Aracaju/Se,

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mulheres da Antiguidade - ESTER

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
ESTER
Vicki León

Em aproximadamente 460 a.C., numa procura mundial por uma estrela que fosse virgem e tivesse a aparência de uma garota de capa de revista, para o rei Artaxerxes da Pérsia, o nome de Ester (que significa “estrela”) ficou em evidência. Era destino? Não, era Hollywood: seu verdadeiro nome era Myrtle. Myrt vivia com seu tio Morty em Susa; ambos eram parte da população judia que permaneceu na Pérsia após o exilio. Os criadores de estrelas passaram meses lubrificando Ester com mirra e outros óleos, o ritual de purificação normal, enquanto Morty aconselhava: “Sorria, e, pelo amor de Deus, não diga a ele que você é judia”.

Finalmente ela fez uma audição para o rei, que gostou do que viu, e, bingo, ela conseguiu o papel... finalmente (A Bíblia diz que ela só recebeu a aliança depois de sete anos). A despeito nos novos laços familiares, Morty entrou numa briga com Haman, o braço direito do rei, que decidiu se livrar desse novo-rico e também de sua tribo. Usando selo real, Haman publicou uma ordem falsa para que todos os judeus fossem destruídos numa certa data. Um Morty aterrorizado pediu o apoio de Ester para influenciar seu homem; ela ficou jogando conversa fora, até que ele disse: “Estrela ou não, você não vai escapar, só porque você está numa casa de luxo, Myrtle”.

Enquanto isso, Haman tratou de levar adiante seu holocausto particular, Morty sendo o item número um, e construiu uma forca gigantesca. Entretanto, naquela noite, o rei teve insônia e, para se curar, resolveu ler um livro de registros dos arquivos da corte. Encontrando uma boa ação anterior de Morty, o rei perguntou: “O que demos ao velho por sua lealdade?” e lhe disseram: “Nada”. Como sempre, Haman estava andando pelo palácio, assim o rei lhe disse: “O que devo dar a um sujeito que eu quero realmente homenagear?”

Com um sorriso pretensioso, Haman disse rapidamente: “Ora, umas roupas bonitas, uma coroa, uma marcha triunfal...”  - “Pois faça isso”, disse o rei, ordenando que ele desse tudo isso a Morty, o que deixou Haman num humor realmente abominável. Enquanto isso, Ester andava ocupada, morrendo de preocupação com o destino dos judeus e organizando um jantar íntimo para Haman e o rei. Eles vieram, e o rei, sentindo-se bem-humorado, ofereceu-se para conceder qualquer desejo que ela tivesse. Ester juntou a sua coragem e disse: “Se meu desejo vai ser concedido, então por favor poupe minha vida e a do meu povo – porque estamos a ponto de entrar pelo cano por causa desse demônio”, e apontou para Haman. Sua revelação (“você é judia”) deixou o rei alucinado, e ele saiu andando a passos largos para o jardim. Haman aproveitou a oportunidade para implorar a Ester por sua vida, jogando-se no sofá da rainha para isso. O rei voltou e ficou ainda mais aborrecido, especialmente porque Haman parecia estar se jogando em cima de Ester. Como uma forca estava conveniente, embora inexplicavelmente, à mão, Haman se tornou seu primeiro freguês.

Mais tarde, naquele dia, tio Morty foi promovido ao cargo de braço direito do rei. Em meio à comemoração, Ester lembrou a Artaxerxes que ele não havia cancelado o decreto falsificado de “massacrar os judeus”. “Eu não posso fazer isso”, disse ele. “Mas posso tornar legal que os judeus lutem por suas vidas”. O que ele fez. Quando a poeira do golpe antecipado se acomodou, 75 mil inimigos dos judeus haviam morrido. Ester ficou com a propriedade de Haman, e condenou à morte quinhentos de seus aliados no palácio. Econômica assim como vingativa, ela decidiu-se pelo enforcamento para os dez filhos de Haman (“Por que deixar que uma forca em tão bom estado seja desperdiçada?”).

