Aracaju/Se,

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Tipos Populares de Aracaju - BISSEXTINO


Isto é História

Aracaju Romântica que Vi e Vivi
Tipos Populares
BISSEXTINO
Murillo Melins
Bissextino
Alberto Horácio Bissextino de Carvalho Teles nasceu em uma data que pouca gente tem privilégio de vir ao mundo: 29 de fevereiro. Ele só faz aniversário de quatro em quatro anos, levando assim a vantagem de ser em idade mais jovem que os seus contemporâneos. Amigo de muitas décadas, desde estudante, já naquele tempo demonstrava suas aptidões e tendências para a música, tocando caixa na banda marcial do colégio. A dupla Bissextino e Romeu Boto durante as paradas estudantis e de 7 de setembro, era um show à parte, com seus rufos e repiques, chamando a atenção de veteranos percussionistas e mestres de bandas musicais, como o da Polícia Militar e do Exército Brasileiro. Em uma noite, ainda quando a Rádio Aperipê dava os seus primeiros passos como pioneira na radiodifusão de Sergipe, Bissextino, atraído por vozes dos locutores e pelas músicas vindas do primeiro andar do prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, subiu a escada e deparou-se com um mundo novo, que despertou nele um sentimento diferente. Sentou-se, ouviu a programação, apaixonou-se e após alguns dias estava naquele auditório imitando trompete, tocando pandeiro e bateria, cantando samba, tornando-se um artista do cast da Rádio Aperipê. 
Bissextino e amigos
Como bem disse Mário Sérgio, em uma de suas crônicas: “E daí por diante não mais bebe de outra (cachaça), só quer rádio engarrafado”. Logo estava ele cantando seus sambas de breque, acompanhado por Pinduca, mago do teclado. O inimitável Príncipe do Samba foi o cantor sergipano que mais teve adjetivos, como Caricaturista do Samba, Maioral do Samba, etc. Bissextino venceu como poucos sabem vencer, vive bem com todo mundo, chama todo mundo de artista. É o melhor baterista e também canta samba de breque. Outro cronista, Nino Guimarães, depois de assistir a uma audição de Bissextino, o cognominou de “O cantor que a cidade quer bem. É magro, usa bigodinho e anda tipo gangorra, gingando como um cordão carnavalesco de cá pra lá ou de lá pra cá, como queiram. Se você quiser conhecer um grande sujeito, conheça Alberto Horácio Bissextino de Carvalho Teles, ou simplesmente Bissextino, o inimitável”. Alfredo Gomes, inteligente locutor e diretor artístico da Rádio Difusora de Sergipe, vinha organizando boas audições no microfone da PRJ-6, apresentando os melhores artistas como Guaracy Leite França, Raimundo Silva, Pinduca, Neuza Paes e Bissextino, nos programas “Conversas de Namorados” e “Quem é o Bobo”.
Resultado de imagem para rádio aperipê am 630 aracaju sergipe
Bissextino fez parte, tocando bateria, do homogêneo grupo musical Trio Serenade, composto por Pinduca ao piano e Joãozinho no sax alto. A música do Brasil para o Brasil Ouvir era o título de uma grandiosa audição, programa que diariamente era ouvido através da onda da Rádio Difusora de Sergipe, em 1944, sob o comando dos locutores Alfredo Gomes, Raimundo Silva e João Ribeiro do Bonfim. A parte musical desse programa estava afeto a Bissextino, Dão, Guaracy e Neuza Paes. O caricaturista do Samba algumas vezes excursionou para Salvador com o locutor e amigo Alfredo Gomes, conforme registros em jornais da Boa Terra: - Em 1944, Pinduca, Joãozinho e Bissextino, componentes do famoso Trio Serenade, do qual se fala, realizaram uma pequena temporada entre nós. Com tal acontecimento, muitos lucraram, principalmente adeptos dos ritmos americanos; - No mesmo ano, a Orquestra de Lauro Paiva apresentou o notável sambista de breque, Bissextino, do rádio sergipano. Em 20 de outubro, os ouvintes da emissora do Passeio Público tiveram um agradável quarto de hora com Bissextino, renomado intérprete de melodias populares e que faria alguns programas na faixa sonora da PRA-4; - Ainda em 1944, para divertir soldados do ar e da Força Expedicionária Brasileira, na Base de Ipitanga, houve um “big show” com a colaboração de Genny Laster, Carmélia Alves, Bissextino, Milton Gaúcho, Salomé Parízio e Silvino Neto.
