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quarta-feira, 30 de março de 2011

Quem foi o poeta Annibal Theóphilo? (III)

Debate

III
Quem foi Annibal Theóphilo
Arnaldo da Silva Rodrigues


Teatro Municipal
RJ em 1915

As provocações e o desprezo que enfrentamos exigiam de nós uma atenção redobrada de não alimentar a polêmica, justamente porque as pessoas que nos incentivavam e acreditavam no nosso trabalho, não poderiam se decepcionar com nossa reação diante dos que nos afrontavam. É preciso que se esclareça que neste trabalho não há revanchismo. A justiça reconheceu e confirmou. Há, sim, a convicção absoluta de refutar e apagar as acusações gratuitas que maculavam o poeta, vítima, ainda, indefesa. Aqui não há acusações, há sim a energia de encaminhar a luz para clarear o negrume que se deixaram mergulhar no abismo das paixões os escritores, pesquisadores, memorialistas citados por nós. Durante algum tempo andamos preocupados com a posição de homens cultos, acadêmicos, na postura de ao escreverem suas histórias descerem do pedestal de intelectuais para, com rancor, atingirem um personagem da história, no nosso caso, Aníbal Theóphilo.


Camões

Por certo, já tinham prestígio diante da opinião pública, não precisando se projetar com acusações infamantes. A verdade só tem uma face. Mascarar a face única da verdade é descer ao abismo dos infernos sem retorno. Fomos envolvidos, por um capricho do destino, na tarefa de publicar o resultado de nossos estudos e pesquisas na elaboração deste trabalho. O autor de Rimas, Musa Erradia, Folhas e Um Poema, teve grande projeção no meio da classe de intelectuais, sendo respeitado e bastante homenageado. Ao longo destas linhas são tantos os depoimentos que identificam a personalidade, a figura do ser humano e a poética de Aníbal Theóphilo. A história está falando por nós. A vida e obra de Aníbal Theóphilo nos bastariam para a composição deste estudo. Os lances que marcaram a presença do poeta nas inúmeras viagens que realizou como literato, ora no Centro Literário, em Fortaleza, ora na Mina Literária de Belém do Pará, de volta ao Rio de Janeiro, na Organização da Sociedade Brasileira dos Homens de Letras, na secretaria do Teatro Municipal, nos salões e horas literárias, o poeta era um magnífico declamador de autores nacionais, de Camões, Petrarca, Heredia, Bainville, Leconte de Lisles, Théophile de Gautier, nas redações de jornais e revistas, nas livrarias e nas confeitarias.


Rio de Janeiro em 1915

Sua presença junto aqueles que viveram intensamente sob as luzes da belle époque foi marcante. Ao chegarmos, todavia, ao capítulo que fala da morte do poeta, impressionaram-se as reações, as afrontas dos que não queriam aceitar de forma alguma a nossa contestação aos dizeres do livro de Gilberto Amado, Minha Vida na Política – Terrível Prova – 1958. Processaram-nos, exigindo o nosso silêncio, impondo a nossa punição. A história ensina que o pesquisador tem a obrigação de ao descobrir os fatos catalogá-los e registrá-los todos a bem da verdade. Aníbal Theóphilo não foi absolutamente aquilo que Gilberto Amado insinua em sua obra. A explosão da revolta deu-se quando da publicação em O Globo, no dia 17 de setembro de 1979, de reportagem sobre o acontecimento trágico de 1915. Ali estão transcritos momentos da cena que culminou no crime. Não sai palavras nossas. A opinião pública se manifesta através dos órgãos de imprensa da capital do país. O que representa este livro? Foram décadas de pesquisa. Os documentos aqui expostos foram extraídos de arquivos das bibliotecas, dos livros, jornais e revistas. As entrevistas com os contemporâneos do poeta deram valor à realização deste ensaio.

