Aracaju/Se,

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Mulheres da Antiguidade - "J"

Isto é história
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
“J”

Vicki León
 
Tudo o que diz respeito a ela é provocante: sua ironia e compreensão da psicologia humana; seu sexo; sua identidade, conhecida apenas como “J” (soa até como uma mulher audaciosa do programa de proteção às testemunhas); e seus feitos literários, que a fizeram a autora inicial do primeiro dos três livros do Velho Testamento: Gênese, Êxodo e Números. “J” não é exatamente uma palavra familiar – ou letra – ainda. Sua história começou em nosso século, quando arqueólogos e estudiosos eruditos encontraram manuscritos muito antigos das Escrituras Sagradas hebraicas e as classificaram por antiguidade e autor ou editor, sendo “J” a primeira autora, seguida de “E”, “P”, e “R”.
 
O ilustre autor e estudioso do assunto Harold Bloom considera hipoteticamente que a Srta. “J” viveu em Israel na metade do século X a.C., uma era dourada da literatura, durante os reinados de Salomão e de seu filho Roboão. Descendente de família real ou nobre, como sua educação sugere, “J” atuava abertamente como escritora, trocando confidências e dados com um colega, que era provavelmente o historiador da corte. A narrativa picante deste seu colega sobre Davi e Betsabé aparece no segundo livro de Samuel; assim como sua amigável rival, ele a redigiu numa escrita fenícia-hebraica antiga.
 
“J” escreveu seus trabalhos seis séculos antes da grande obra hoje conhecida como Velho Testamento tomar forma. Intercalando uma variedade de autores de épocas diferentes, o Velho Testamento (e seu equivalente Judeu, o Pentateuco) foi reconfigurado por editores através dos séculos, os quais adicionaram, omitiram, misturaram e traduziram com anotações e graus de precisão variados. Às vezes, aparentemente assoberbado com tal tarefa, um determinado editor jogava a toalha – é por isso que se vê mais de uma versão de um certo episódio.
 
Em vez de ser considerada uma escritora religiosa pelo estudioso Bloom, “J” é vista por ele como uma autora de virtuosismo sofisticado, cujos altos índices de talentos para caracterização fizeram com que suas histórias sobre Moisés e as fortes figuras femininas da Bíblia, como Tamara e Rebeca, fossem inesquecíveis. Mas “J” estava fadada a encontrar aquela ruína de todos os escritores, o editor (ou possivelmente editores) do inferno, que revisaram e mais tarde enterraram seu trabalho num molde de versões mais pias e aceitáveis. Seu retrato de Deus – chamado Javé em sua versão – era constrangedoramente irônico. Como Bloom disse, “o esperto Javé de “J” aparece inicialmente como um fomentador de discórdias e evolui para um líder intensamente nervoso de uma turba indisciplinada de nômades do deserto”.
 
Antes que você dispense “J” como uma fantasia da imaginação de um estudioso, dê uma espiada no Livro de J, um livro maravilhoso que expande a mente e cuja tradução por David Rosenberg preserva muito do jogo de palavras e do tempero shakespeariano com que J” escrevia.
A autora
Vicki Leon
 

- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da Antiguidade vai falar de “JEZABEL”, rainha fenícia de Israel, cujo nome passou a representar os epítetos de “Superprostituta”, sem-vergonha e sacrílega.

- Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”, título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.

- Todas As imagens foram extraídas do Google.


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