- No próximo domingo, dia 2 de outubro de 2011, você vai conhecer ROXANE e BARSINE, ambas foram casadas com Alexandre, o Grande. A bigamia não era o problema, mas o poder e a inveja eram. Conheça essa tragédia ocorrida há 2.300 anos.

- Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Llegó Papá

Artigo pessoal

Llegó papá
Clóvis Barbosa

Era tarde. O horizonte visual ainda estava escuro. Dois casais amigos tinham ido num catamarã para a ilha paradisíaca de Saona, a uma hora e meia de Bahyahiba. Estamos na República Dominicana. A tormenta tropical Emily já havia desviado a rota e não era mais perigo para nós, que passamos dois dias na expectativa de sua chegada, debaixo de um grande vendaval. De repente, apressado, apareceu um barco de pescadores carregado de peixes em direção ao pequeno porto da cidade. Ao seu lado, em perene alegria, seguia um bando de gaivotas em revoada, davam vôos rasantes na barcaça como que tentando cortejar com os seus passageiros. Aguardavam as vísceras que seriam o seu principal prato naquela tarde. Voltei à leitura de um livro que havia comprado em Caracas, capital da Venezuela, “Las Memorias de Mama Blanca”, de Teresa de La Parra, escritora venezuelana. Escrito em 1926, o texto estava me comovendo pelo estilo leve, mas de conteúdo melancólico. Quatro dias antes estava em Caracas observando a cidade, o seu povo. A cidade ainda estava em festa comemorando os duzentos anos de sua independência, acontecida em 1811. Visitei a casa onde o libertador viveu com sua mulher Maria Teresa Del Toro e Alaisa, a sua estátua e seus restos mortais na praça que leva o seu nome, o Capitólio Nacional e a Catedral, tudo localizado num conjunto histórico localizado no centro da cidade. Nas ruas, praças e avenidas o libertador Simon Bolivar era o grande homenageado? Fotos e cartazes do libertador andino por toda a cidade? Qual nada, a impressão que se dava era que o grande herói teria sido o presidente Hugo Chávez, atual presidente da República Bolivariana da Venezuela.
“Independência y pátria socialista, viviremos e venceremos” era o lema espalhado em cartazes por todos os lados. A sublimação do ego é a tônica em toda a cidade. Logo ao desembarcar no aeroporto de Maiquetía, uma foto gigantesca de Chavez com jovens toma conta da paisagem. No centro velho, no metrô, no comércio, suas fotos estão por todos os lados, sempre ao lado de atletas, crianças e idosos. Caracas é uma cidade contraditória. Ao lado das suas belezas naturais convivem cinturões de miséria por todos os lados. Está situada entre duas cadeias de montanhas: a cordilheira do litoral, com 2.500 metros de altura, separando Caracas do mar do Caribe, a apenas 20 quilômetros de distância aproximadamente; e as montanhas do interior, com 1.049 metros, que a separam do resto do país. A serra de Ávila, com 2.153 metros domina a cidade ao norte, enquanto o Rio Guaire divide seu setor meridional em duas partes. Não dá para entender o controle cambial imposto por Chavez desde 2003. O dólar é cotado oficialmente nas casas de câmbio em quatro bolivares e meio, entretanto, no câmbio negro, você troca o dólar à razão de sete e meio ou oito bolivares. A troca de moedas é feita abertamente por distribuidores ávidos por dólares na rua, aeroporto, hotéis, lojas, enfim, em qualquer lugar. O transporte coletivo é uma loucura. Apesar do metrô existente, sempre circulando lotado de passageiros, os demais meios de locomoção são representados por marinetes antigas e taxis velhos, autênticas “carroças” na maior acepção do termo criado pelo ex-presidente Collor. Não há qualquer estímulo ao turismo. Quem ali vai, não quer mais voltar.
A Polícia Antidrogas que fica no Aeroporto Internacional não deixa passar uma mala sequer. Toda bagagem de mão é aberta e revistada meticulosamente, o que contribui geralmente com o atraso dos vôos. A principal empresa aérea do país, a Venezolana, não consegue partir nem chegar no horário. No Brasil seria um escândalo! Para se ter idéia, o meu vôo de retorno da Republica Dominicana para Caracas estava marcado para às 17:00 horas. Embarquei exatamente às 01:40 horas da madrugada do dia seguinte. Resultado: perdi a conexão da TAM que me levaria a São Paulo no dia anterior. Mas deixemos a terra de Carlos, o Chacal. Voltemos à República Dominicana, um país que tem uma história de sofrimentos para contar ao mundo: Assim como o Monte Pascoal foi o primeiro ponto no Brasil avistado por Cabral em 1.500, foi também Santo Domingo, hoje sua capital, o primeiro ponto visto por Cristóvão Colombo na América Central, em 1492. Essa também foi a primeira cidade construída pelos europeus na América, no século XV, fundada por Bartolomeu Colombo, irmão do descobridor da América; foi destruída em 1.502 por um ciclone e em 1930 por um furacão; foi invadida pelo corsário inglês Francis Drake em 1586 que esculhambou principalmente com a capital; no século XVII foram os franceses que invadiram a ilha e a dominaram durante um século até serem expulsos por ex-escravos.