Museu Nacional
de Belas Artes-RJ

A vida do poeta preenche, em grande parte, estas páginas, com a reprodução dos cenários da belle époque, na cidade do Rio de Janeiro, capital da República, transformada com reformas nos moldes de metrópole europeizada: a Avenida Central, o Teatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes, A Biblioteca Nacional, o encontro de literatos nos salões, horas literárias, conferências nas livrarias, nas redações dos jornais e revistas. O povo, com roupagem elegante, desfilava orgulhoso com as grandes conquistas. Vida noturna intensiva nos teatros e cinematógrafos. Sobre Aníbal Theóphilo, fizemos o levantamento de seu itinerário diversificado, ora no sul do Brasil, onde estudou e ingressou na vila militar aos 16 anos, ora na Bahia, ora no Rio de Janeiro, ora no Ceará, como cadete, de volta ao Rio de Janeiro, na Amazônia, onde permaneceu quase uma década tentando sobreviver fora da vida militar. Como literato, por onde passou deixou a marca de sua presença atuante. Estas folhas que se seguem colocam-no junto aos grupos que produziram intensamente nas letras.

Membros da República de Laranjeiras-RJ - 1915

Da morte de Aníbal não quiseram que falássemos. Por todos os meios tentavam nos impedir e espezinhar. Foi uma jornada angustiante. Chegamos aos dias de hoje protegidos pela Justiça que nos permitiu trabalhar no sentido de consertar o que vinha sendo publicado, em memórias agressivas, escritas pelo próprio eliminador do poeta. Esta monografia representa a exposição dos fatos históricos obtidos ao longo do tempo, com considerável resultado de pesquisas reveladoras, que deverão, por certo, eliminar infâmias que vem sendo repetidas por memorialistas descomprometidos com a verdade. 1958 foi o ano em que intensificamos as pesquisas para a organização destas páginas. Por quê? Naquele ano mesmo ano, o eliminador físico do poeta Aníbal Theóphilo publicou as suas memórias, que trazem a deliberada intenção de destruir a honra do poeta. Tenta justificar o crime, ficar bem perante a história. Não satisfeito com o julgamento em 1916, absolvido com base “na privação dos sentidos e da inteligência” por 4x3, volta, quarenta e tantos anos passados da tragédia, ao triste episódio para denegrir a imagem da sua vítima ainda indefesa. Contra Gilberto Amado obtivemos e documentamos mais de meia centena de depoimentos históricos sobre a figura social. Estas páginas cuidam de transcrever o pensamento espontâneo dos que conviveram com o poeta, estes sim, podem julgá-los para a posteridade. Na casa dos quarenta anos de uma vida plena de lutas e sacrifícios e nobreza para com seus pares, teve sua vida ceifada num lance trágico no fim de uma festa literária que angariava fundos para a Sociedade Brasileira e Homens de Letras, em 1915. Gilberto Amado pensa ser dono da verdade quando escreveu Minha Vida na Política – Terrível Prova, acreditando suas memórias como solução definitiva em favor de sua biografia. Cheio de manha e artimanha, desenvolve o seu pensamento unicamente em querer se projetar para a história, passando-se por vítima, num flagrante escárnio à memória de Aníbal Theophilo. O objetivo deste livro, se uma parte é quebrar o silêncio que tem assombrado a memória do grande poeta, impedindo que se reconheça o lugar de destaque a que tem direito na literatura brasileira, de outra, é restaurar a verdade dos fatos sobre o crime, distorcidos de tal modo que o algoz é apresentado como inocente e a vítima como culpado. De fato, não constam do capítulo da “terrível prova” os episódios que deram origem às reações dos literatos que freqüentavam a rua do Rossi, casa do escritor Coelho Neto, e o Centro Positivista, liderado por Alcides Maia, na chamada República das Laranjeiras, afastando Gilberto Amado daqueles convívios.

Apresentação do Autor




Arnaldo da Silva Rodrigues é neto do poeta Annibal Theóphilo. Isso basta para explicar o amor e o entusiasmo com que escreveu toda sua obra. Com declarada intenção de procurar retirar do esquecimento o grande e generoso avô poeta, escreveu o texto acima, resgatando, assim a memória do seu antepassado, brutalmente assassinado no Rio de Janeiro, em 1915.

(*) – Justificativas do autor de “Vida e Obra de Annibal Theóphilo – Triste Fim de um Poeta Assassinado”, de Arnaldo Rodrigues, reproduzido, com revisão, do site: http://www.livrovirtual.com/LivroVirtual/?categoria=livro&livro=7D398.

(**) Nova postagem no próximo dia 5 de abril de 2011, onde continuaremos a publicar a versão do neto do poeta Annibal Theóphilo, morto em 1915, crime atribuido ao sergipano Gilberto Amado.

