Aracaju/Se,

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Sobral Pinto, A Consciência do Brasil


O que estou lendo?

Sobral Pinto, A Consciência do Brasil
A Cruzada contra o Regime Vargas
Autor – John W.F.Dulles


Contra-Capa

John W.F.Dulles é professor universitário de Estudos Latino-americanos na Universidade do Texas, em Austin, onde dá aulas de Política Brasileira. Publicou nove livros no Brasil, incluindo, mais recentemente, os dois volumes da obra Carlos Lacerda – A vida de um lutador, pelo qual foi agraciado com o Diploma Jonatas Serrano (hors-concours) da Academia Carioca de Letras e da União Brasileira de Escritores. Desta vez o historiador Dulles dedicou-se ao estudo da vasta correspondência do advogado brasileiro Heráclito Fontoura Sobral Pinto – que ainda não estava disponível para pesquisadores – ressaltando que o mais constante oponente de Getúlio Vargas foi um verdadeiro reformista, incomparável em demonstrar coragem e veemência face a juízes, tribunais e homens no poder.

Através de casos legais, ativismo em associações católicas e advocatícias, polêmicas jornalísticas e uma volumosa correspondência, Sobral Pinto lutou por democracia, moralidade e justiça, particularmente pelos desfavorecidos, sendo aclamado por seus admiradores como “uma dessas raras figuras heróicas no estilo das de Plutarco” e como “um intrépido Dom Quixote”. Em 1945 Alceu Amoroso Lima chamou Sobral de “O chefe da resistência moral”. E explicou: “Se vejo em Sobral Pinto a maior figura viva da nossa geração e o mais seguro orientador de nossos atos na difícil transição que estamos vivendo, é justamente porque a sua fortaleza moral e as suas convicções jurídicas e democráticas não se apóiam no primado dos acontecimentos ou no capricho das preferências, mas na rocha inabalável da Fé, da Esperança e da Caridade, as supremas virtudes que nos levam a Deus”.

Além dos muitos detalhes que este livro adiciona à história brasileira, ele ilumina o caráter de um homem que sacrificou seu sucesso financeiro no interesse da luta pela justiça e pela caridade. É leitura importante não apenas para estudiosos da história brasileira, mas também para um público mais abrangente, interessado na causa dos direitos humanos e da liberdade política, assim como serve de referência aos reformistas que continuam essa batalha.

O autor

John Watson Foster Dulles



John W. F. Dulles:
um historiador do Brasil
(1913-2008) 
Por Paulo Roberto de Almeida

Faleceu, no dia 23 de junho de 2008, aos 95 anos, num hospital de San Antonio, Texas, o historiador americano, brasilianista, John W. F. Dulles, deixando atrás de si enorme obra historiográfica sobre o Brasil contemporâneo. Hans Staden foi, provavelmente, o primeiro brasilianista de nossa história. Tendo sido capturado pelos índios tupinambás em meados do século XVI, o aventureiro alemão produziu, em seu retorno à Europa, um relato tão minucioso quanto fantástico de sua estada no Brasil: aparentemente ele conseguiu escapar quando seus algozes já se preparavam para degustar como verdadeiras delicatessen as partes mais saborosas de seu corpo. As práticas canibalescas, rituais ou gastronômicas, dos selvagens americanos estão, contudo, sendo contestadas pela moderna pesquisa antropológica, o que faz de nosso primeiro brasilianista antes um contador de aventuras do que um intérprete fiel da realidade brasileira de então.

Seja como for, nas pegadas de Hans Staden muitos outros visitantes estrangeiros percorreram os caminhos do Brasil em busca do fantástico e do exótico. Nesses cinco séculos de história, a espécie se multiplicou e uma fauna variegada de pesquisadores estrangeiros passou a freqüentar nossos arquivos e bibliotecas, a entrevistar autoridades civis e militares, a visitar fábricas e a palmilhar favelas e frentes de ocupação agrícola. Nem todos eles estariam dispostos a ver em Hans Staden o patrono da tribo dos brasilianistas, mas certamente a maior parte deles concordaria em que John Foster Dulles foi um de seus mais legítimos representantes. O velho Foster Dulles, que foi apelidado de “falcão da Guerra Fria”, nunca conseguiu que seus dois filhos homens trilhassem o caminho dos estadistas da família. O mais jovem, Avery, converteu-se ao catolicismo romano e tornou-se um dos mais respeitados teólogos da Igreja católica norte-americana. O mais velho, John (1913), preferiu ser engenheiro metalúrgico a enveredar pelo Direito e a diplomacia. Foi nessa condição que ele passou 16 anos trabalhando ao Sul do Rio Grande, de onde emergiu como mexicanista ao publicar, em 1961, Yesterday in Mexico, uma das melhores crônicas históricas sobre a revolução mexicana. Nessa época, o historiador amador resolveu aceitar um convite para vir trabalhar no Brasil a serviço da Hanna Mining, onde se consolidou seu gosto pela história narrativa, especialmente aquela ligada aos eventos políticos contemporâneos. De 1959 a 1962, como engenheiro, ele trabalhou na Cia. Mineração Novalimense, em Belo Horizonte.

Sua reputação de brasilianista competente foi inaugurada desde a aparição, em 1967, de Vargas of Brazil, uma sólida e equilibrada biografia política do grande líder brasileiro, que mereceria uma segunda edição nacional. Já definitivamente ligado à Universidade do Texas em Austin, John W. F. Dulles – como ele preferia ver o seu nome grafado, sendo que o W é de Welsh – deu prosseguimento a uma das mais consistentes carreiras acadêmicas ligadas ao estudo da história do Brasil contemporâneo nos Estados Unidos, junto com Thomas Skidmore, Robert Levine e Joseph Love. Em curto espaço de tempo ele publicou vários livros de história política brasileira: Unrest in Brazil (Agitação no Brasil, 1970), um precioso relato das crises político-militares dos anos 1955-1964, infelizmente ainda não editado em nosso país; Anarquistas e Comunistas no Brasil (1973), obra de consulta obrigatória para quem quiser reconstituir a história do movimento operário nas primeiras quatro décadas do século XX; dois volumes da minuciosa biografia do Presidente Castelo Branco (1978 e 1980), ambos oportunamente publicados no Brasil, aparentemente sem grande sucesso editorial e de público. Na seqüência das biografias, ele trataria ainda de Carlos Lacerda e Sobral Pinto, dois personagens que lutaram, cada um à sua maneira, pela democracia no Brasil.