Conquistou a sua independência em 1844 depois de renhida guerra civil com os seus vizinhos, o Haiti, dominado pelos franceses; a constante situação de instabilidade do país levou os EUA a ocuparem até o ano de 1924. Ocorre que logo depois o país passou por uma experiência dramática: a ditadura de Rafael Trujillo, que governou o país até 1961, ano em que foi impiedosamente assassinado. É a terra do famoso playboy internacional, Porfírio Rubirosa, que casou e foi amante de várias mulheres ricas e atrizes famosas nas décadas de 1950 e 1960 e morreu num desastre de automóvel na cidade de Paris. Pois bem, o país está passando por um processo pré-eleitoral, cujas eleições para presidente estão marcadas para o primeiro semestre de 2012. Viajando em direção a Punta Canas passando pela cidade de Higuey chamou-me a atenção a propaganda de um dos candidatos, Hipólito Mejia, do Partido Revolucionário Dominicano (PRD), um ex-presidente que governou o país de 2000 a 2004 numa das administrações mais tumultuadas da história, tendo sido acusado de entreguista e lacaio dos EUA. É chamado pelos seus seguidores de “Papá”: Daí ele ter cunhado a frase que é o bordão da sua campanha. “Esto no tiene madre. Llegó papá”. Pelo que eu vi na República Dominicana não acredito que o povo dominicano esteja atrás de outro pai. De “papá” já bastou o ditador sanguinário Trujillo. O país precisa é de dignidade, de uma transformação social radical, de um processo sério de inclusão através de investimentos nas áreas de educação e saúde, de uma política que privilegie a erradicação da pobreza. E pronto.

(**) Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 14 e 15 de agosto de 2011, Caderno A, p. 7.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mulheres da Antiguidade - VASHTI

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
VASHTI
Vicki León

Além de ter o poder absoluto de vida e morte sobre todo ser humano da Índia à Etiópia, o rei "Longímano" Artaxerxes da Pérsia era um sujeito comum. Ele adorava passar o tempo com seus amigos e beber o suave vinho local. Porém, mais do que tudo, ele amava sua mui atraente esposa, Vashti, uma mulher simplesmente estonteante, vinda de uma das sete famílias de sangue mais azul da Pérsia.