Resultado de imagem para joão gilberto
João Gilberto
Certa ocasião, Nelson Mota, especial da Folha, em Nova York, entrevistando João Gilberto, conta que ele falou textualmente: “Com toda turma fardada, fomos uma quarta-feira ao Teatro Rio Branco. Na entrada do teatro havia uma placa. Aqui cantou Bidu Sayão”. Adiante, diz o cantor João Gilberto: “Assim como pouco depois, lembrou de uma visita que o colégio em que estudava à Rádio Aperipê, PRJ-6 de Aracaju, onde ouvi fascinado um cantor de samba de breque, chamado esdruxulamente de Bissextino, uma ótima cantora, Guaracy Leite, e especialmente um conjunto vocal liderado por Raimundo Santos e os Vocalistas Juvenis”. No fim da década de 40, após o fim da 2ª. Guerra Mundial, além das pequenas orquestras e conjuntos que animavam nossa cidade, surgiu a Pinduca e sua Rádio Orquestra, comandada por um rapaz vindo de Propriá, que estudava piano com seu genitor. Luiz, depois de tocar na Rádio Aperipê, nos clubes e, principalmente, no Clube Sergipe, com o mestre Licurga, resolveu formar uma orquestra. Convocou os melhores músicos da banda do Exército e da Polícia e alguns paisanos. Bissextino foi o escolhido para tocar bateria. A partir daí o imitador de trompete, cantor de samba de breque e pandeirista, apaixonou-se pelo instrumento. Após muito sucesso, a Pinduca e sua Rádio Orquestra se desfez. Pinduca e outros músicos procuraram Salvador, Rio e São Paulo. Bissextino ficou em Aracaju trabalhando em outras atividades.
Resultado de imagem para tabaris night club salvador
Dançarina do Tabaris Night Club de Salvador
Mas ele não aguentou por muito tempo ficar sem tocar. Deixou a vida folgada e confortável, admirado por todos e foi para Salvador, morar na pensão de Joventino, na Rua Carlos Gomes,63, vizinha à Rádio Sociedade. Era uma pensão agradável, no centro da cidade, onde morava, em sua maioria, acadêmicos e músicos. Ali, conheceu Venâncio e Corumba, o pianista paraense Sinézio de Farias, o trompetista Mozart, O Pachá, que tocavam no Cassino Tabarís, na orquestra de Netinho. Bissextino, já conhecido no meio artístico da Boa Terra, não teve dificuldade em arranjar emprego. Tocava na PRA-4 e foi contratado pelo mais luxuoso dancing, O Rumba Dancing. O baterista mais famoso de Salvador era o da banda de Netinho, o músico conhecido por Cuíca.
Resultado de imagem para orquestra do tabaris salvador
Propaganda do Tabaris em Salvador
Certa tarde, eu e Bissextino, a convite de Mozart, fomos assistir ao ensaio da Orquestra do Tabarís que iria acompanhar o grande sambista Roberto Silva. Na hora aprazada do ensaio, o baterista não chegou, Após a espera de uma hora, o cantor, já impaciente, disse que não iria mais esperar. Mozart falou a Netinho: - aqui está um baterista que toca no Rumba. Netinho não vacilou. Chamou Bissextino que, meio desconfiado, sentou-se à bateria. Deu uma verdadeira aula. Entre uma parada e outra, os músicos o cumprimentavam, tecendo os maiores elogios. Quando ia terminar o ensaio, o Cuíca chegou e, ouvindo as palavras de elogio ao seu concorrente, ficou muito contrariado, desculpando-se pelo atraso. Depois de algum tempo de sucesso em Salvador, Bissextino voltou a Aracaju, pendurou as baquetas e viveu feliz ao lado de sua esposa Emília, a companheira dedicada que o cercou de carinho até os seus últimos dias de vida, como a Emília do Samba que ele sempre cantava.       

O autor
Murillo Melins
Resultado de imagem para murillo melins
   
-  Na próxima postagem você vai conhecer HILTON LOPES, um músico que teve uma participação durante décadas no mundo musical aracajuano, seja no rádio, seja na televisão.
- Do livro “Aracaju Romântica que vi e vivi”, de Murillo Melins, 4ª. Edição, 2011, Gráfica J. Andrade.
- As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google. 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...