(***) Veja, também, neste blog, o crime do poeta Annibal Theóphilo, em 1915, no Rio de Janeiro e o julgamento do autor do crime, Gilberto Amado, na versão do escritor Acrísio Torres.

terça-feira, 22 de março de 2011

Quem foi o poeta Annibal Theóphilo? (II)

Debate
II

Quem foi Annibal Theóphilo
Arnaldo da Silva Rodrigues
 
Olavo Bilac

Entrevistamos Luiz Edmundo. Impactos. Emoções. Levamos a ele o seu depoimento à imprensa em 1915 como testemunha da história. Declara publicamente: “Da parte de Annibal Theóphilo percebeu que não havia ódio nem vingança, apenas indiferença por Gilberto Amado”. E completava: “Insuspeito como sou, afirmo ter sido, perfeitamente documentado, que o proclamado espírito de perseguição nunca existiu, sob minha palavra de honra, afirmo” (A Noite, junho de 1915). Luiz Edmundo confessa que o poeta não agredia nem perseguia Gilberto Amado. Dissemos ao autor de Rio de Janeiro do meu Tempo que as palavras publicadas em suas memórias – 30 e poucos anos depois da tragédia – não condiziam com o seu temperamento nem com o seu estilo, tínhamos certeza. Confessou-nos ter reatado a amizade com Gilberto Amado. Na justiça, o depoimento de Luiz Edmundo coincidia com os depoimentos de Olavo Bilac, Leal de Souza, Oscar Lopes, Jorge Schimidt e Juvenal Pacheco, no sentido de que o poeta era indiferente em relação à Gilberto Amado. Jamais aceitou a reconciliação. Na cena do crime, onze testemunhas arroladas no processo, todas elas, confirmaram que não houve agressão a Gilberto Amado. O poeta nem viu o seu agressor, pois foi atingido por um tiro certeiro na nuca, enquanto tentava afastar o provocador que deu início a tragédia – Paulo Hasslocher.

Raimundo
Magalhães Júnior

Convivemos algum tempo com Raimundo Magalhães Júnior, até o momento que soube que estudávamos a biografia do poeta Annibal Theóphilo. Tão pronto disse que Gilberto Amado já se justificara do crime no seu livro de memórias. Certa feita, o embaixador Pascoal Carlos Magno transmitiu-nos a intenção de Gilberto Amado ter um encontro conosco. Conhecíamos o gênio e o temperamento do autor de Minha Vida na Política – Terrível Prova. Nossas convicções não poderiam, de forma alguma, dialogar com aquele que escarnecia a sua vítima jogando-a ao martírio da história, em suas memórias. Quem foi Annibal Theóphilo, mais uma vez perguntamos? Olegário Mariano lembrava que o poeta viveu uma vida de sacrifícios em busca da sobrevivência. Com a morte do pai, comandante do Abrigo dos Inválidos da Pátria, na Ilha de Bom Jesus, a família teve que se mudar, deixando uma carga grande de compromissos, pois a função que o poeta exercia no Arsenal de Guerra era de remuneração nada animadora. Amigo do tempo de vida militar de Fernando Waine, partira para a Amazônia em busca de um futuro melhor. O período da borracha era ainda atrativo. Annibal Theóphilo não encontrou um outro caminho. Abandonou o prestígio que já havia conquistado na capital da República e partiu.

Olegário
Mariano
Ganhou e perdeu. Foram nove anos de lutas. Sobreviveu ao impaludismo. Os companheiros indicaram o seu nome para patrono da Academia Amazonense de Letras. A Academia Acreana também premiou o poeta. A Academia Riograndense de Letras também reconheceu os seus méritos. Annibal Theóphilo não foi o ser desprezível que depuseram os seus acusadores. Mais adiante, nas páginas próximas, transcreveremos o que foi publicado nas memórias que marcaram e prejudicaram fundamentadamente o nome do poeta. O linchamento moral assumiu o caráter de infâmia. O nosso repúdio teria que acontecer. Tínhamos o compromisso com a razão, sem o menosprezo com a emoção que o caso tanto provocava. Apagar os sentimentos de rancor que ficou registrado só com a alentada documentação histórica que tínhamos em mãos. Recuáramos no tempo para saber que episódios teriam iniciado o desencontro no meio de intelectuais que iriam culminar na tragédia de 1915. Aqueles que falaram em agressão e perseguição para justificar sua ação nefasta não pesquisaram nem investigaram sequer, para saber o porquê das animosidades. As versões desencontradas seriam eliminadas com o depoimento do escritor Coelho Neto, publicado nos órgãos da imprensa de 1915.