Artaxerxes

No terceiro ano de seu reinado, Artaxerxes passou seis meses fazendo uma reunião para exibir o palácio de inverno em Susa e seus chatchkas, aos vasssalos de suas 127 províncias. Terminada as formalidades, ele armou uma tenda para 10 mil pessoas e iniciou um banquete para seus amigos íntimos, no qual o vinho jorrou sem parar naquelas taças de ouro. Depois de uma semana de festas, o Longímano teve uma daquelas idéias que pareciam divertidas na oxasião: ele chamaria sua belíssima esposa e a exibiria. Assim sendo, ele enviou um ou dois eunucos para dar o recado a Vashti.

Ele não havia contado com uma rainha cheia de propósito. Uma aparição ordenada frente a 10 mil bêbados grosseiros era insulto suficiente, mas ela tinha um pressentimento de que o rei queria exibir todos os seus encantos (A lei persa também estava do seu lado; mesmo a mais insignificante olhada de relance de um estranho para a mulher de alguém, sem falar da primeira-dama, era um tabu). De qualquer modo, Vashti disse: "De jeito nenhum!"

O rei ficou furioso, mas de nada adiantou. Ele mandou mais eunucos para pedir por favor. Entretanto, Vashti não arredava pé de seus luxuosos aposentos, onde ela tinha um banquete e um bar aberto para suas amigas. Não é preciso dizer que a festa foi para o brejo dali por diante. Um Artaxerxes extremamente irritado reuniu-se secretamente com seus melhores assessores jurídicos, que lhe disseram para cortar esse negócio de desobediência pela raiz. Por mais que ele detestasse, rapidamente mandou um memorando para todos do império dizendo que Vashti já era. Seus conselheiros estavam muito mais precocupados com o papel desempenhado pela rainha do que com os sentimentos do rei. Para evitar uma epidemia geral de rebeldia, eles mandaram um boletim ameaçador para todas as mulheres, ordenando que tratassem seus homens como superiores dali por diante, fossem eles superiores ou não.

E o que aconteceu com Vashti, a rainha serena e corajosa que apenas disse "Não!", 2.300 anos antes de Nancy Reagan ter pensado nisso? Ela foi banida; provavelmente não o foi deste planeta, mas para seus aposentos ou para o prédio anexo ao harém principal. Foi assim que sua substituta, Ester, tomou o centro do palco.


Obs. Os contratos pré-nupciais podiam ser terríveis na antiga Mesopotâmia. Só porque sua irmã Taram era uma sacerdotisa - o que a eximia daquelas tarefas cansativas de ter filhos -, Iltani estava permanentemente no início da fila para a maternidade. As irmãs casaram em sociedade com um tal de Sr. Shamash. Todavia, em vez de um bolo de casamento, Iltani, na segunda linha, ficou com o trabalho sujo: fazer pão para a família, carregar a cadeira da irmã para o templo e até mesmo lavar seus pés. Mas o que realmente a enfureceu foi a letra pequena daquele maldito contrato de casamento: "Quando Taram estiver feliz, é bom que Iltani também esteja feliz." Isso foi o suficiente para fazer a mãe de aluguel ver tudo vermelho - só que explodir era um tabu para ela, a não ser que Taram estivesse num humor abominável. Se as irmãs entraram em choque ou se engrenaram, essa informação ficou perdida na história; mas será que o arquivo de 3.800 anos do caso de Iltani não deveria ser leitura obrigatória para os legisladores de hoje, como o exemplo amedrontador de uma legislação exageradamente estusiástica?

(*) - No próximo domingo, dia 25 de setembro de 2011, você vai conhecer ESTER, que substituiu Vashti como a primeira na linha das mulheres casadas com o rei Artaxerxes da Pérsia. Ela teve uma participação espetacular na salvação dos judeus da época. Ela viveu nos anos 460 a. C.