Em 1983, a Editora da Universidade do Texas publicava o seu extremamente bem documentado Brazilian Communism, editado no Brasil pela Nova Fronteira em 1985, tendo sido precedido no Brasil, em 1984, pelo substancioso relato histórico sobre A Faculdade de Direito de São Paulo e a Resistência Anti-Vargas. Em ambos os livros, mas sobretudo em O Comunismo no Brasil, Dulles revela os inegáveis méritos e as inevitáveis insuficiências da narrativa histórica tradicional: o desfile impressionante de imensa quantidade de eventos, personagens e datas, a par do reduzido, ou quase nulo, esforço interpretativo. Essas características estão sobretudo presentes nos relatos biográficos, mas são também evidentes nas extensivas pesquisas sobre o movimento comunista brasileiro. Na maior parte dos casos, a abundância de informações factuais, rigorosamente precisas e alinhadas cronologicamente, conduz à submersão do processo histórico global, confirmando o velho dito de que uma árvore pode encobrir a floresta. Na verdade, não há nada de errado na compulsão documentalista do método do Professor Dulles: os ensaios interpretativos nunca poderiam ser feitos sem a matéria-prima da chamada histoire événementielle. Na França, aliás, a pátria de eleição da história estrutural no estilo dos Annales, assiste-se a uma retomada da história tradicional, depois de décadas de ditadura do processo sobre o evento. Em defesa do “narrador” Dulles deve ser dito que jornais antigos, documentos raros, protagonistas diretos e testemunhas privilegiadas não costumam freqüentar voluntariamente os gabinetes dos historiadores “interpretativos”. É preciso um árduo esforço de leituras, disposição para realizar centenas de entrevistas pessoais e, muitas vezes, uma resistência comprovada a poeira, traças e diversos tipos de roedores “críticos” para que obras do quilate das de Dulles venham à luz. A já vasta produção historiográfica do brasilianista de Austin tornou-se assim um referencial obrigatório para os historiadores e cientistas sociais brasileiros, fornecendo substrato material a uma visão global de nosso processo de desenvolvimento político e social.

O mais famoso brasilianista americano, que dividia seu ano acadêmico entre as cadeiras de Estudos Latino-americanos na Universidade do Texas em Austin e de História na Universidade do Arizona em Tucson, trabalhou em seus últimos anos em biografias políticas, uma das quais de Carlos Lacerda. A apresentação meticulosa e objetiva, ainda que elogiosa, da atuação política e jornalística do mais famoso tribuno do regime de 1946, pode abrir caminho a uma reavaliação crítica dessa figura controversa de nossa história. Lacerda foi odiado ou exaltado, por adversários e admiradores, mas raramente examinado com isenção. A historiografia contemporânea produzida no Brasil, geralmente de orientação progressista quando não esquerdista, tem sido implacável com o “demolidor de Presidentes”, como era conhecida essa figura de proa da UDN. Indiferente a nossas paixões partidárias, o Professor Dulles contribuiu recuperar para o presente um animal político que parece irremediavelmente extinto no cenário nacional: o líder de massas e o insuflador de opiniões. Ele não deu, infelizmente, continuidade à sua pesquisa sobre as correntes de esquerda na política brasileira. Anarquistas e Comunistas cobria os primeiros 35 anos do século XX e O Comunismo no Brasil contava a história do PCB entre 1935 e 1945. A documentação acumulada por Dulles sobre o período mais recente lhe permitiria, por exemplo, reconstituir a história do comunismo no Brasil em sua fase de ascensão e declínio, isto é, 1945-1964, e depois relatar a experiência dos movimentos de esquerda entre o golpe militar e a anistia de 1979. Cumprido este programa, o filho do ex-Secretário de Estado de Eisenhower teria deixado uma marca indelével na historiografia política brasileira, revelando a muitos de nós detalhes pouco conhecidos de nossa própria história.

Infelizmente, ele veio a falecer em junho de 2008, em plena atividade intelectual. Seu último livro publicado (em 2007) foi, justamente, Resisting Brazil's Military Regime: An Account of the Battles of Sobral Pinto, já traduzido e publicado no Brasil. Independentemente de considerações metodológicas que se possa fazer sobre sua obra, sua história “narrativa” vai seguramente resistir à marca do tempo e fornecer a mais de uma geração de historiadores brasileiros o fio condutor de sábias “interpretações” e doutas “lucubrações” sobre a política brasileira no decorrer do século XX.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Mata Escura

Os Crimes que abalaram Sergipe

(I)
O Mata Escura
Acrísio Tôrres (*)
 

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Peretti
Era o ano de 1842. Anselmo Francisco Peretti era presidente da província de Sergipe. Havia nele inteligência desenvolvida, sólidos conhecimentos, acentuada prática de administração pública. Era, porém, homem simples, modesto. “Venho executar uma tarefa muito superior às minhas forças”, dissera ao assumir o poder em 1842, nos primeiros anos do segundo reinado. Dois partidos políticos dividiam e dilaceravam a província de Sergipe. Eram partidos hostis, irreconciliáveis. Os seus chefes, Travassos e Botto, haviam chegado em 1837 a uma paz aparente nas lutas de Santo Amaro. É verdade que a intensidade de seu ódio recíproco começou a enfraquecer, depois da posse de Peretti na administração. Para isso, procurou o presidente da província guardar entre esses chefes a mais completa imparcialidade. Peretti não pertencia nem especulava em nenhum partido político, e logo compreendeu que esses partidos não representavam a expressão generalizada da população. Inteligentemente, colocou-se no centro dos interesses gerais da província. Não eram opiniões políticas divergentes que separavam esses partidos. Eles as tinham inteiramente idênticas, por mais estranho que a assertiva possa parecer.

Eram desagregados por motivos de interesses individuais, afeições e desafeições contrárias, aspirações de predomínio, de superioridade. Nasciam dessas circunstâncias gravíssimos excessos. Homens honestos, de conduta particular ilibada, figuravam em um e no outro partido. Eram incapazes de cometer crimes, de ordenar mesmo a prática de atos infringidores de normas sociais e políticas. Todavia, era à sombra deles que os mais perversos celerados, depois de perpetrarem os seus crimes e atentados, encontravam refúgio e amparo. Estranho contraste, somente explicável pela mentalidade política da época. O homem, acostumado a cevar as suas paixões, afrontava a moral e tudo ultrajava. Perseguia o seu semelhante, atirava-se contra ele, feria-o de morte, e logo proclamava-se membro de um dos partidos políticos da província. Desde então estabelecia-se forte simpatia entre o criminoso e pessoas as mais avessas à pratica de delitos, que o acolhiam, protegiam, defendiam. Era o ódio particular sobrepairando o respeito ao semelhante, à lei, sem o intento consciente de feri-la, nem contrariar autoridades.

As autoridades que não eram coniventes apavoravam-se à vista do patronato que recebia o crime. E, assim, por vezes esmorecia o braço que tinha de erguer a espada da lei, para que não caísse a venda de Temis. Não era necessário a Peretti revolver fatos outrora ocorridos para prova dessa verdade. Pouco antes de sua posse, à luz do dia, assassinos haviam tirado a vida ao vigário da freguesia de Propriá e a mais quatro pessoas, e nem ao menos foram processados. O padre Manuel José da Silva Porto, seguido de trinta sicários, pôs em cerco durante cinco horas a casa de José Álvares Pereira, juiz de paz da vila de Capela. Em presença das autoridades, contra o sitiado, venceu-o afinal, matou-o, e sadicamente lhe fez abrir o ventre. Toda essa pavorosa cena se passou ante os olhos da família do magistrado morto. No entanto, o assassino, padre Silva Porto, havia achado asilo na sua província e na de Alagoas, não tendo expiado ainda, até Peretti, tamanha manifestação de ferocidade. Havia insegurança nas próprias cadeias. Uma infeliz viúva foi espingardeada, como antes o marido, no quartel de um destacamento, onde, por estar em custódia, devia julgar-se segura.