Lindolfo Collor

Vejamos: Os literatos que freqüentavam as reuniões da Rua do Rossi, casa de Coelho Neto e da chamada República das Laranjeiras, liderada pelo positivista Alcides Maia, reagiram contra Gilberto Amado quando souberam das atitudes descontroladas que tentavam desmoralizar aquele ambiente e muito de seus membros. Foi uma reação una e espontânea. Afastaram-se de Gilberto Amado de forma decisiva. Alguns até com palavras duras de reprovação ao ato desrespeitoso. Annibal Theóphilo – não somente o poeta – Heitor Lima, Martins Fontes, Leal de Souza, Olegário Mariano, Humberto de Campos, fizeram sentir o seu repúdio, rompendo com Gilberto Amado. Carlos Maul, em carta, dizia-nos que não houve jamais um elemento que pudesse intermediar na situação, no sentido de minimizar as partes em confronto. Olegário Mariano lembrou-nos que, certa feita, o cronista João do Rio, Paulo Barreto, conversava com Annibal Theóphilo, tentando convencê-lo a uma aproximação com Gilberto Amado. O poeta dizia: Paulo, como é possível, se ele, na coluna de O País continuava humilhando os nossos companheiros, expondo-os ao ridículo. Lindolfo Cóllor e Eloy Pontes mandaram seus trabalhos com dedicatórias respeitosas e tiveram em troca da pena do cronista: "Simples espíritos medíocres incapazes de um escorço para além da mediania...” “Uma volumosa nulidade literária...” “que a minha serenidade e meu bom gosto se revoltaram”. Os autores ofendidos com a crítica pessoal reagiram: Em pleno centro da cidade, deu-se o encontro.

Coelho Neto

O cronista que sempre andava armado reagiu com dois tiros de arma de fogo contra Lindolfo Cóllor. A repercussão foi negativa e os membros da Sociedade Brasileira de Homens de Letras, reunidos, através de seu presidente, Oscar Lopes, deveria lembrar aos litigantes do espírito que deveria ser respeitado pelos sócios da entidade recém implantada, cujos propósitos eram os mais legítimos no meio da classe. Amado ainda sofria o desprezo da parte dos intelectuais depois dos episódios na casa de Coelho Neto. O orgulho de Gilberto Amado não poderia deixar que desmoronasse suas primeiras conquistas na capital do País. Trouxera do nordeste o ímpeto de vencer os meios intelectuais. Mas não poderia se impor por caminhos sinuosos. Outros episódios já teriam identificado o despreparo emocional do cronista de O País, comentavam os órgãos da imprensa, fazendo referências a outros episódios desagradáveis. Há momentos edificantes que conseguimos guardar ao longo de nossas entrevistas, numa demonstração de que o passado distante não apagou da memória a beleza que perpetua e vem aos nossos dias comprovando as verdades que o tempo não consegue apagar. Quantos sonetos de Annibal Theóphilo foram declamados pelos nossos entrevistados. Sempre era para nós uma surpresa. Não morrera o prestígio do poeta. Interessante é, também, lembrar o episódio que foi reproduzido na imprensa de 1915, e repetido em vários livros que falam de literatos e de literatura. No enterro do poeta uma fila de companheiros – num ato simbólico - iria derramar sobre o peito do poeta gotas do perfume ideal de houbigand, como última homenagem a Annibal Theóphilo, inclusive Luiz Edmundo confessou-nos ele próprio. Magalhães Júnior negou sempre o ato e ridicularizou aqueles que o relataram.

Apresentação do Autor


Arnaldo da Silva Rodrigues é neto do poeta Annibal Theóphilo. Isso basta para explicar o amor e o entusiasmo com que escreveu toda sua obra. Com declarada intenção de procurar retirar do esquecimento o grande e generoso avô poeta, escreveu o texto acima, resgatando, assim a memória do seu antepassado, brutalmente assassinado no Rio de Janeiro, em 1915.

