segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
Avenida Paulista
Artigo pessoal
Avenida
Paulista
Clóvis
Barbosa
O professor Norberto Bobbio escreveu um
pequeno opúsculo, chamado “O Futuro da Democracia – Uma defesa das regras do
jogo”, onde ele alerta que o respeito às normas e às instituições da democracia
é o primeiro e mais importante passo para a renovação progressiva da sociedade,
inclusive em direção a uma possível reorganização socialista. O respeito a quem
não pensa como nós, a quem não compartilha dos mesmos propósitos, é conditio sine qua non para começar a pensar
democraticamente. A democracia não é o progresso de alguns em detrimento a outros, mas o de todos com ajuda de todos.
Sabe-se que a democracia é um regime por realizar-se. Não está acabado. Afinal,
nós, brasileiros, após a República, não tivemos tempo de emplacar o modelo por
muito tempo. Os períodos autoritários representados pelo Estado novo e pela
ditadura militar obstaram qualquer possibilidade de avanço. Tudo bem que a
democracia, do ponto de vista filosófico, para além de ser uma forma de governo
é a procura da vida em comum. Mas, se é assim, é bom saber e entender que
nossas atitudes não podem ferir ou ofender o próximo por qualquer motivo.
Aliás, já se disse que uma sociedade democrática, paradoxalmente, é “uma
sociedade de iguais que são diferentes”. Por outro lado, frise-se, com letras
garrafais, que não se quer aqui cercear o direito de greve, mas ele não é
incompatível com o respeito ao direito de outrem. Daí porque é interessante
conhecer um espaço de quase 3 km que se tornou um dos pontos mais
característicos da cidade de São Paulo: a Avenida Paulista. Confesso que adoro
percorrê-la de cabo a rabo, indo pelo lado direito e voltando pelo esquerdo.
Nas idas e vindas, adentrando as livrarias, a Martins Freitas e a Cultura. Indo
ao MASP, passando pelo Parque Trianon: em plena selva de pedra surge uma área
verde remanescente da Mata Atlântica, que resplandece, dando um glamour sem igual à artéria.
Sigo
adiante. Conjunto Nacional, prédio da FIESP, Instituto Pasteur, Casa das Rosas,
Hospital Santa Catarina, bancos, restaurantes, consulados da África do Sul,
Argentina, Líbano, Mônaco, Japão, Suíça, República Dominicana, Síria, Itália,
França e outros países, hotéis, Colégios, as estações metroviárias da
Consolação, do Trianon-MASP, do Brigadeiro Luiz Antônio, e o vai-e-vem
constante de pessoas, pelos seus calçadões formatados por um desenho preto e
branco. A minha relação com a Avenida Paulista desta vez foi diferente. Quis
conhecê-la a noite. O vai-e-vem de pessoas não pára e adentra a madrugada. Guetos
são formados por toda a avenida. Grupos de rock, cantores de rua, músicos,
boêmios, mendigos, garotos de programa, prostitutas, travestis, casais
apaixonados, heterossexuais ou homossexuais, os bares sempre cheios. O calçadão
do Banco Safra reúne gente de todos os lugares. Faz frio. De repente,
preguiçosamente, o dia amanhece e nova paisagem surge. É domingo. Uma feira de
antiguidades é montada no vão livre do Museu de Arte de São Paulo, o MASP. Os
ciclistas começam a surgir pelo canteiro central entre a Bela Cintra e a Rua da
Consolação. Pedalam lentamente vivenciando a poesia que encerra o logradouro
ícone de um povo. São Paulo é uma cidade fascinante. Qualquer evento, marcado
para qualquer hora do dia ou da noite tem público. Lembro-me da presença da
nossa Orquestra Sinfônica no espaço da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo, a FIESP, em 2008, em plena Avenida Paulista. O espetáculo estava
marcado para o meio-dia de um domingo. Auditório repleto. Ingressos esgotados e
muita gente de fora pleiteando uma nova apresentação. A democracia vive
extenuamente na Avenida Paulista com todas as tribos perfilando e se
respeitando. Os espaços são ocupados sem a necessidade de prejudicar o outro. O
fascínio da Avenida Paulista é justamente pela forma plural que recebe a todos.
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Publicado no Jornal da Cidade,
Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 15 e 16 de maio de 2013, Caderno
A-7.
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Postado no Blog Primeira Mão,
Aracaju-SE, em 13 de maio de 2013, segunda-feira, às 00:39:09 –
http://www.primeiramao.blog.br/post.aspx?id=5688&t=avenida-paulista
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Somente um deslumbrado de terras alhures e subdesenvolvidas seria capaz de tamanha carga reacionária contra movimentos criados na terra da garoa. Não fosse Sampa, o chicote (que talvez lhe agrade sobremaneira, pelo lugar de onde vem) correria solto e as greves nunca ocorreriam. Já há bastantes representantes da burguesia bem feita de S. Paulo, balofa e arrogantemente egoísta e por isso, não precisa a cidade de mais gente assim, desta com sotaque macio das brisas do atlântico norte. Caetano ao menos foi elegante, o que não se pode dizer de vossa prepotência.
ResponderExcluirO que fala mal das terras alheias é muito reacionário. cada um com a sua cultura e o seu modo de viver. São Paulo foi construída com o trabalho de nordestinos. Discordar de qualquer opinião emitida é salutar, porém simplesmente condenar o ato de reflexão sobre determinado assunto, sim, é falta de decência intelectual, arrogante e reacionário. leia sobre o direito de livre expressão. Voltaire, por exemplo. (Alberto Magalhães)
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