(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".
A Autora
Vicki León




quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Mulheres da Antiguidade - Hipsicratéia

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
HIPSICRATÉIA
Vicki León

Em matéria de arranjar um ingrato como parceiro de uma vida toda – Hipsicratéia certamente sabia como escolhê-los. Uma doçura de cabelos dourados, ela se casou com o irritável Mitridates, o Grande, em torno de 120 a. C. Seu reino persa de Ponto quase circundava o mar Negro, mas o Sr. Mitridates queria mais; ele sabia que podia derrotar os romanos se tivesse tempo, dinheiro e corpos suficientes. Diferente daquelas rainhas que ficavam em casa, Hipsicratéia queria ir aos lugares com seu homem. É verdade que ela teria preferido umas férias num hotel time-sharing, mas o jeito era ir para a batalha. Pelo menos isso lhe dava um descanso dos seus cinco filhos. Como a guerra era péssima para roupas, Hipsicratéia cortou o cabelo, pôs um capacete e armaduras de proteção para as pernas, e espirrou l’eau de ferrugem de armadura no rosto. Em vez de uma bolsa, ela carregou um escudo e uma lança.
Mitridates
Além de fazer amor e guerra, o outro hobby de Mitridates era lidar com veneno. Ele adorava testar toxinas em criminosos, tomando ele mesmo doses mais fracas para desenvolver antídotos. Depois de cinquenta e sete anos agitados, ele tinha tonelada de inimigos, inclusive um filho (ele expulsou os outros quatro). À medida que os romanos reconquistavam suas terras, Hipsicratéia sofria com seu homem, escondendo-se em cavernas, sendo perseguidos pela Armênia, e encurralados em seu próprio palácio pelo seu filho rabugento. Como recompensa por ter ficado zanzando na lama durante anos sem fim, Hipsicratéia ganhou uma dose de Veneno de Amor nº 9 de seu maridinho. O miserável Sr. Mitridates teve de sair abrindo caminho com a espada, já que não tinha mais qualquer ponche de venenos para servir.
Os romanos acabaram ficando com a receita do antídoto de Mitridates. Anos mais tarde, o médico de Nero adicionou carne de víbora e aumentou o conteúdo de ópio em 500% para criar a teriaga, a droga multiuso mais popular do mundo nos primeiros séculos a. C.

(*) - No próximo domingo, dia 18 de setembro de 2011, você vai conhecer VASHTI, casada com o rei Artaxerxes, que depois de armar e oferecer um banquete para 10 mil pessoas, ele queria que sua mulher se exibisse para os convidados. Ela não aceitou, ficando o rei furioso e a baniu, tendo ESTER lhe substituído.

(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".

 A Autora
Vicki León

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Mulheres da Antiguidade - ATOSSA

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
ATOSSA
Vicki León

Possivel escultura
da rainha Atossa

Uma criança superestrela, Atossa era a filha do megamonarca Ciro, que chamavam de “o Grande”, mesmo depois que ele foi morto em batalha por uma mulher, a rainha guerreira cita Tômiris (fico imaginando como os relações-públicas do rei conseguiram inverter isso).

Como os egípcios, os persas não viam nada demais no casamento entre irmão e irmã, e em outras alianças incestuosas interessantes. Sendo o tipo de garota de cobrir todas as bases, Atossa casou primeiro com seu irmão bêbado Cambises II, que se tornou rei quando o pai passou dessa para outra. Esse turno marital foi seguido de uma mininúpcia com um indivíduo ambicioso da realeza que se intitulava o pseudo-Smerdis. Quando as cabeças rolaram outra vez, o que elas faziam com uma freqüência aflitiva nos sweepstakes da sucessão persa, Atossa casou com seu outro irmão, Dario.

Dario
Logo após o casamento número três, a rainha desenvolveu um tumor no seio, que supurou e se espalhou até que ela ficou seriamente enferma; seu médico plantonista, um escravo grego, garantiu que a curaria – mas somente se ela convencesse seu marido e deixá-lo voltar para casa. O médico resolveu o problema, portanto Atossa retribuiu convencendo Dario a mandar um grupo numa missão de espionagem, com o bom doutor como guia.