(*) – Justificativas do autor de “Vida e Obra de Annibal Theóphilo – Triste Fim de um Poeta Assassinado”, de Arnaldo Rodrigues, reproduzido, com revisão, do site: http://www.livrovirtual.com/LivroVirtual/?categoria=livro&livro=7D398.

(**) Nova postagem no próximo dia 29 de março de 2011, onde continuaremos a publicar a versão do neto do poeta Annibal Theóphilo, morto em 1915, crime atribuido ao sergipano Gilberto Amado.

(***) Veja, também, neste blog, o crime do poeta Annibal Theóphilo, em 1915, no Rio de Janeiro e o julgamento do autor do crime, Gilberto Amado, na versão do escritor Acrísio Torres.

terça-feira, 15 de março de 2011

Juízes defendem direito de expressar suas opiniões

Debate

Juízes defendem direito
de expressar suas opiniões
Por Marina Ito


Houve um tempo em que a frase "o juiz não fala fora dos autos" era repetida à exaustão pelos magistrados. Mesmo com a abertura do Judiciário, nos últimos anos, é comum se deparar com juízes que evitam os meios de comunicação. Outros, como pode comprovar a internet e suas redes socias, opinam, criticam, defendem seus pontos de vistas sobre os mais variados assuntos. Qual o limite para a manifestação do juiz? Nesta semana, a ConJur noticiou a exceção de suspeição proposta pelo Ministério Público do Rio de Janeiro contra o juiz Rubens Roberto Rebello Casara. Pouco depois de ter sido deflagrada a operação policial no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, o juiz criticou, em entrevistas concedidas à imprensa, as irregularidades denunciadas pelos moradores do conjunto de favelas. Operadores do Direito, ouvidos pela reportagem, defenderam o direito de juízes expressarem sua opinião. O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que o juiz é um cidadão. Desde que não se pronuncie antecipadamente sobre uma causa que esteja relatando ou prestes a dar uma decisão, afirmou, não pode ser amordaçado. "Pode haver a suspeição se o juiz antecipar um ponto de vista da causa." Causas, explicou o ministro, que envolvem direitos subjetivos e individuais entre partes. "A linha divisória é a causa que ele virá a julgar", explicou.



MInistro Marco Aurélio Mello
Marco Aurélio, ele próprio membro da mais alta Corte do país e que não se furta às perguntas que lhe são feitas, constantemente, pelos jornalistas, afirma que o juiz não pode antecipar seu ponto de vista em matérias que irá julgar. No mais, diz, vale a liberdade de expressão que é a tônica maior da democracia. "O meu receio, em termos de democracia, de Estado de Direito, é o silêncio, a apatia." O juiz só está impedido, diz, quanto à controvérsia que terá de julgar. "Se não for assim, nós, juízes, perdemos a cidadania." "O juiz não pode antecipar opinião e fazer pré-julgamento", disse o ministro Gilmar Mendes, também do Supremo. Ressalvando não conhecer o caso concreto e falar em tese, o ministro citou a Lei Orgânica da Magistratura, que proíbe o juiz de se manifestar sobre casos que estejam julgando. Mas isso não quer dizer, explica, que o juiz não possa alertar para determinadas condutas. O ministro lembrou que ele e outros integrantes do Supremo já criticaram muito operações da Polícia Federal, mas sem apontar uma específica.


Ministro Gilmar Mendes

Gilmar Mendes foi alvo de críticas durante todo seu mandato como presidente do Supremo e do CNJ, justamente porque nunca deixou de dar a sua opinião, muitas vezes, polêmica. Pouco antes de terminar sua gestão, defendeu que o presidente da mais alta Corte de Justiça do país tem um papel amplo, de liderança no Poder Judiciário, e portanto, o dever institucional de se manifestar. "O direito de crítica é inerente à função do juiz. Ele é um agente político, além de ser cidadão", disse o juiz federal Ali Mazloum, de São Paulo. "A tentativa de reduzir a magistratura a uma espécie de repartição pública", continua, "atenta contra a Constituição Federal e o Estatuto da Magistratura". No caso específico, diz Mazloum, o juiz tinha direito de fazer críticas genéricas à atividade policial. Para o juiz federal, o juiz tem o direito e o dever de criticar. "O MP precisa tentar exercer sua função de forma mais responsável e parar de fazer patrulhamento ideológico contra juízes", completou.


