segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
Tipos Populares de Aracaju - Coronel Andrade
Isto é História
Aracaju Romântica que Vi e Vivi
Tipos Populares
Coronel Andrade
Murillo
Melins
Francisco
de Souza Andrade, o popular Coronel Andrade, nascido em Tobias Barreto, desde
cedo demonstrou tendência incomum para vida comercial. Durante sua mocidade, em
sua terra natal, administrou com sucesso grandes casas comerciais. Em 1906
transferiu-se para a cidade de Itabuna, onde se dedicou à cultura do cacau na
Fazenda denominada “Probidade”. Já como exportador de cacau, adquiriu outras propriedades
rurais. Em
1914, era dono de uma apreciável fortuna e proprietário de inúmeros imóveis em
Salvador. Em
1915, foi nomeado Coronel Comandante de Cavalaria da 85 Brigada, pela
Secretaria do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado da Bahia, através
Decreto de 25 de fevereiro de 1914. Em
1930, já residindo em Aracaju, casou-se com D. Anita Barbosa, que foi sua
inseparável companheira até o fim de sua vida.
Prosseguindo
sua marcha de trabalho, encontramos o empresário, em 1942, fundando na rua
Santa Luzia, nº 782, anexo a sua residência, a casa comercial para a compra e
venda de objetos antigos, mercadorias usadas. Paralelamente, entrou no mercado
imobiliário, comprando e vendendo casas, terrenos, e implantando diversos
loteamentos populares, vendendo lotes à prestação e material de construção,
para que pessoas carentes pudessem ter suas casas próprias. O Coronel, dizia
com numa ponta de orgulho: “Tenho como lema: fazer o bem, sem olhar a quem”. Foi
proprietário de prédios importantes, como o bonito “Prédio Pernambucano” e do
maior e mais famoso, o “Edifício Vaticano”. Portanto,
O Coronel Andrade foi pioneiro como antiquário, ao vender móveis antigos,
joias, pratarias, candelabros, cristais, tapetes e uma infinidade de raridades aos
colecionadores sergipanos. Pioneiro também no comércio de ferro-velho,
comprando e vendendo, desde o mais simples dos objetos, como agulha usada para vitrola, pedaços de bicicletas, pneus
usados, válvulas de rádio (queimadas) e, pasmem os senhores, até avião.
Em
uma manhã chuvosa do ano de 1949, caiu no rio do Sal, próximo à pista de pouso
do antigo Campo de Aviação, um Douglas DC-3 de passageiros das Linhas Aéreas
Paulista (LAP), que vitimou o governador do Rio Grande do Norte, o Sr. Dipt
Sept Rosado, e mais 28 pessoas. Depois que a cidade se refez da comoção, que o
acidente causou, o Coronel Andrade propôs à Companhia a compra do avião
sinistrado. Feitas as negociações, em poucos dias já se encontravam no quintal
da loja a fuselagem, asas, inclusive a cabine dos pilotos. Só não estavam ali
os motores, por terem ficados submersos no rio, mas tentativas foram feitas
para recuperá-los. Lembro-me
da figura simpática do Coronel, confortavelmente sentado em sua cadeira de
balanço, tratando de negócios com os seus muitos clientes, atendendo a todos,
com distinção e paciência, ou conversando com amigos, que muitas vezes iam
tomar conselhos ou trocar ideias sobre negócios, pois o Coronel Andrade era
famoso pela sua astúcia e tino comercial aguçado. Apesar da fama de comerciante
ladino, contava ele, rindo, que fora enganado por diversas vezes.
Dentre
elas, o caso do “pó de Serra”, e o das “válvulas queimadas”, que se deu da
seguinte maneira: certo dia, apresentou-se ao Coronel um indivíduo alinhado, e
bem falante, exibindo um vistoso cartão de visita, com nome e endereço de uma
indústria, sediada em Recife, e que ele ali estava a representar. Após as
apresentações, o visitante foi direto ao assunto: “Nossa empresa, usando nova
tecnologia americana, está transformando as imprestáveis válvulas queimadas dos
rádios em ‘válvulas novas’. Propomos ao senhor, por tratar-se de um comerciante
sério, que seja o nosso fornecedor em Aracaju. Caso aceite a proposta,
pagaremos por cada válvula queimada a importância de cinquenta centavos”. Feito
o acordo, ao despedir-se, o jovem representante disse: “Dentro de 20 dias
voltarei a Aracaju para recolher as válvulas estocadas e efetuar o pagamento ao
senhor”.
Dias
depois, chegava à casa do Coronel um senhor conhecido como Brasil, levando um
grande carregamento de válvulas queimadas, e contando a seguinte história: “Há
algum tempo, eu e meus filhos víamos recolhendo carcaças de rádios das portas
das oficinas. A parte de metal eu vendo, mas essas válvulas de vidros nós
jogamos no quintal. Soube por um vizinho que o Coronel está comprando válvula
usada e eu trouxe para vender ao senhor”. O Coronel não hesitou, e disse: “pago
20 centavos cada”. Comprou
e pagou o primeiro carregamento, dias depois o segundo, e nunca mais Brasil
apareceu, e muito menos o representante da “firma” de Recife, que era seu
comparsa. Como lembrança do mal negócio, apenas, no fundo do quintal, ficou
aquele monte de válvulas imprestáveis.
Colégio Salesiano Aracaju
Coronel
Andrade, homem sério e respeitável. Devido a suas ações, seu pioneirismo, tino
comercial, foi um dos tipos populares mais interessantes de Aracaju e, que
devido a muitos fatos pitorescos que contam, ou servindo de paradigma para
pessoas afeitas a “trocas”, ele hoje faz parte do folclore sergipano.
O autor
Murillo Melins
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A próxima postagem você vai conhecer SANTOS MENDONÇA, considerado um homem de
sete instrumentos. Foi goleiro de clube de futebol, jogador de basquete,
bancário, speeker, radialista, ator, comerciante, proprietário de cinema,
radioamador, vereador e deputado. Um de seus programas no rádio sergipano e que
era campeão em audiência era “Calendário”, quer ia ao ar às 20 horas na Rádio
Liberdade.
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Do livro “Aracaju Romântica que vi e vivi”, de Murillo Melins, 4ª. Edição,
2011, Gráfica J. Andrade.
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As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google.
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