Os criminosos, que suprimiram à miserável mulher a existência e lhe roubaram o ouro, viviam impunes. Não temiam a opinião pública, as autoridades, a justiça, os seus agentes. Eram, pelo povo, ironicamente chamados “chefes de polícia”. Peretti foi austero em favor da consecução e conservação da ordem, da tranquilidade pública na província de Sergipe. Perseguiu sem alívio os criminosos, envidando os seus esforços e os recursos da presidência no sentido de que fossem presos e punidos. Foi peremptório o presidente da província. “E se tais meios não bastarem, invocarei o auxílio do Imperador, … a fim de que aqui não haja quem por si ou por alheio socorro se julgue superior às leis e às autoridades”. Peretti havia assegurado não consentir, em sua administração, que nesta parte do Império, na província de Sergipe, o fraco continuasse à mercê do prepotente, e o homem pacífico a ser vítima da sanha de rivais sem consciência, avezados a transpor os limites do justo e do honesto. A população começou a respirar.

(*) - Do livro Sergipe/Crimes Políticos I, Cenas da vida sergipana 2, autoria de Acrísio Torres, Thesaurus Editora, prefácio do jornalista Orlando Dantas, páginas 75 a 77.

- Nova postagem de cenas da vida sergipana no dia 4 de janeiro de 2011. Vai continuar abordando  a história de Mata Escura, um criminoso sergipano, ainda do tempo do império, que foi condenado a morrer enforcado, tudo de acordo com o autor e obra acima.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Arthur Bispo do Rosario

Grandes Personagens

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO
A dois metros do chão


Walter Firmo
“Os doentes mentais são como beija-flores”, definia Bispo. “Estão sempre a dois metros do chão”. Para reconstruir o mundo, o sergipano considerado louco produziu uma das mais intrigantes obras artísticas do País. Mas não se dava o crédito: “São as vozes que me mandam fazer desta maneira”.Ele viveu num manicômio durante 50 anos e, dentro de um quartinho apertado, produziu um dos mais fantásticos conjuntos de obras do País. Tudo alheio ao que acontecia além dos limites do hospício. De forma absolutamente intuitiva, sem frequentar escolas de arte ou ler livros, Arthur Bispo do Rosário deixou acadêmicos abobados com sua expressividade e originalidade.

Arthur Bispo do RosárioPouco se conhece de sua infância e adolescência. O que se sabe é que nasceu na cidade de Jarapatuba, em Sergipe. Uns dizem que em julho de 1909. Outros, em março de 1911. A data mais aceita é 14 de maio de 1909. Aos 16 anos, foi inscrito pelo pai na Escola de Aprendizes de Marinheiros de Sergipe e embarcou num navio como ajudante-geral. Ficou na instituição até 1933, viajando pelo País e colecionando advertências por comportamentos inadequados. Mas também se tornou um bom boxeador. Foi campeão sul-americano na categoria peso-leve. Quando foi afastado da instituição, estava no litoral do Rio de Janeiro. Sua rotina era perambular pela cidade, fazendo pequenos bicos. Até ser aceito como lavador de bondes da Light. Um dia sofreu um acidente de trabalho. Ao levar o caso à Justiça, conheceu o advogado Humberto Leone, que, sensibilizado, convidou Bispo para morar num quartinho em sua casa. O sergipano tornou-se ajudante geral da família. Tudo ia bem até que vozes mudaram seu destino.

Reconstruir o mundo

Arthur Bispo do RosárioEra dezembro de 1938. Bispo disse ao patrão ter visto anjos e ouvido vozes celestiais. Saiu da casa e começou uma peregrinação por igrejas cariocas. No mosteiro de São Bento, anunciou aos monges: “Sou um enviado de Deus, encarregado de julgar os vivos e os mortos”. Detido pela polícia e fichado como “negro e indigente”, foi encaminhado ao hospício da Praia Vermelha. Depois, transferido para a Colônia Juliano Moreira, no subúrbio da cidade. O diagnóstico: esquizofrenia paranoide. A instituição seria sua casa pelos próximos 50 anos. Na Juliano Moreira, Bispo repetia a história para quem quisesse ouvir: “Vozes dizem para me trancar num quarto e começar a reconstruir o mundo”. E assim fez.Produzia sem parar, mesmo sob forte medicação e choques elétricos. Os companheiros de manicômio o ajudavam na missão, buscando entulhos e papelões que serviriam para seu trabalho. Às vezes ficava meses sem sair do quarto, numa jornada de 16, 18 horas por dia. Sete anos depois, a voz reapareceu: “A obra está concluída”. O que se viu era impressionante. Centenas e centenas de obras de alto valor artístico. Colagens, tapeçarias, estandartes, pinturas, bordados. Tudo com beleza, ineditismo, múltiplos significados. Seguia uma linha convergente ao que se discutia sobre arte contemporânea mundial, mesmo sem ter nenhum contato com influências exteriores. 

Cavalheiro e solitário

Fonte existente na Colônia Juliano Moreira
A fama de Bispo do Rosário se alastrou pela cidade e, depois, pelo País. Houve uma comparação imediata com Marcel Duchamp, o francês que criou o conceito de que objetos do cotidiano poderiam ser levados para o campo das artes. Recebia visitas de estudiosos, artistas, curiosos. Aos que queriam conhecer seu ateliê improvisado, fazia uma intrigante pergunta: “Qual é a cor do meu semblante?”. Se não gostasse da resposta, encerrava a visita. Para quem o chamava de artista, rebatia: “Não sou artista. Sou orientado pelas vozes para fazer desta maneira”. Tornou-se uma lenda, estudado por várias correntes do conhecimento. “É possível analisá-lo pela Psicanálise, pela Sociologia, pela História da Arte, pela Semiótica e pela Antropologia”, avalia Jorge Anthonio e Silva, autor de Arthur Bispo do Rosário – Arte e loucura (Quaisquer, 2003).           

Aqueduto existente
na Colônia
Entre as obras de maior impacto, está o Manto da Apresentação, uma veste com um emaranhado de pequenos símbolos e figuras, como tabuleiros de xadrez, mesas de pingue-pongue, ringues de boxe, crucifixos. Destaca-se também uma espécie de Arca de Noé, construída com papelão e pano, destinada a salvar o mundo. Além de uma nave que o levaria para o céu. Suas obras foram expostas em galerias de arte da cidade. Mas Bispo não era muito favorável a que elas saíssem do ateliê. As tratava como filhas, perguntava até se estavam bem. Era um homem sério, de poucas palavras. Um cavalheiro com as mulheres. Gostava de andar limpo e ficava semanas sem se alimentar. Sentia-se um enviado de Deus, uma espécie de Cristo. Gostava de concurso de misses e quase nunca era violento. Mas sempre solitário. “Os doentes mentais são como beija-flores: nunca pousam, ficam sempre a dois metros do chão”, costumava dizer. Em 5 de junho de 1989, se sentiu mal e foi atendido no setor médico. Estava muito magro pelos jejuns. Morreria horas depois, vítima de enfarto, aos 80 anos.