Susa
Agora com uma nova vida, Atossa, como co-regente, ajudou Dario a governar por trinta e cinco anos. Eles construíram Susa, a nova capital do que tinha sido a Babilônia, e um palácio espalhafatoso em Persépolis, num lugar lindo de morrer. Na política real, Atossa passou a ter o voto principal em relação a quem seria o sucessor de Dario – e ela escolheu seu filho mais velho, Xerxes. Ela pode não ter feito um grande favor a ele: Xerxes (mesmo com suas tropas de grande reputação, com 2 milhões e 600 mil homens) foi abatido na grande e mortificante derrota na guerra greco-persa de 480-479 a. C.

(*) - No próximo domingo, dia 11 de setembro de 2011, você vai conhecer HIPSICRATÉIA, uma doçura de cabelos dourados que se casou com o irritável Mitridates. Além de fazer amor e guerra, outro hobby preferido era lidar com veneno e testar as suas toxinas em criminosos.

(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".

A Autora
Vicki León

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O homem que calculava






Artigo Pessoal

O homem que calculava
Clóvis Barbosa

Eu e Cleomar
A morte de Cleomar Brandi, no dia 17 deste mês, um dos melhores textos do jornalismo sergipano, comoveu a tudo e a todos, não somente pela figura cheia de vida que era, mas, também, pelo inusitado velório realizado na Colina da Saudade. Ao ser sepultado, no dia seguinte, uma chuva repentina misturada com um sol ardente transformou-se num arco-íris encantador, como que quisesse, a natureza, também, prestar a sua homenagem. Andei um tempo com Cleomar pelos quiosques da antiga orla da Atalaia, o 39, de Eliseu, e o 40, ao lado de Eugênio Nascimento, jornalista, o José Eduardo Souza, médico, Arlinda, então musa de Cleomar, Lula Andrade, cinegrafista, Américo, um dos melhores técnicos em rádio e TV e sua Dinha, além de outros companheiros. Estava vivendo um momento tenso de minha vida. Como presidente da OAB-SE e advogado militante criei confusão com alguns criminosos do aparelho policial do Estado, com comerciantes e com o status político da época. Trabalhava pelo dia e a noite tentava descobrir a autoria das diversas ameaças sofridas, culminada por uma escopetada desferida contra a janela da minha residência. Nessas andanças noturnas encontrava-me com Cleomar e amigos para beber e trocar idéias sobre o cotidiano. Ali aprendi “que era melhor morrer de vodka do que de tédio”, como diria Maiakóvski. Depois, os afazeres profissionais me afastaram e só esporadicamente é que os encontrava nos bares da vida e de Aracaju. Mas Cleomar, antes de partir, deixou uma carta sob o título “A última saideira”, onde ele se despede da vida, da sua velha “bahêeêa”, da sua Aracaju e dos seus amigos.
A última saideira no Bar do Camilo
Ao final, sentencia poetizando: “Um dia, o velho barril de carvalho pinga sua última gota de conhaque. E o poeta se despede de tudo sem tristezas nem vexames”, mas “Apenas sabendo que cumpriu seu papel com dignidade, com honestidade e com um brilho de criança nos olhos. Quem sabe, eu encontre o amarelo dos girassóis nesse novo caminho?”. Abaixo, um post-scriptum: “os amigos estão convidados para a última saideira no Bar do Camilo, assim que terminar o sepultamento. Já está pago”. E o Bar do Camilo recebeu os amigos de Cleomar Brandi, após o sepultamento, oportunidade em que todos tomaram, naquele dia, ao som de musica, a última saideira com o “guerreiro”. Essa criatividade de Cleomar nos faz lembrar outros casos pitorescos ocorridos com o segundo evento mais importante do homem: a morte. Os sumérios, por exemplo, não davam muita importância à vida após a morte. A rainha Shudi-Ad, rainha de Ur, que viveu no ano 2.500, antes de Cristo, preparou antecipadamente o seu próprio funeral, marchando para o seu túmulo com sessenta e quatro criadas, uma carruagem de madeira contendo ornamentos em ouro e prata, puxada por dois bois, quatro mulheres harpistas e seis soldados. Cada um dos membros da festa-funeral recebia uma bebida numa pequena taça, inclusive a rainha que estava à época com quarenta anos de idade. Todos os corpos, ou esqueletos, foram encontrados em sereno repouso, sem um diadema ou adorno sequer fora do lugar. Arqueólogos encontraram na Suméria vários casos de enterros em massa precedida por supostas festas.
Noel Rosa

