domingo, 26 de julho de 2015
Carta de Caribe (IV) - De Varadero a Bayahibe
Artigo pessoal
Carta do Caribe (IV)
De Varadero a Bayahibe
Clóvis Barbosa
Encerro aqui as minhas cartas do Caribe depois de uma viagem de
dezesseis dias por Cuba, Panamá e República Dominicana. Esta foi a segunda vez
que estive por essas lindas paragens onde a natureza foi bastante pródiga. A
primeira vez estive na Venezuela e República Dominicana. Confesso que gosto de
observar a vida comportamental de um povo, seu dia-a-dia. Gosto de conversar. Nessa
jornada, registrei algumas curiosidades interessantes:
PANAMÁ
O Panamá não é um país caribenho. Ele está situado na América Central
Continental. O mar do Caribe está localizado ao norte, mas o seu aeroporto,
estrategicamente localizado, é a porta de entrada dos passageiros do mundo
inteiro que tem como destino os países das Américas, norte, sul e Central e,
obviamente, o Caribe. Viajei de Santo Domingo à Cidade do Panamá e daí para
Havana. Ao desembarcar no aeroporto panamenho estava um pouco preocupado, pois
não tinha dado tempo de providenciar o visto de entrada em Havana. O portão de
embarque distava mais ou menos uns 800 metros. Resolvida a questão do visto
fiquei aguardando a chamada do voo, quando, repentinamente, centenas de
passageiros começaram a dançar em volta de uma lanchonete. A coreografia era
perfeita com todos dançando num mesmo ritmo e trejeitos. Curioso, aproximei-me
do local e lá pude ver na televisão o cantor brasileiro Michel Teló cantando “Ai
se eu te pego”: Nossa, nossa/Assim você me mata/Ai, se eu te
pego,/Ai, ai, se eu te pego/Delícia, delícia/Assim você me mata/Ai, se eu te
pego/ Ai, ai, se eu te pego. /Sábado na balada/A
galera começou a dançar/E passou a menina mais linda/Tomei coragem e comecei a
falar/Nossa, nossa/Assim você me mata/Ai, se eu te pego/Ai, ai se eu te pego/Delícia,
delicia/Assim você me mata/Ai, se eu te pego/Ai, ai, se eu te pego. Claro que eu conhecia a música, mas nunca lhe
dei atenção. A verdade é que ao ouvi-la no aeroporto do Panamá, num coro de
mais de 100 pessoas, dançando e cantando em português, fiquei emocionado e
ensaiei alguns passos. Embarquei para Havana. No meu retorno de Cuba, no mesmo
aeroporto, ao ter acesso ao telefone, whatsApp,
twitter, internet, tive a sensação de ter retornado à civilização.
CUBA
Cuba é a maior ilha do Caribe. Foi descoberta com a chegada
de Cristóvão Colombo em 1492, que a batizou com o nome de Juana, em homenagem a
uma das filhas do rei da Espanha. Claro que o nome não vingou. O puxa-saquismo
de Colombo não prevaleceu. Único país socialista das Américas e um dos poucos
do mundo que ainda sobrevive. O mar de águas azuis e cristalinas faz da maior
ilha caribenha um dos pontos turísticos mais visitados do mundo. Um dos seus maiores
problemas é o acesso à internet. Além
de caro, dificilmente você consegue navegar. Varadero, a 145 km de Havana é um
dos seus maiores balneários. Luxuosos Resorts e hotéis circundam os 19 km de
praia do mar atlântico. Fui com dois amigos almoçar num lugar paradisíaco de
Varadero, a Mansión Xanadú, situada
na Carretera Las Morias. O local, no topo de um rochedo, foi a mansão onde
morou o bilionário americano Alfred Irénee DuPont, ex-dono de quase toda
Varadero na década de 1920. Pra variar, o restaurante pertencia ao governo
cubano e, depois de lauto almoço, pedimos a conta. Em Cuba os funcionários
estatais fazem tudo para não receber cartões e, para isso, inventam todo tipo
de desculpa. Querem receber sempre em CUC, a moeda conversível e usada pelos
estrangeiros, ou em euros. Fomos obrigados a pagar em moeda. Hospedei-me no Mercure Cuatro Palmas Varadero, um
resort em decadência apesar de se situar numas das praias mais bonitas do
local. Ao ver o número de bagagem que retiramos do nosso veículo, o maleiro do
hotel simplesmente sumiu. Tivemos que subir dois andares com as malas na
cabeça, isto após esperarmos por mais de uma hora a presença do funcionário
(estatal) do hotel. Quando fechamos a conta, mais uma vez o maleiro desapareceu.