Arthur Bispo do Rosário
“Ele morreu na solidão de sua cela, sem ver seu império classificado como obra de arte, percorrendo o mundo”, diz a escritora Luciana Hidalgo, autora de Arthur Bispo do Rosário – O senhor do labirinto (Rocco, 1997). “Mas, aos olhos da crítica e do público, já era um artista.” Após várias exposições pelo País, a obra de Bispo representou o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, na Itália, em 1995. Hoje a Colônia Juliano Moreira não funciona mais como manicômio. O espaço abriga o Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea.
Publicado na revista Almanaque Brasil, de maio de 2010.


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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Imprensa - O 4° Poder

Os crimes que abalaram Sergipe

17/Imprensa, o 4° poder
Acrísio Torres (*)

Joaquim Pereira Lobo
Presidente de Sergipe em 1921
Era quase meio-dia de 3 de outubro de 1921. Mal terminava a impressão do Jornal do Povo, órgão de oposição, dez policiais à paisana, de revólver em punho, invadiram a redação e oficinas, como verdadeiros vândalos. O intuito era assassinar o seu diretor, dr. Manoel Nobre, que escapou passando-se para a casa vizinha. Os esbirros, a mando de Pereira Lobo, presidente do estado, penetraram no jornal aos gritos, furiosos, e a indagar “onde está o bandido do Nobre?” Não conseguiram satisfazer sua intenção criminosa. Por isso, esbordoaram empregados das oficinas, reviraram pranchas e tipos. Depois, retiraram-se, mas voltariam à noite com o fim de empastelar o jornal. Estava amordaçada a imprensa. Teve o fato grave repercussão em Aracaju, em todo o estado, no país. Pereira Lobo não admitia censuras à sua administração. Daí o plano sinistro, que traçou e mandou executar. Não assumiu, porém, a responsabilidade dos atentados. Pelo contrário, cinicamente, a imprensa do governo insinuou que o atentado não passara de uma encenação, preparada pelo dr. Manoel Nobre. Dissera mesmo tratar-se de uma farsa, para esconder a má situação financeira do jornal.

Mentiam os órgãos governistas. Tanto que, quando o fato repercutiu fora do estado, verberado da tribuna parlamentar, no congresso nacional, os órgãos oficiais mudaram de tática, e passaram a noticiar que a suspensão do Jornal do Povo se dera em vista de greve dos tipógrafos. A intervenção do governo, diziam, visara apenas garantir o dr. Manoel Nobre, o diretor, e seus redatores, por meio da polícia. Vê-se que Pereira Lobo admite a “intervenção” da polícia, que negara antes. Mas, era julgar o povo sergipano inconsciente, incapaz de apreciar fatos e homens. Não era difícil perceber a contradição do governo sergipano, contradição que mais fortalecia a posição do órgão de oposição. Por isso, o Jornal do Povo não deixou a estacada, na obra empreendida em prol de Sergipe. Havia uma decisão de incomum coragem, no diretor, dr. Manoel Nobre, e nos jornalistas Costa Filho e Virgínio de Sant´Anna, redatores. Proclamavam que ainda que o governo insistisse no propósito de amordaçar a imprensa, ainda assim o Jornal do Povo não deixaria de existir. E se impossível a sua publicação em Sergipe, por motivo de violências oficiais, ele seria impresso em outro estado, onde houvesse liberdade de imprensa.

Unicamente num caso isso não seria possível, isto é, no caso de que Pereira Lobo mandasse fuzilar a todos sumariamente. Protestos de solidariedade e manifestações formais de condenação aos processos de violências usados pelo governo, chegaram ao jornal e seus redatores, e diretor, de todas as partes. Telegramas do Rio, de São Paulo, da Bahia, de Pernambuco. Todos condenando as violências, e defendendo a liberdade de imprensa violada por Pereira Lobo. No Rio, O Avante, jornal de Maurício de Lacerda, publicava que “Pereira Lobo mandara invadir por soldados à paisana o Jornal do Povo, de Aracaju”. E acrescentava que “tipógrafos foram espancados, e o diretor, dr. Manoel Nobre, foragido e ameaçado de morte”. E concluía que “começava o cangaço nas terras de Sergipe, infâmia que se estende do Palácio do Catete aos palacinhos dos governichos estaduais”. Não é outra a linguagem do Correio da Manhã, ao dizer que o Jornal do Povo é “em Aracaju o órgão de reação republicana, sustentando a propaganda eleitoral em favor das candidaturas Nilo-Seabra”. E acrescentava que “essa atitude irritou o governismo local, amarrado como tantos outros, aos compromisso criados pela famosa combinação Bernardes”. Daí as violências contra o diretor e redatores do Jornal do Povo.

Jornal A Noite
Rio de Janeiro
No mesmo diapasão se manisfestava A Noite, do Rio. Também o Jornal do Brasil, fazendo graves considerações em torno do atentado contra o Jornal do Povo. Dizia o grande jornal que não precisava de “comentários para mostrar bem claro como vai em Sergipe a liberdade de imprensa; o órgão amordaçado defende a politica da dissidência, e daí a violência praticada”. Eram, na verdade, os estertores do despotismo. Não só na imprensa do país repercutiu o atentado contra o Jornal do Povo. Teve graves repercussões também na assembleia fluminense, mais grave ainda no congresso nacional, neste através de vários pronunciamentos do senador Vespúcio de Abreu. Tudo isso levou ao habeas-corpus concedido ao Jornal do Povo, pelo então Tribunal de Relação, hoje de Justiça, deste estado, Ficava, assim, assegurado o direito de livre manifestação do pensamento. Uma vitória da Jornal do Povo. Uma vitória da imprensa livre.

(*) - Do livro Sergipe/Crimes Políticos I, Cenas da vida sergipana 2, autoria de Acrísio Torres, Thesaurus Editora, prefácio do jornalista Orlando Dantas, páginas 69 a 71. 

- Nova postagem de cenas da vida sergipana no dia 28 de dezembro de 2010. Vai abordar, em nove séries, a história de Mata Escura, um criminoso sergipano que foi condenado a morrer enforcado, tudo de acordo com o autor e obra acima. 

sábado, 18 de dezembro de 2010

A Nau dos Insensatos

Artigo pessoal

A nau dos insensatos
Clóvis Barbosa (*)

Friedrich Nietzsche
1844-1900
É verdade. Muitos que lêem, aprendem. Outros não. A bíblia, a história, os grandes mestres, a filosofia, as obras literárias, estão cheias de ensinamentos. O homem, entretanto, apesar de ser capaz de desenvolver descobertas fantásticas na área da tecnologia, involuiu no campo do aprendizado com a vida. Teima em repetir erros cotidianamente registrados nos anais da história. Tudo bem. Erra-se inconscientemente, não era essa a pretensão, justifica-se, após produzir o caos e a destruição antes do tempo. Nada disso, conversa fiada! Erra-se porque não é sábio, não assimilou os bons ensinamentos e optou pela mediocridade como exemplo. Incorporou maus sentimentos ao seu cotidiano. Vaidade, auto-suficiência, arrogância e, sobretudo, esqueceu-se de ouvir. Ou ouviu mal. Nietzsche estava certo: "Deus acertou ao limitar a inteligência humana, mas errou em não limitar a burrice". O “conselho” que, conforme se diz, se fosse bom, não se dava, vendia-se, o que não é verdade, é o maior exemplo de como a insensatez predomina na mente dos incautos.