A paixão também tem sido lembrada no momento do velório, como na música do genial Noel Rosa, “Fita amarela”, onde ele dizia “Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela gravada com o nome dela. Se existe alma, se há outra encarnação, eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão. Não quero flores, nem coroa com espinho, só quero choro de flauta, violão e cavaquinho. Estou contente, consolado por saber, que as morenas tão formosas a terra um dia vai comer. Não tenho herdeiros, não possuo um só vintém, eu vivi devendo a todos, mas não paguei a ninguém. Meus inimigos que hoje falam mal de mim, vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim”. Em Porto Rico, David Morales Colón, de 22 anos, foi velado em cima de sua moto, uma Honda Repsol, em posição de largada. Também em Porto Rico, Angel Pantoja Medina, de 24 anos, exigiu antes de morrer, que se usasse um tipo especial de embalsamento para manter o seu corpo em pé por três dias durante o velório na casa de sua mãe, usando um boné do New York Yankees e óculos escuros. Jack Benny era casado com Sayde Marks há quarenta e oito anos. Segundo uma fonte, ela era amarga e muito exigente. E ele, por sua vez, era bastante mulherengo. Após o funeral de Benny, um florista passou a entregar uma única rosa vermelha a Sayde, dia após dia. Aborrecida, após algum tempo, exigiu do florista que lhe dissesse quem estava mandando as flores. É que Benny cuidou para que a esposa recebesse uma rosa todos os dias pelo resto de sua vida. Ela ainda viveu nove anos.

Malba Tahan

Malba Tahan, heterônimo do professor Júlio César de Mello e Souza, autor da festejada obra “O homem que calculava”, que narra as peripécias do calculista persa Beremiz Samir na Bagdá do século XIII, cujo problema do pagamento dos oito pães com oito moedas já foi objeto de artigo de minha autoria neste jornal, achava horrível a literatura funerária que cunhava em coroas de flores expressões tipo homenagem eterna, recordação sincera, o último adeus. Antes de morrer, aos 79 anos, após ministrar uma palestra em Recife, deixou uma carta para a família a instruindo como deveria ocorrer o seu velório. Rejeitava qualquer tipo de coroa ou flores com qualquer tipo de mensagem. E se alguém insistisse, a coroa deveria ser devolvida com um “delicado cartão” para que o ofertante fizesse da coroa o uso que quisesse. O funeral, como exigido pelo escritor, deveria ser o mais modesto possível e o caixão deveria ser de terceira classe. Ao seu enterro, no Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro, compareceu grande número de pessoas, todas religiosamente comportadas e obedecendo as exigências do falecido e, se algumas flores constavam do ato, as mesmas foram ofertadas anonimamente, sem qualquer dedicatória. Também, na oportunidade, foi lida uma mensagem de Malba Tahan, onde ele renovava a sua defesa pelo fim do isolamento e do preconceito contra os doentes de hanseníase. Por fim, citava a letra da música “Silêncio de um minuto”, de Noel Rosa, como imperativo da sua ojeriza ao luto: “Roupa preta é vaidade para quem se veste a rigor. O meu luto é a saudade e a saudade não tem cor”.
(**) Publicado no Jornal da Cidade, edição de domingo e segunda-feira, 31 de julho e 1º de agosto de 2011, Caderno A, p. 7.
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