Juiz Ali Mazloum

O próprio juiz federal já foi investigado em uma operação da Polícia Federal, sendo que a denúncia foi trancada pelo Supremo por ser inepta. Ali Mazloum moveu ações contra promotores e delegados. Já condenou e absolveu delegados em processos que foram distribuídos à 7ª Vara Federal Criminal de São Paulo, da qual é titular. Em nenhum dos casos, a defesa arguiu a suspeição do juiz por ele estar à frente do feito, supondo que estaria impedido por já ter ele mesmo sofrido uma persecução penal que restou infundada e por ter acionado os autores desse processo criminal. O juiz Antônio Augusto de Toledo Gaspar, 2º vice-presidente da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro (Amaerj), afirma que a Loman e o Código de Ética, aprovado pelo Conselho Nacional de Justiça, impedem que o juiz se manifeste sobre processos que estejam sob seu crivo ou que possam ser distribuídos a ele. No Direito Penal, explica, as condutas são tipificadas. Para que o juiz fique impedido ou suspeito, tem de se manifestar sobre a conduta.

Juiz Rubens Casara

O 2º vice-presidente da Amaerj lembrou, ainda, que o juiz é vigiado 24 horas por dia pela sociedade. Tem de ter cuidado ao se pronunciar sobre temas que estão dentro do limite territorial onde atua. Entretanto, diz, se ele não se pronunciar de forma cabal sobre um fato que está sob o crivo dele, não há porque estar impedido ou ser suspeito. Em relação ao caso concreto, Gaspar disse que o juiz Rubens Casara é conhecido como garantista, além de ser professor e doutrinador. Todo mundo sabe qual é a posição dele, diz. "Eu também sou professor da Emerj e digo qual é a série de balizamentos para a condenação por dano moral. Nem por isso eu ficaria impedido de julgar casos que envolvam a matéria", afirmou. O juiz de Direito Gervásio dos Santos, do Maranhão, entende que o juiz se expressou na condição de cidadão. "Sequer tinha ideia de que processos gerados pela operação chegariam até ele", disse. Para Gervásio, querer afastar o juiz desses processos pelas declarações dadas equivale a tolher a capacidade do magistrado de ser cidadão e poder se expressar sobre fatos gerais.


Juiz Gervásio Santos

Ele afirmou que a operação policial no Alemão, que reuniu não só as Polícias Civil e Militares do estado, como a Polícia Federal e as Forças Armadas, foi muito repercutido não apenas no Rio de Janeiro. Juízes, de outras cidades inclusive, falaram sobre a operação, apontando pós e contras, críticas e elogios. "Apresentar exceção de suspeição contra um juiz que, na condição de cidadão, expressa sua opinião, parece exagero", afirmou. O secretário-geral do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho, disse que há uma diferença entre expressar a opinião e fazer pré-julgamento. "O pré-julgamento é prejudicial ao processo, diferente de apenas uma opinião." Para o advogado, o caso reforça a tese de que não só o juiz como o próprio Ministério Público deveria ter prudência ao anunciar suas conclusões sobre uma matéria. "É preciso ter cautela no sentido de que as declarações sejam feitas de forma adequada", diz. Ao comentar o caso concreto, o secretário-geral da OAB disse que o juiz afirmou ser contra arbitrariedades. "Todos têm opinião", disse. O advogado estranhou, ainda, a postura do Ministério Público, já que seus membros costumam comentar sobre os casos que estão sob seus cuidados nem que por isso fiquem suspeitos. "O fato de alguém ser acusado não quer dizer que ele seja culpado", lembrou.


Advogado Marcos Vinícius Furtado Coelho


Crítica à abuso

Na exceção de suspeição apresentada contra o juiz fluminense, o Ministério Público diz que o juiz teria sua imparcialidade comprometida por declarações dadas à imprensa na época da deflagração da operação policial nas comunidades da Penha. Em um dos trechos, publicados em entrevista na revista Carta Capital, o juiz diz: "as notícias que chegam são de que estão invadindo casas, prendendo pessoas para averiguação e usando uma série de atos completamente desassociados do projeto constitucional". O juiz tece críticas em relação ao modo como se deu a operação policial. Ele disse ver com preocupação a atuação do Estado, já que, na tentativa de combater os que violam a lei, o próprio Estado a estava violando. "O que estimula a ilegalidade é toda uma cultura autoritária, com institutos e práticas que desrespeitam o outro e estão descompromissados com a democracia", disse na ocasião. Em dois dos cerca de oito processos distribuídos ao juiz, já houve sentença. Os aspectos legais da prisão dos réus nem chegaram a ser discutidas, já que o Ministério Público pediu a absolvição dos acusados.