José Ingenieros
1877-1925

Conselho sempre foi bom e faz muita diferença numa situação de conflito, principalmen-te quando é dado por pessoas, como diria Ingenieros (O Homem Medíocre, Ícone Editora), que extasiam-se diante de um crepúsculo, sonham frente a aurora ou se arrepiam na eminência de uma tempestade, que gostem de passear com Dante, rir com Moliere, tremer com as tragédias de Shakespeare ou assombrar com Wagner. Enfim, o conselho sempre é bom quando dado por quem sabe velejar nos mares da sensatez. Agora, só dá certo para quem precisa e para quem quer ser ajudado. Aqueles que se acham argutos, espertos, eruditos, não! Por serem auto-suficientes, e muitas vezes, por assim se acharem, preferem se unir aos vampiros de energia, aqueles que são ornados de todas as virtudes da mediocridade. Tobias (4,18) sempre ensinou seu filho a dar ouvidos aos conselhos dos sábios e a não desprezar nenhum bom conselho.

Tobias fez desses ensinamentos, o seu caminhar pela sua longa vida. E morreu cercado de honra, aos cento e dezessete anos de idade. A mulher de Ló (Gênesis 19,26) recebeu também boas instruções, mas sua índole era cheia de desdém, o que fez com que Deus a castigasse, transformando-a em estátua. Todos sabem como se deu a destruição de So-doma. Justamente por terem amparado os dois anjos da fúria dos habitantes da cidade, foi Ló aconselhado a sair daquele lugar com a sua mulher e as duas filhas antes da destruição, sob a fixa determinação de não olhar para trás e não parar em lugar algum, seguindo para a montanha. Não era para olhar para trás, mas a mulher não quis ouvir o conselho, resultado, virou uma estátua de sal; o rei Roboão (1 Reis 12,8) não aceitou ser guiado pelos ensinamentos dos anciãos, que tantos serviços prestaram a Salomão, seu pai, quando ainda estava vivo, preferindo outro caminho. Seguiu os inaptos, sem cultura, sem experiência, resultado, perdeu dez tribos e continuou sendo um apoucado; se Nabucodonosor (Daniel, 4,24-33) tivesse ouvido Daniel, que o aconselhou a pagar os seus pecados praticando a compaixão e reparando as suas faltas cuidando dos pobres, ele não teria sido transformado em animal, comendo capim como gado e a ficar ao esmo. “Seu cabelo ficou comprido como penas de águia e as unhas cresceram como unhas de passarinho”; e Judas Macabeu (1 Macabeus 9,1-18), o mais forte dos homens, cujos feitos lhe renderam a fama, o herói do povo de Israel, não teria perdido a vida caso houvesse seguido as palavras dos seus companheiros que, sensatamente, tentaram demovê-lo da idéia de enfrentar um exército bem mais numeroso, logo após a deserção desenfreada de seus homens. Portanto, quem ignora e descrê dos bons conselhos, seguindo a sua presunção, perde o bonde da história.

Baltasar Gracian
1601-1658

Faz com que a inteligência seja ofuscada pela mediocridade, ou como diria Flaubert, “um homem que pensa de maneira baixa”. Gracian (A Arte da Prudência, Editora Sextante), acentua que a vida humana é uma luta contra a malícia do próprio homem, adiantando, também, que conhecimento sem bom senso é uma dupla loucura. A insensatez, lamentavelmente, é um cancro que impregna o tecido humano, vicia a alma e destrói os sonhos. Está presente em todas as carreiras, sejam nas áreas das ciências exatas, sejam nas humanas; sejam entre as classes mais abastadas, sejam entre as menos favorecidas. Entristece, contudo, quando a Inteligência sucumbe à insensatez. Não cabe, aqui, discutir as origens desse rebaixamento moral, mas é importante enfrentarmos o dragão verde que solta bolas de fogo pelas narinas existente em nós, como pensado por Nietzsche. Ele não pode continuar impedindo o nosso peregrinar em busca da perfeição.

(**) Publicado no Jornal da Cidade, edição de domingo, 31.10.2010 e segunda-feira, 1º de novembro de 2010, Caderno B, página 4.

J’accuse...! A Verdade em Marcha, de Émile Zola

O que estou lendo?


J’accuse...! A Verdade em Marcha
Autor – Émile Zola
Tradução de Paulo Neves
Prefácio de Henri Guillemin
Editora – L&PM



Contra-Capa

A força da liberdade de expressão


Alfred Dreyfus

Como jamais visto na história da imprensa até então, Émile Zola (1840-1902) mobilizou a opinião pública francesa para tentar corrigir uma das maiores injustiças cometidas pelo Estado contra um indivíduo. Cidadão francês, oficial de artilharia e judeu, Alfred Dreyfus foi vítima de uma armação política. Em 13 de janeiro de 1898, Zola tornou pública sua opinião em J’accuse, uma carta aberta ao presidente da república da França em defesa de Dreyfus, publicada no jornal L’Aurore, com tiragem de trezentos mil exemplares. Era a primeira de uma série de denúncias sobre o caso, que dividiu o país, redesenhando os contornos da direita e da esquerda francesas. Uma ode à liberdade de expressão e aos direitos humanos, J’accuse se tornou um marco na história do jornalismo e mostrou a força dos intelectuais frente à opinião pública e ao Estado. Este livro apresenta esse e outros artigos que Zola escreveu e posteriormente reuniu sob o nome de J’accuse...! A verdade em marcha, revelando as entranhas de um dos maiores atentados às liberdades individuais perpetrados por um país contra um só homem.


O autor
Émile Zola
(1840-1902)

Émile Zola nasceu em 10 de abril de 1840, em Paris, filho de François Zola, um engenheiro italiano, e da francesa Émilie Aubert. Em 1843, a família se mudou para Aix-en-Provence, no sul da França, onde o futuro escritor conheceu Paul Cézanne, de quem se tornaria grande amigo. Quando Zola tinha sete anos, seu pai morreu, deixando a família em dificuldades financeiras. Em 1858, ele se mudou com a mãe para Paris, onde passou a juventude, e começou a escrever sob a influência do romantismo. A mãe de Zola queria que o filho estudasse Direito, mas ele fracassou no exame de conclusão da escola.

Émile Zola
Antes de se dedicar unicamente à ficção, Zola trabalhou na editora Hachette e escreveu colunas literárias, crônicas e crítica de artes para jornais. Nos textos sobre política, não escondia sua antipatia por Napoleão III. Durante os anos de formação, escreveu uma série de histórias curtas e ensaios, além de peças e novelas. Um dos seus primeiros livros foi Les contes á ninon, publicado em 1864. Quando o sórdido romance autobiográfico La confession de Claude foi publicado, em 1865, o autor atraiu a atenção da polícia e da opinião pública. Nessa época, conheceu Manet, Pissarro, Flaubert e os irmãos Goncourt e, em 1870, casou-se com Alexandrine Meley, mas foi com a amante, Jeanne Rozerot, que teve dois filhos.

Depois do primeiro romance de sucesso, Thérèse Raquin (1867), Zola começou a longa série chamada Les Rougon Macquart (1871-1893), uma história social de uma família no Segundo Império, que chegou a vinte volumes, mostrando o mundo dos camponeses e trabalhadores. O resultado foi uma combinação de precisão histórica, riqueza dramática e um retrato acurado dos personagens.