Claro, transportamos a bagagem de volta. No retorno a Havana, tivemos a oportunidade
de dar várias caronas. Primeiro, uma campesina, duas professoras de escola
rural acompanhada de três crianças e um jovem. Travamos um bom diálogo com
todos esses personagens. Em Havana, converso com Iuna, uma jovem recepcionista de um
hotel. Ela diz: Tenho um sonho. Conhecer
o carnaval do Brasil, especialmente o do Rio de Janeiro. Daria tudo para
conhecer um desfile de escola de samba. Mas não posso. O que ganho mal dá para
minha sobrevivência. Pergunto-lhe: Você
ama o seu país? Ela enche o peito de ar, e diz: muito! Muito! Muito!
REPÚBLICA DOMINICANA
A história diz que
Colombo desembarcou na Ilha de Hispaniola,
área repartida hoje entre o Haiti e a República Dominicana. Desembarco no
Aeropuerto Las Américas. Tá lá escrito: Santo
Domingo Ciudad Primada de América. Uma multidão encontra-se no local. Não,
não era pra me receber, o motivo era a chegada da Seleção Masculina de
Basquetebol da Republica Dominicana que havia se classificado para as
Olimpíadas. Alugo um carro e sigo para Bayahibe, a 142 km da Capital, Santo
Domingo. Ela é uma espécie de distrito de La
Romana. É uma região cheia de Resorts,
cada um mais suntuoso do que outro. Os mais caros condomínios estão ali
localizados. Num deles, foi construído uma espécie de coliseu romano que, segundo
quem conhece, é muito mais bonito do que o original. Fica situado no meio de
mansões onde pessoas famosas costumam passar as suas horas de lazer. Ali perto,
fica um dos lugares mais bonitos do Caribe, Boca de Yuma. Fica na cidadezinha
de San Rafael de Yuma, distrito de Higuey. Lembram-se da famosa cabeçada
acertada pelo craque francês Zinedine Zidane no peito do zagueiro italiano
Marco Materazzi no final da Copa de 2006? Pois bem, o Materazzi montou com um
sócio um Resort em Boca Yuma. Tem até
estátua em homenagem ao craque italiano. O local, hoje, está totalmente
abandonado, parecendo mais uma cidade cemitério. Apesar disso e do lixo que
tomou conta da pequena aldeia, é ali que o Atlântico se encontra com o mar do
Caribe, num dos cenários mais bonitos para os olhos. Fica entre Bayahibe e
Punta Cana, outro balneário dominado por Resorts
luxuosos. Embora fosse a todos esses lugares, o meu domicílio era Bayahibe. Ali
fiquei alguns dias, fiz amigos, corri e conheci um pouco do modus vivendi. Dois voos da Itália
desembarcam semanalmente no aeroporto de La Romana com destino a Bayahibe.
Ocupam os diversos hotéis do local. Não sei se a Europa está passando uma fase
ruim de homens, mas a verdade é que as mulheres italianas procuram se divertir
com os nativos. Há uma espécie de garotos de programa, ali chamados de “Sanky
panky”, que são “paus pra toda obra”. Desde que recebam alguns dólares ou
euros, topam qualquer parada com qualquer tipo de mulher. Muitas italianas
formaram famílias com nativos dominicanos, outras os levaram para a Europa.
Bayahibe é assim, é plural, universal e, sobretudo, um paraíso. Em Bayahibe
vive uma parte de mim.
- Publicado no Jornal
da Cidade, Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 10 e 11 de
novembro de 2013, Caderno A-7.
- Postado no Blog Primeira Mão no domingo, 10 de novembro de 2013, às 16h33min,
sítio: http://www.primeiramao.blog.br/post.aspx?id=6554&t=carta-do-caribe-(iv)------de-varadero-a-bayahibe
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Muito bom!!!!
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