 

segunda-feira, 14 de março de 2011

Quem foi o poeta Annibal Theóphilo?

Debate

Quem foi Annibal Theóphilo
Arnaldo da Silva Rodrigues





Exposição de Motivos
Reflexões

Barbosa Lima
Sobrinho


Que direito nos assiste, agora, com os resultados de longos anos de pesquisas, com comprovações documentadas, recolhidas em entrevistas e estudos nos arquivos, bibliotecas e academias, com meia centena de depoimentos históricos – longos depoimentos – de contemporâneos de Annibal Theóphilo, datados e assinados, mais as respostas ao nosso questionário encaminhadas à Academia Brasileira de Letras, que mereceu a consideração daquelas que honram a posição de representantes da cultura brasileira, como Barbosa Lima Sobrinho, Levi Carneiro, Ribeiro Couto, Ivan Lins, Olegário Mariano, Maurício de Medeiros, Clementino Fraga, Gustavo Barroso, Álvaro Moreira, Rodrigo Otávio Filho e Augusto Meyer. Todos eles reconheceram o legítimo direito e dever do historiador-pesquisador expor os fatos à luz da razão. Vale, ainda ressaltar que os processos contra nós, que insistiam na nossa punição e na intenção de impedir a publicação do livro sobre a vida do poeta Annibal Theophilo, foram recusados pela Justiça. Tivemos o reconhecimento da autenticidade do nosso propósito honesto, que nos animava de fazer história. Até a mais Alta Corte conferiu-nos o direito que tanto necessitávamos: “Observo que o notificado não fez nenhuma crítica à decisão do Tribunal que julgou o homicídio ...” “É evidente a ausência do animus difamandi, injuriandi e Caluniandi...” “Há animus narrandi, exclusivamente...” “Movido pelo sentido da pesquisa histórica, sem qualquer sentimento de revanchismo...” “Os juízos e conceitos que, porventura, desfavoráveis à memória de Gilberto Amado foram colhidos em jornais, revistas e obras que exaustivamente mostrou em extensa bibliografia.”, tudo como contido nas folhas do processo.

Gilberto Amado
 Agora, a nossa posição há de invalidar, por completo, a intenção malévola dos nossos oponentes – memorialistas que gratuitamente tentam desfigurar e enxovalhar a honra e a memória daquele que nunca poderia ser colocado pelos seus detratores como um ser desprezível perante a História. A alentada documentação que tínhamos conquistado, ao longo do tempo, deveria nos proteger ao refutar a truculência verbal nos tortuosos caminhos do rancor. As memórias publicadas nos livros Minha Vida na Política (Terrível Prova), Rio de Janeiro do Meu Tempo e Olavo Bilac e sua Obra não trazem jamais uma comprovação, um testemunho que pudesse justificar suas intenções demolidoras. Parecia um ardil arquitetado para proteger Gilberto Amado e acusar a sua vítima como algoz do crime que abalou a sociedade cultural do Brasil num fim de festa literária, em 1915.
Raimundo Magalhães Jr
Os amigos de Gilberto Amado se valeram da distância do tempo para crucificar a imagem de Annibal Theóphilo como perseguidor e agressor de Gilberto Amado, dando como definitiva a versão negativa nas palavras do próprio Gilberto Amado, de Luiz Edmundo e Raimundo Magalhães Júnior. As publicações – memórias – estão comprometidas por que torcem os fatos históricos. Durante quatro décadas permaneceram nas livrarias, nas bibliotecas e nos arquivos, denegrindo o destino do poeta, numa campanha de difamação sem igual, em desrespeito a ética e a moral. A partir de agora – temos a convicção – o julgamento moral terá as bases nas fontes reais e na comprovação dos testemunhos que datam e assinam seus depoimentos para a posteridade. As palavras emitidas pelos contemporâneos do poeta soaram como verdade que a história revela. Os mortos que merecem as palavras luminosas dos seus condiscípulos hão de ser respeitadas pelas gerações futuras.