A publicação de L’Assommoir (1877), uma descrição profunda do alcoolismo e da pobreza na classe trabalhadora parisiense, fez de Zola uma dos mais conhecidos escritores da França. O tratado Le Roman expérimental (1880) manifestou a crença do autor na ciência e na aceitação do determinismo científico.

Em 1885, Zola publicou uma de suas principais obras, Germinal, retratando uma greve de trabalhadores das minas de carvão. O livro foi atacado pela direita como sendo um chamado para a revolução. Nana (1880), outro famoso trabalho do autor, leva o leitor ao mundo da exploração sexual. Les quatre Evangiles, tetralogia iniciada com Fécondité (1899), foi deixada inacabada.

Zola arriscou a carreira - e a vida – ao publicar J’accuse, uma carta aberta ao presidente da República francesa, editada na primeira página do jornal L’Aurore, na qual defendia a inocência de Alfred Dreyfus e criticava a postura antissemita e autoritária do alto escalão do exército francês. Em função disso, Zola foi condenado à prisão e expulso da Legião da Honra em 1898. Conseguiu escapara para a Inglaterra, onde permaneceu até 1899. Nesse mesmo ano, Dreyfus – após o perdão presidencial – foi solto, mas somente em 1906 o Estado reconheceu a injustiça cometida.

Em 29 de setembro de 1902, sob misteriosas circunstâncias, Zola morreu asfixiado por monóxido de carbono enquanto dormia. De acordo com algumas especulações – inclusive do filho de Zola, Jacques-Émile -, os seus inimigos teriam bloqueado a chaminé do seu apartamento para matá-lo. Em 1908, os seu restos mortais foram transferidos para o Panteão de Paris.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Gilberto Amado-Aníbal Theófilo - O julgamento

Os Crimes que abalaram Sergipe

15. Gilberto Amado-Aníbal Theófilo. O julgamento (*)
Acrísio Torres

Gilberto Amado
Gilberto Amado foi a júri no dia 30 de junho de 1916, um ano depois do assassinato de Aníbal Theófilo. O promotor público, que foi auxiliado pelo dr. Cyrillo Júnior, pedira a pena máxima. Mas, os advogados de defesa, Evaristo de Moraes, Aníbal Freire e Manoel Villaboim, refutaram com vantagem a acusação. O júri reconhecera que o réu havia assassinado a vítima com superioridade em armas, mas com privação de sentidos. Deste modo, o juiz pôs o acusado em liberdade. Embora ocorrido no Rio, o crime de Gilberto Amado, crime que ele, depois de tantas humilhações de Aníbal Teófilo, não pudera evitar, e o reconhecera a absolvição do júri, o crime de Gilberto, repito, teve largas repercussões políticas em Sergipe. Parece estranho à primeira vista, esta afirmação, mas teve decisiva influência nos novos rumos da política sergipana. Estava no governo de Sergipe Oliveira Valadão, que, aliás, o detinha pela segunda vez, num espaço de tempo de apenas duas décadas.

Oliveira Valadão
Nos dois períodos de governo, Oliveira Valadão revela personalidades políticas bem diferentes, extremas, contrastantes, já que violento no primeiro, voltou moderado no segundo período de administração. Esquecido dos atos de força e violências da primeira presidência, de 1914 a 1918, tomou a decisão de administrar sem oposição. Pretendia realizar. Para isso, duas condições eram necessárias. Uma delas, a reconciliação política com Francino Melo, um dos homens mais ricos do estado, na época, e a outra condição a aproximação política com o deputado Joviniano de Carvalho, que tinha jornal de oposição, o Sergipe Jornal. Não podia deixar de ser esta a posição de Oliveira Valadão, ele que na ocasião da posse lamentara “os tristes e lutuosos incidentes anteriormente ocorridos”.


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Francino Melo
Só no caso da conciliação com o deputado Joviniano de Carvalho não influíra o crime de Gilberto Amado. Na verdade, o presidente Oliveira Valadão criou o cargo de diretor da Secretaria de Governo, e o ofereceu a Joviniano, que o aceitou para o genro, Gervásio Prata, que chegou a desembargador, neste estado. Não houve dificuldades, porque Joviniano estava também interessado na pacificação política em Sergipe. No entanto, talvez a aproximação e conciliação política com Francino Melo nunca tivesse sido possível a Oliveira Valadão, sem o lamentável crime de Gilberto Amado. E disso Valadão soube tirar proveitos políticos, benéficos a Sergipe. Cometido o crime contra o poeta gaúcho Aníbal Theófilo, Gilberto, sem recursos para a contratação de advogados, três, telegrafou ao presidente sergipano, Oliveira Valadão, de quem era muito amigo, pedindo ajuda financeira.


Evaristo de Moraes
Advogado
de Gilberto Amado
Oliveira Valadão, porém, sempre foi de escassos recursos econômicos. Por outro lado, honesto, não lhe parecera justo gastar o dinheiro do estado, ainda que se tratasse de um representante sergipano na câmara federal. Foi quando, com o tato que lhe era inato, e antevendo os efeitos políticos da atitude que ia assumir, que recorreu a Francino Melo, grande fortuna. Procurou-o e expôs a situação de Gilberto, e não só fundou sua interferência no fato de se tratar de um grande representante de Sergipe, no congresso nacional, mas de um intelectual a caminho da consagração literária, no país. Francino Melo, num exemplo de elevação política, exemplo raro, concordou em ajudar a Gilberto Amado, e os dois homens públicos apertaram as mãos, e se reconciliaram. Não só esta conciliação interessou particularmente a Oliveira Valadão, mas sobretudo ao estado, pelas obras beneméritas que, ainda no período administrativo de Valadão, Francino Melo se prontificou idealmente a realizar. Desta forma, o crime de Gilberto Amado levara a esquecer mágoas e futuros conflitos da parte de Oliveira Valadão e Francino Melo. Mais uma vez, comprovava-se aqui a sabedoria popular que diz que “não há um mal que não traga um bem”.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 65/67.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 21 de dezembro de 2010. Vai falar sobre a invasão do Jornal do Povo, por policiais à paisana, de revolver em punho, fato ocorrido em 3 de outubro de 1921. Veja, pois, Imprensa, o 4º poder, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.
Adendo
Conheça Aníbal Freire
Um dos advogados de Gilberto Amado

Biografia
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Aníbal Freire
Terceiro ocupante da Cadeira 3, eleito em 30 de setembro de 1948 na sucessão de Roberto Simonsen e recebido pelo Acadêmico João Neves da Fontoura em 10 de maio de 1949. Recebeu o Acadêmico Assis Chateaubriand em 27 de agosto de 1955. Aníbal Freire da Fonseca, jornalista, magistrado e professor, nasceu em 7 de julho de 1884, em Lagarto, SE, na mesma cidade em que nasceram dois outros antigos acadêmicos, Sílvio Romero e Laudelino Freire, seu tio. Faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 22 de outubro de 1970.

