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domingo, 8 de novembro de 2020

Tipos Populares de Aracaju - Pedro Teles, o Zé Dendê

Isto é História

Aracaju Romântica que Vi e Vivi

Tipos Populares

PEDRO TELES – ZÉ DENDÊ

Murillo Melins

                        


Pedro Teles foi em sua época um dos tipos mais interessantes de Aracaju. Participou ativa e alegremente de quase todos os movimentos culturais de nossa provinciana cidade. ZÉ DENDÊ foi o nome escolhido por ele mesmo quando começou a encarnar o tipo caipira que fez tanto sucesso nos primórdios da PRJ-6, Rádio Difusora de Sergipe, e nos palcos dos nossos cinemas. Era o cômico dos monólogos, dos esquetes, das piadas inocentes ou picantes e das inteligentes paródias, modificando letras originais de canções populares, em versões de linguajar de matuto. Registramos aqui algumas delas, criadas e interpretadas pelo Zé Dendê.



Marcha Militar – tocada nos desfiles militares e pela Banda Musical da Polícia, quando era marcha, se dirigia ao coreto da Praça Fausto Cardoso para tocar nas inesquecíveis retretas:

O padre Carlos disse/que é pecado/ficar pelas esquinas/com namorado/andar de braços dados/sem ser casado/bater coxas dançando/bem rebolado...

Obs. O padre Carlos citado era o Monsenhor Carlos Carmelo Costa, Vigário da Catedral e eloquente orador sacro e membro da Academia Sergipana de Letras.

Paródia do Fox-canção “Nada Além” do compositor Mário Lago.

 

Madalena:

Madalena peste dos infernos/ai que pena!/você tava inté no meu caderno./Aquerditei no amô fingido perdido inconoclausto,/o amô só me futuca porque sou criança.

Sai cangaço não me faça de besta retroço/eu só choro e só bebo/e posso inté levá a breca,/Madalena satanás de cueca.


Música – Dominó:

Que calor, que calor/que calor/já não posso dormir/dorme nu/dorme nu/dorme nu/com uma flor na lapela.

Se continuar/e o suor chegar/dorme nu/dorme nu.

E a lapela começa a cheirar.


Canção sucesso de Sílvio Caldas:

É tão grande o mar/e foi um tão grande o home/mas é maior a minha fome/eu que já não como/estou agora a jejuar – gostosas feijoadas/eu já papei/fritadas e rabadas/já devorei.

Porém a infelicidade/roubou minha mesada/deixando-me na orfandade/de uma belíssima fatada.

O estômago vive agora/tocando flauta em surdina/meu Deus eu vou morrer/eu vou tomar terebentina.

Sofrer não aguento mais/caminho pra centina/porque as tripas grossas/estão engolindo as finas.


Música – A saudade mata a gente:

Quem namora de noite no escuro/está arriscado a dormir no distrito/é por isso que estou lhe avisando/pra que depois não vá dar faniquito.

E depois de lá se encontrar/não há mais nenhum jeito pra dar/é por isso que eu lhe aviso/pra no escuro nunca namorar.

E o soldado não enjeita, morena.../o soldado lhe endireita, morena.../o soldado leva a gente, morena.../o soldado prende a gente.

Pedro Teles foi o precursor desse gênero chistoso. Foi um homem jovial que apreciava as artes, o vinho, as belas mulheres e o humorismo. Com ele andei pelas esquinas e bares, festejando tudo com farras homéricas. Ele, sem dúvida, muito contribuiu para o enriquecimento da cultura e, principalmente, da arte cênica de Sergipe.


Criou o grupo teatral “JHALF-PRAN”, que teve atuação primorosa no espetáculo “Tobias Vive”, peça do professor José Calazans Brandão, comemorando o cinquentenário de morte do grande sergipano, Tobias Barreto. A encenação foi a primeira irradiação do gênero em Sergipe, transmitida pela PYD-2, do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP). Atuaram no espetáculo Pedro Teles (diretor), João Teles, Jacy Menezes, Helvécio Maia Filho, João Mello, Antônio Correia e Mattos Pires, os funcionários do DEIP jornalista Armando Barreto, Virgílio Torres, poeta José Maria Fontes e o então estudante Fernando Barreto Nunes. O autor José Calazans Brandão dirigiu pessoalmente a apresentação do espetáculo.

 

O JHALF-PRAN brilhou por alguns anos no palco do Salão Nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e no Cine Teatro Rio Branco, encenando peças como “Um Homem”, de Eurico Silva, “Ladrão de Brinquedos”, de Paulo Barreto, a comédia “Casal de Pombos”, dos irmãos João e Pedro Teles, dentre outros dramas e comédias. O grande sucesso do grupo deve-se, em parte, à direção artística de Pedro Teles e ao elenco composto por amigos seus dotados de pendor artístico, como a estrela cantora Jacy Menezes, João Mello, Mário Pires, Helvécio Maia Filho, Wilson Lima, Alda Diniz, Everton Valadão, Laurides Lopes, a garota Avany Souza Torres e o pintor e ator J. Inácio.

Pedro Teles atuou no Teatro do Sítio Betânia, de Corinto Mendonça, como diretor de cena e participando também como comediante no espetáculo “Brasil Maravilhoso”, comédia dramática de autoria de João Teles e Pedro Teles. Foi o idealizador da S.S.C.A – Sociedade Sergipana de Cultura Artística, cuja posse da 1ª. Diretoria foi registrada em nota do “Jornal Nordeste” de 9 de setembro de 1941:

Realizou-se ontem, às 20 horas, no salão de conferências do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a posse da primeira diretoria que irá gerir os destinos daquela sociedade, durante o biênio de 7 de setembro de 1941 à mesma data de 1943.

Uma grande assistência compareceu a essa solenidade, numa grande demonstração inequívoca do seu apoio moral a realizações que tais.

A Sociedade Sergipana de Cultura Artística, que foi inspiração do nosso conterrâneo Pedro Teles, ao qual, também, se associaram várias jovens inteligentes e cheios de boa vontade, e cuja finalidade é auxiliar o artista pobre está fadada a grandes sucessos.


O artista popular Pedro Teles (Zé Dendê), além de tantos atributos, tinha tamanha capacidade criativa para produzir paródias, aproveitando-se de temas dos grandes clássicos da música popular. Por várias vezes, antecipava-se ao lançamento local de várias daquelas músicas lançadas no Rio e São Paulo pelos grandes intérpretes da época, chegando ao ponto do querido cantor e compositor João Mello reclamar aos amigos que estava ficando difícil cantar o que hoje são os sucessos da MPB, pois Zé Dendê já antecipava-se aos originais com suas impagáveis paródias.


Esse foi o alegre, boêmio, irreverente, matuto, dramaturgo e, acima de tudo, o humano artista, que passou pela vida distribuindo bom humor e cultura. Era assim Pedro Teles, o Zé Dendê, dos tradicionais “chavões” e outras “tiradas”, como “Minino fale cum as letra” e “adeus letra”, artista que conheci e agora tento reverenciar.

-  Na próxima postagem você vai conhecer o PROFESSOR FRANCISCO PORTUGAL, um baiano de Canavieiras que veio para Aracaju e aqui fez uma brilhante carreira como professor e tradutor. Apesar de mestre exigente era um homem bem humorado e que adorava colocar apelidos nos seus alunos em francês.

- Do livro “Aracaju Romântica que vi e vivi”, de Murillo Melins, 4ª. Edição, 2011, Gráfica J. Andrade.

- As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google. 

 

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