Sobral Pinto


Ouvimos o protesto veemente do doutor Sobral Pinto, que viveu aqueles momentos da história, conhecedor do episódio nos seus meandros e detalhes: “O poeta tinha valor no seio da literatura brasileira, tinha fama de homem honesto e digno. E a imagem pintada por Gilberto Amado não é confirmada pela história”. Agora podemos perguntar: quem foi Annibal Theophilo? Muitas vozes serão ouvidas nas linhas que se seguem, vozes consoantes com a nossa intenção de conquistar a verdade. Carlos Drummond de Andrade revela-nos: “o poeta fora uma pessoa amada de todos”. Emílio de Menezes: “O enterro de Annibal Theóphilo foi uma apoteose. Ninguém faltou. Nunca houve no Rio e Janeiro um movimento de solidariedade como esse”.



Carlos Drummond
de Andrade
No Rio de Janeiro, convocam o poeta para por em prática sua capacidade mnemônica, declamando Petrarca, Camões, a elite dos poetas franceses, os nossos parnasianos e simbolistas. Bem jovem, em Porto Alegre, já se sentia muito à vontade na sua vocação. Como cadete em Fortaleza e em Manaus merecia o aplauso da sociedade. O acadêmico Péricles Moraes dizia: “A elegância irrepreensível de sua dicção, sabia dizer como ninguém. Não havia mais enlevo do que ouvi-lo nesses minutos de embevecimento. Sabia de cor poemas inteiros, sem vacilar nunca”. A imprensa da capital da República reproduzia seus poemas ilustrados por Kalisto Cordeiro, J. Carlos, Raul Pederneiras, especialmente nas revistas Fon-Fon e Careta. O poeta publicou no Porto e trouxe-nos os exemplares de Rimas – Musa Erradia – Folhas de um Poema, autografados para os amigos escritores, jornalistas, artistas, com os quais mantinha, quando vivo, um relacionamento fraterno. É preciso que se questione os autores que torcem os fatos históricos nas suas infamantes memórias, que não acreditavam ser possível que a verdade aflorasse depois de tantos anos. Criaram a sua versão para iludir a opinião pública, maculando aquele que foi vítima de um crime perpetrado ao fim de uma festa literária.

(*) – Justificativas do autor de “Vida e Obra de Annibal Theóphilo – Triste Fim de um Poeta Assassinado”, de Arnaldo Rodrigues, reproduzido, com revisão, do site: http://www.livrovirtual.com/LivroVirtual/?categoria=livro&livro=7D398.


(**) Nova postagem no próximo dia 22 de março de 2011, onde continuaremos a publicar a versão do autor do assassinato do poeta Annibal Theóphilo.

(***) Veja, também, neste blog, o crime do poeta Annibal Theóphilo, em 1915, no Rio de Janeiro e o julgamento do autor do crime, Gilberto Amado, na versão do escritor Acrísio Torres.



segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Insustentável Preconceito do Ser

Debate

O insustentável preconceito do ser!
Rosana Jatobá

Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador, vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos.

Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso:
Parque do Ibirapuera
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só!
-Então estarei em casa, repliquei ironicamente.
-Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente.
-A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista?
-Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque.
-Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos.
-Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar....

De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado.

Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "Cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste.

Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável.



Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava: -O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte: "O teu cabelo não nega, mulata/Porque és mulata na cor/Mas como a cor não pega, mulata/Mulata, quero o teu amor".

"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar, como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem.

A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constragimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala. O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta: Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim: 'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo).
mulher negra

Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra, os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém". Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje?

A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos" , mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social, é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir: - A minha "criadagem" não entra pelo elevador social !

E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo?

Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente: - Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque! Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino: -Só podia ser loira!

Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco: - Só podia ser judeu! A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ...

Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem". Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano.



A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque, em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade.

Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado: -Só podia ser mendigo! No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover: -Só podia ser bandido!

Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo, no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros.



PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos. ..



Rosana Jatobá é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo. Também apresenta a Previsão do Tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo.
Esse texto é parte da série de crônicas sobre Sustentabilidade publicada na CBN

Rosana Jatobá






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