Filho de Antônio Cornélio da Fonseca, advogado provisionado, e de Júlia Freire da Fonseca. Fez o curso de preparatórios no Ginásio Sergipano, dirigido pelo notável professor Alfredo Montes, e no Ateneu Sergipano. Ainda estudante, em 1898, começou a fazer jornalismo, profissão a que votaria sempre, com os intervalos de sua carreira de político e suas atividades jurídicas. Em 1903, diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife, tendo exercido antes o cargo de promotor público de Aracaju, Sergipe. Em 1904 foi nomeado subinspetor de Seguros em Pernambuco. Foi eleito deputado estadual em 1907. No mesmo ano fez concurso para professor da Faculdade de Direito do Recife, seção de Economia Política, Finanças e Direito Administrativo, sendo nomeado. De 1908 a meados de 1909 exerceu o cargo de Secretário -Geral do Estado de Pernambuco, no Governo Herculano Bandeira. Em setembro de 1909 foi eleito deputado federal. Em 1916, foi provido no cargo de professor catedrático de Direito Administrativo. Eleito deputado federal para a legislatura de 1924-1926, renunciou o mandato para ocupar o cargo de Ministro da Fazenda, de 1925 a 1926, no governo de Artur Bernardes. Voltou à Câmara dos Deputados, na legislatura de 1927 a 1920. Exerceu as funções de membro do Conselho Superior de Ensino de 1913 a 1923 e do Conselho Nacional de Educação, de 1934 a 1940. De fins de 1938 a junho de 1940 exerceu o cargo de Consultor Geral da República, de que se afastou, por ter sido nomeado Ministro do Supremo Tribunal, no qual se conservou até maio de 1951, quando foi aposentado, por tempo de serviço.

Começou a militar no jornalismo em 1898, colaborando no Tempo e no Estado de Sergipe. Em 1901, foi redator da Gazeta da Tarde no Rio e de 1902 a 1909, redator principal do Diário de Pernambuco, então de propriedade do Senador Rosa e Silva. De 1926 a 1929, foi diretor do Jornal do Brasil, função que voltou ocupar de 1937 a 1940. Afastou-se, então, das lides jornalísticas, por haver ingressado no Supremo Tribunal Federal. Aposentado no cargo de Ministro, voltou à direção do Jornal do Brasil, em julho de 1951, do qual se afastou, definitivamente, em 1961.

Em setembro de 1955, foi nomeado presidente e membro da Comissão Permanente do Livro do Mérito e Chanceler da Ordem do Mérito, cargo do qual se exonerou em janeiro de 1956. Em junho do mesmo ano foi novamente nomeado para as mesmas funções, tendo-se exonerado em agosto de 1958. Foi membro da Sociedade Brasileira de Direito Internacional; sócio efetivo do Instituto Arqueológico Pernambucano; sócio do PEN Clube do Brasil e sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Vide : www.academia.org.br/

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Crime de Gilberto Amado

Os Crimes que abalaram Sergipe


15. Gilberto Amado-Aníbal Theófilo. O crime (*)
Acrísio Torres

Gilberto Amado
No dia 20 de junho de 1915, tarde de sábado, um incidente doloroso causou a mais profunda impressão na população do Rio, então capital federal. O triste caso ocorreu à entrada do Jornal do Comércio, entre o deputado federal Gilberto Amado e o literato Aníbal Theófilo, no instante em que no salão do dito jornal realizava-se uma festa literária.
Estava presente grande número de intelectuais. Durante a festa o poeta Aníbal Theófilo repelira o cumprimento de Gilberto Amado, que, no final, por intermédio do advogado Paulo Hasslocker, pedira satisfações pelo ato de incivilidade. Não só negou-se a dá-las, o poeta, mas fez referências desabonadoras ao ofendido.

Estância-SE, cidade onde nasceu Gilberto Amado
Então, Gilberto Amado desfechou três tiros de pistola contra Aníbal Theófilo, sendo este prostrado ao solo por um dos projéteis, que atingira a nuca da vítima. Tombara morto o poeta gaúcho. Gilberto foi preso em flagrante, e recolhido ao quartel da brigada policial. Número considerável de amigos, deputados e senadores, passou a visitá-lo, lamentando o infeliz incidente. Por outro lado, o enterro de Aníbal Theófilo, no Cemitério de São Francisco Xavier, teve numeroso acompanhamento, falando à beira do túmulo Alcides Maia, Flexa Ribeiro e Vicente Souza. Logo depois a Sociedade dos Homens de Letras constituíra o advogado Bernardino Bandeira para, como representante da família do morto, acompanhar o processo. Coelho Netto, na ocasião, fez amargas censuras a Gilberto, censuras injustas, aliás, enquanto literatos e jornalistas dividiram as opiniões dos jornais cariocas.


Coelho Netto

Há tempos havia entre Gilberto e Aníbal, uma irreconciliável discórdia. Muitas vezes Gilberto sofrera agressões de Aníbal, de quem sempre temera. No seu depoimento diz que, certa vez na redação de Careta, não só o poeta recusou apertar a sua mão, mas disse: “Sai, senão cuspo-lhe na cara”. Não chegou a cuspir na cara de Gilberto, mas fê-lo no solo escarnecedoramente. Leal de Souza e Bilac Guimarães presenciaram o fato e o reafirmaram em juízo. Gilberto confessa haver deixado, envergonhado, a redação de Careta. Nunca antes havia sofrido humilhação tamanha. Não pudera, nunca, mesmo, compreender as desfeitas de Aníbal, que sempre admirara. Na opinião geral, não passavam de “coisas de literatos”. No entanto, continuaram os escárneos e as humilhações de Aníbal Theófilo ao jovem literato sergipano.

Alberto de Oliveira

De outra vez, a propósito da derrota de Gilberto Amado para ingressar na Academia Brasileira de Letras, Aníbal lhe dissera na face: “A Academia não quer, dentro dela, covardes e bandidos!”. Humilhações assim teriam um trágico desfecho, no salão da Hora Literária, realizada no Jornal do Comércio. No salão de conferências, sentado ao lado de Alberto de Oliveira, Gilberto foi avistado por Aníbal, que passou a ameaçá-lo. Terminada a festa literária, as provocações de Aníbal continuaram, enquanto a mulher de Gilberto lhe pedia calma. Gilberto talvez estivesse disposto a suportar passivamente mais um insulto, quando Paulo Hasslocker lhe disse: “Gilberto, um homem não suporta isso! Meta a bengala neste bandido”. Gilberto respondeu: “Paulo, nunca tomarei atitude contra inimigos desta ordem!”. Não importava a Gilberto Amado o juízo que dele fizessem, na sua atitude de passividade ante as agressões de Aníbal Theófilo. Nada tendo feito a Aníbal, preferia desprezá-lo sempre, a brigar com ele. Não há negar que Gilberto sentia vergonha de si mesmo, mas sua disposição era de resignação e sacrifício próprios. Para ele, isso era necessário à sua família, mulher e filhos. Nada disso demoveria Aníbal de seus intentos, pois este o aguardava no andar térreo, em atitude de agressão. Procurou uma saída pelos fundos, mas Aníbal o tolhera. Encaminhando-se para o agressor, Paulo Hasslocker teve de recuar a um golpe de Aníbal. Nessa ocasião, sentiu Gilberto que sua desonra e desgraça precisavam de limites, e, conforme declarou no depoimento, sentira que, dentro dele, qualquer coisa de estranho, de confuso, lhe tomara a consciência. Matara Aníbal Theófilo (**).

