, agora
com a visão total em ambas as vistas, leu a mensagem que o instruía a doar a
Anite 2.000 estáteres de ouro por ter sido uma Boa Samaritana. Delirante de
alegria com sua visão, ele cobriu a garota de ouro e construiu um santuário no
local. Anite voltou para casa para escrever.
Poeta
obsessiva, influenciada pelo movimento literário na ilha de Cós, Erina de Telos
viveu somente dezenove anos. Ela escreveu poesias líricas, epigramas e um poema
de trezentas linhas chamado “A herdeira”, sobre suas lembranças da infância de
uma amiga cuja morte prematura ela lamenta; pouco restou deste poema e de
outros. Erina recebeu altos elogios de outros poetas da antiguidade. As
escritas sobre ela demonstram claramente que sua reputação era baseada em
mérito. Talvez apareçam mais trabalhos de Erina, para que possamos nós mesmos
ler e apreciar.
Agnodice
A médica que revolucionou Atenas
No século IV a.C, Atenas era um tédio para matronas
bem-nascidas. Só as mulheres estrangeiras, cortesãs, ou do tipo aristocrática
excêntrica que não dá a mínima bola para convenções, podiam se misturar ao
círculo social. Agnodice tinha sua própria estratégia – ela adotou vestimentas
masculinas para se tornar uma médica, participando de palestras médicas e se
especializando em ginecologia. Como as pessoas no tempo de Agnodice eram
sensíveis em relação ao pudor, ninguém imaginaria que uma
ginecologista-obstetra monopolizaria o mercado. E estaria certo. Logo ela
despertou a inveja dos outros médicos. Previsivelmente, eles a arrastaram para
a corte a fim de responder a acusações de ordem moral. Agnodice teve de
fornecer ao juiz uma vista rápida de seu próprio aparelho ginecológico, e em
consequência os queixosos lhe deram uma chave de braço, acusando-a de praticar
uma profissão circunscrita aos homens. Agnodice enfrentou a nova acusação e foi
absolvida. Os atenienses morderam seus lábios e finalmente mudaram a lei,
abrindo a porta para outras mulheres médicas.
- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da
Antiguidade vai falar de “TARGÉLIA & AS SUAS COMPANHEIRAS NAMORADEIRAS”.
Vamos falar de Targélia de Mileto, a mulher que conseguiu casar-se quatorze
vezes; Gnateana, comediante de prostitutas; Pitionice, que era a paixão de um
general grego, Harpalo, que havia desviado uma fortuna de Alexandre, o Grande;
e Leaina, uma cortesã ateniense amante de Aristogíton.
– Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”,
título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de
Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.
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