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 61/63.

(**) “... Aníbal Theófilo, assassinado covardemente pelo deputado Gilberto Amado, que, por isso, foi promovido a senador”. Humberto de Campos. Diário Secreto, I, Quarta-feira, 4 de abril de 1928.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 14 de dezembro de 2010. Vai falar sobre o julgamento do crime praticado por Gilberto Amado contra o poeta Aníbal Theófilo, ocorrido no Rio de Janeiro no dia 20 de junho de 1915, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.

Adendo
Poemas do poeta Aníbal Theófilo

Súplica 


A provar que hei perdido a segurança
Desde, Senhora, que cheguei a ver-vos,
Ao juízo recusam-se-me os nervos,
E sucede-me insólita mudança.

Tremo por mim, pesar que a linda e mansa
Face vossa me induza a vir dizer-vos
Esta infinita insânia de querer-vos
E na alma quanto sinto de esperança.

Apiedai-vos de mim, cuja loucura
Em toda parte só divisa abrolhos
Depois de ter o olhar de leve posto
Em vosso airoso talhe, em vossa alvura,
Nas duas noites que mostrais nos olhos,
Nas duas rosas que trazeis no rosto.


Cegonha
Em solitária, plácida cegonha
Imersa num cismar ignoto e vago,
Num fim de ocaso, à beira azul de um lago,
Sem tristeza, quem há que os olhos ponha?

Vendo-a, Senhora, vossa mente sonha
Talvez, que o conde de um palácio mago,
Loura fada perversa, em tredo afago,
Mudou nessa pernalta erma e tristonha.

Mas eu, que em prol da Luz do pétreo, denso
Do Ser ou do Não-Ser tento a escalada,
Qual morosa, tenaz, paciente lesma,
Ao vê-la assim, mirar-se n’água, penso
Ver a Dúvida humana debruçada
Sobre a angústia infinita de si mesma!


Biografia de Gilberto Amado


Gilberto Amado, jornalista, político, diplomata, poeta, ensaísta, cronista, romancista e memorialista, nasceu em Estância, SE, em 7 de maio de 1887, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1969. Eleito em 3 de outubro de 1963 para a Cadeira n. 26, na sucessão de Ribeiro Couto, foi recebido em 29 de agosto de 1964, pelo acadêmico Alceu Amoroso Lima. Era o primeiro dos 14 filhos do casal Melchisedech Amado e Ana Amado. Fez os estudos primários em Itaporanga, também no interior do Sergipe. Depois estudou Farmácia na Bahia e diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife, da qual se tornou, ainda muito moço, catedrático de Direito Penal.

Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando a sua colaboração na imprensa, no Jornal do Commercio com um estudo sobre Luís Delfino. Passou depois a ocupar uma coluna semanal, em O País. Em 1912, realizou sua primeira viagem à Europa assunto de um de seus livros de memórias e em 1913, como era então a moda, pronunciou, no salão nobre do Jornal do Commercio, a convite da Sociedade dos Homens de Letras, uma conferência em que fez o elogio do espírito contemplativo A chave de Salomão, que no ano seguinte, juntamente com outros escritos, seria publicada em livro.

Em 1915, foi eleito deputado federal por Sergipe. Sua atuação na Câmara se fez sentir, sobretudo, através de discursos que se tornaram famosos, como o que pronunciou na sessão de 11 de dezembro de 1916 sobre "As instituições políticas e o meio social no Brasil". Nos últimos anos da República Velha, exerceu mandato no Senado, até encerrar-se a sua carreira política, com a Revolução de 1930. Em 1931, chamou a atenção do país, e especialmente dos revolucionários de 30, vitoriosos mas indecisos, para problemas de direito político, como os sistemas representativos, a representação proporcional, o sufrágio universal. Depois de um curso de conferências sobre esses temas, publicou Eleição e representação (1932), de viva atualidade ainda hoje. Por essa época, voltou ao magistério superior, na Faculdade de Direito do Distrito Federal, iniciando um novo e fecundo período em sua vida, de estudos e trabalhos.

Em 1934, deu início ao que foi, desde então, a sua atividade permanente: a diplomacia. Foi nomeado consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, sucedendo a Clóvis Beviláqua. Desse posto passou ao de embaixador, sendo a sua primeira missão junto ao governo do Chile (1936). De 1939 a 1947, foi ministro na Finlândia. A partir de 1948, tornou-se membro da Comissão de Direito Internacional da ONU, sediada em Genebra. Os arquivos do Itamarati guardam os numerosos relatórios, pareceres e teses de Gilberto Amado, documentos da sua contribuição ao estudo do Direito Internacional, durante o período de 28 anos em que integrou essa Comissão. Foi também delegado do Brasil a todas as sessões ordinárias da Assembléia Geral da ONU, desde as primeiras, realizadas ainda em Lake Success, logo depois da assinatura da Carta de São Francisco, até à última a que pôde comparecer, reunida em Nova York em 1968. São de sua autoria publicações que se encontram no Anuário das Nações Unidas, tais como: "Direitos e deveres dos Estados", "Definição da agressão", "Processo arbitral", "Reservas às Convenções multilaterais", e outras.

Afastado do Brasil em missões oficiais no exterior, Gilberto Amado aos poucos foi se tornando, entre nós, figura mítica. Periodicamente vinha ao Brasil, fazendo quase sempre coincidir sua permanência no Rio com o lançamento de um novo livro. Como toda figura mítica, tornou-se conhecido, sobretudo, pelas lendas e anedotas que circulavam a seu respeito, reproduzindo ditos espirituosos e atitudes inusitadas. A carreira de escritor seguiu sempre paralela à do político e do diplomata. Em 1917 publicou os versos de Suave ascensão, lírico intermezzo numa fase de intensas preocupações críticas, filosóficas, jurídicas e sociológicas, que se exprimem em sucessivos ensaios sobre problemas brasileiros. Em 1932, publicou Dança sobre o abismo, em que retorna ao ensaio literário, e, no ano seguinte, Dias e horas de vibração, crônicas de Paris. Surgiu como romancista, em 1941, com Inocentes e culpados e, no ano seguinte, com Os interesses da companhia. Em 1954 iniciou a publicação de sua memórias, com História da minha infância, a que se seguiram mais quatro volumes.

Obras: A chave de Salomão e outros escritos, ensaios (1914); A suave ascensão, poesia (1917); Grão de areia, ensaio (1919); Aparências e realidades, ensaio (1922); Eleição e representação, conferências (1932); Dança sobre o abismo, ensaio (1932); Espírito do nosso tempo, ensaio (1933); Dias e horas de vibração, crônicas (1933); Inocentes e culpados, romance (1941); Os interesses da companhia, romance (1942); Poesias (1954); Assis Chateaubriand, ensaio (1953).

MEMÓRIAS: História da minha infância (1954); Minha formação no Recife (1955); Mocidade no Rio e primeira viagem à Europa (1956); Presença na política (1958); Depois da política (1960).

Biografia feita pela Academia Brasileira de Letras: http://www.academia.org.br/




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