terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Mulheres da Antiguidade - Corina e as suas companheiras poetas
Isto
é história
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
CORINA E AS SUAS COMPANHEIRAS POETAS
Vicki León
Originalmente,
poesia significava palavras colocadas na música. Nossa expressão “lírico” vem
de lira, o instrumento de cordas frequentemente utilizado para acompanhar a
palavra falada ou cantada. Os gregos tinham uma longa tradição de reverenciar
poetas como Safo, acreditando que eles funcionavam como canais sagrados para os
deuses. Ironicamente, sua bem-merecida popularidade (e o pequeno número de
poemas deixados por outras mulheres além de Safo) colocou as outras poetas,
como as três que se seguem, à sombra.
Corina,
da cidade de Tânagra do século V, a. C., era uma contemporânea de Píndaro,
considerado o melhor poeta homem do mercado pelos vencedores dos jogos
olímpicos, que lhe pagavam uma boa nota para escrever poemas pegajosos de
adulação. Entretanto, na mais importante competição de poetas, Corina ganhou de
Píndaro cinco vezes seguidas. Num hábil discurso de derrota, dizem que Píndaro
a chamou de porca. Em uma outra ocasião, depois de ler a imagem retórica
incrustada de mitos de seu rival, Corina gentilmente sugeriu: “Tente semear com
a mão, não com o saco”. Os fragmentos que restam de seu trabalho têm um tom
límpido e melancólico – neles não encontramos versos sufocados por mitos.
Em
torno de 300 a.C., Anite de Tegea, no sul da Grécia, era admirada pelos seus
encantadores epigramas e epitáfios para animais. O mais importante é que ela
pode ter sido a primeira pessoa a transformar as glórias da natureza em poesia.
A fama de Anite a tornou heroína de uma estranha história, que ainda era
contada quinhentos anos mais tarde. Ela conta que num sonho, Esculápio, o deus
da cura, ordenou que Anite entregasse uma mensagem interurbana a um homem
chamado Falásio, que estava ficando cego. Ao acordar, ela encontrou uma
tabuinha de cera lacrada ao lado de sua cama, fez uma viagem por mar e procurou
o homem (na sua época não se ignoravam sonhos ou presságios, especialmente se
eles tinham alguma coisa a ver com deuses). Abrindo a tabuinha. Falásio, agora
com a visão total em ambas as vistas, leu a mensagem que o instruía a doar a
Anite 2.000 estáteres de ouro por ter sido uma Boa Samaritana. Delirante de
alegria com sua visão, ele cobriu a garota de ouro e construiu um santuário no
local. Anite voltou para casa para escrever.
Poeta
obsessiva, influenciada pelo movimento literário na ilha de Cós, Erina de Telos
viveu somente dezenove anos. Ela escreveu poesias líricas, epigramas e um poema
de trezentas linhas chamado “A herdeira”, sobre suas lembranças da infância de
uma amiga cuja morte prematura ela lamenta; pouco restou deste poema e de
outros. Erina recebeu altos elogios de outros poetas da antiguidade. As
escritas sobre ela demonstram claramente que sua reputação era baseada em
mérito. Talvez apareçam mais trabalhos de Erina, para que possamos nós mesmos
ler e apreciar.
Agnodice
A médica que revolucionou Atenas
No século IV a.C, Atenas era um tédio para matronas
bem-nascidas. Só as mulheres estrangeiras, cortesãs, ou do tipo aristocrática
excêntrica que não dá a mínima bola para convenções, podiam se misturar ao
círculo social. Agnodice tinha sua própria estratégia – ela adotou vestimentas
masculinas para se tornar uma médica, participando de palestras médicas e se
especializando em ginecologia. Como as pessoas no tempo de Agnodice eram
sensíveis em relação ao pudor, ninguém imaginaria que uma
ginecologista-obstetra monopolizaria o mercado. E estaria certo. Logo ela
despertou a inveja dos outros médicos. Previsivelmente, eles a arrastaram para
a corte a fim de responder a acusações de ordem moral. Agnodice teve de
fornecer ao juiz uma vista rápida de seu próprio aparelho ginecológico, e em
consequência os queixosos lhe deram uma chave de braço, acusando-a de praticar
uma profissão circunscrita aos homens. Agnodice enfrentou a nova acusação e foi
absolvida. Os atenienses morderam seus lábios e finalmente mudaram a lei,
abrindo a porta para outras mulheres médicas.
- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da
Antiguidade vai falar de “TARGÉLIA & AS SUAS COMPANHEIRAS NAMORADEIRAS”.
Vamos falar de Targélia de Mileto, a mulher que conseguiu casar-se quatorze
vezes; Gnateana, comediante de prostitutas; Pitionice, que era a paixão de um
general grego, Harpalo, que havia desviado uma fortuna de Alexandre, o Grande;
e Leaina, uma cortesã ateniense amante de Aristogíton.
– Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”,
título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de
Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Cabeças Cortadas
Opinião
Cabeças cortadas
Clóvis Barbosa
O Brasil e o mundo assistiram estupefatos a
um vídeo chocante. As imagens foram filmadas no Complexo Penitenciário de
Pedrinhas, em São Luís, Capital do Estado do Maranhão, no dia 17 de dezembro de
2013. Duas cabeças, lado a lado, são exibidas pelos presos trogloditas como
troféus. Um terceiro decapitado tem a cabeça encostada no pescoço. E começa os
diálogos dos assassinos: - bota de frente
(o corpo) pra filmar direito. - Não puxa a cabeça dele. A câmera foca de perto as três cabeças separadas dos
corpos, todas com cortes de facas ou outro instrumento cortante, numa sensação
que antes da decapitação foram torturados sanguinariamente. Um dos presos pega
uma das cabeças e, em direção à câmera, diz: - filma esse maldito, desgraçado. – Vira de lado, vira de lado, grita outro. – Tem que ajeitar o foco, fala um terceiro. Depois dessas cenas - foi cascudo em tudo que era cabeça da
família Sarney. De repente, todos os males, inclusive as cenas violentas
trazidas ao público, eram únicas e exclusivamente culpa da chamada oligarquia
política que mandava no Estado e liderada pelo senador José Sarney. Mas nesse
caso, vou defender a governadora Roseana Sarney. Primeiro, deve-se a ela a
oportunidade que o mundo teve de conhecer o falido sistema prisional
brasileiro. Se ela tivesse negociado com os servidores do sistema penitenciário
do Maranhão, e atendido suas reivindicações, ninguém teria visto as imagens
aterrorizantes que foram encaminhadas à imprensa. Pasmem Senhoras e Senhores, o
responsável pela distribuição do filme foi o Sindicato da categoria dos
servidores desse mesmo sistema penitenciário. Ou seja: quem deveria estar
evitando fatos horrendos como aqueles, são os mesmos que assistiram e
estimularam a sua publicidade. Que pacto foi esse firmado entre uma entidade de
trabalhadores e assassinos frios para filmagem de um evento macabro? Quem é o Lumpenproletariat dessa história? Os servidores
ou os assassinos? Ou ambos? Oxalá que a moda não pegue: servidores saindo pela
rua com cabeças (bonecos) de gestores públicos ou de políticos que não
atenderem os seus pleitos.
Os fatos ocorridos no Complexo de Pedrinhas
têm muito a ver com a falência do sistema penitenciário brasileiro. A lei de
execução penal é uma das mais avançadas do mundo, porém, como muitas leis neste
país, sem qualquer possibilidade de ser executada. Faltam recursos e vontade
política, sem falar que é um tipo de serviço público que não merece qualquer
tipo de prioridade. O legislador brasileiro tem a péssima mania de fazer leis
avançadas como se estivesse no primeiro mundo, mas impossíveis de serem
efetivadas. Não o faz com base na realidade concreta, mas buscando em países
mais avançados experiências totalmente divorciadas da nossa cultura e das
nossas reais condições estruturais. Espera-se, entretanto, a abertura de um
novo debate sobre a situação, que não é somente do complexo penitenciário
maranhense, mas de todo o Brasil, onde a superlotação e outros males formam o
cotidiano desses estabelecimentos penais. O que estarrece, no entanto, é a
utilização de uma prática estatisticamente baixa dos homicídios ocorridos no
Brasil e no mundo: a decapitação. Glauber Rocha deu o título de Cabezas Cortadas ao seu filme rodado na
Espanha e que não teve boa aceitação da crítica. Mas interessa aqui a metáfora
glauberiana de uma estátua grega com a cabeça cortada. É na cabeça que se cria
tudo e onde está o raciocínio. Cortar as cabeças é fulminar com a razão, com a
criação, ou como disse André Breton, “a metáfora tem a capacidade de esculpir o
espaço do real, no caos da razão”. O filme fala de ditadores da América Latina,
ou como disse o próprio Glauber, “É um filme contra as ditaduras, é o funeral
das ditaduras”. Mas a realidade sem metáforas, é que as decapitações, durante a
história, tiveram várias significações, fossem elas como demonstração de força,
como prova da ocorrência, como exemplo para um grupo de pessoas, como um recado
para uma facção rival e até como a marca de algum serial killer, ou, também, como forma de humilhar e subjugar o
adversário. Desde a antiguidade até os dias atuais, a história está cheia de
casos de decapitações. Nem a Bíblia escapa.
No Novo Testamento, temos a história de
João Batista, o profeta que pregava o arrependimento e que batizava as pessoas
no rio Jordão. Ele teve a cabeça cortada e servida numa bandeja a mando de
Herodes sob a acusação de ter propagado um romance de Herodes com uma cunhada.
Nada disso, na verdade Herodes temia a liderança de João Batista, que era muito
querido pelo povo. No Brasil colonial, ainda no tempo das ordenações, uma das
formas de penas capitais era a decapitação. Outro exemplo brasileiro foi o do
bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, onde alguns tiveram as suas
cabeças cortadas pelas chamadas volantes e expostas por vários lugares. Outros
nomes importantes da história tiveram as suas cabeças cortadas, como
Robespierre, durante a Revolução Francesa, Luiz XVI e Maria Antonieta, todos
guilhotinados. Tiradentes foi um caso à parte. Foi enforcado, e depois de
esquartejado, teve a sua cabeça exposta em praça pública para servir de exemplo
a toda qualquer tentativa de libertar o país do jugo português. No Maranhão,
cabeças foram cortadas. Espera-se que o exemplo não contribua para a vitória do
lumpesinato. Aliás, como diria Glauber Rocha, “No Brasil só tem três coisas que funcionam: a Igreja, o Itamaraty e o
Exército, porque têm hierarquia. E país que não tem hierarquia é uma
esculhambação”.
Retratos
da vida
O
homem das duas mil virgens
Demétrio
gostava muito do Cacique Chá. Chegava sempre com um livro debaixo do braço.
Sempre estava sozinho, meditabundo, e dificilmente alguém se aconchegava para
interromper aquele estado de busca de maior equilíbrio e harmonia cósmica.
Aliás, um seu colega de profissão, Irineu, era o único que ousava invadir o seu
mundo. E justiça se faça, ele gostava da
presença de Irineu, mas pouco falava. O grande incentivador dessas suas
leituras era um conhecido advogado criminalista, bastante ilustrado e com vasto
conhecimento em filosofia do direito e em literatura marginal. Era um homem
atualizadíssimo. Era o doutor surgir no restaurante, que ele gritava – Eminente causídico, quais as novidades no
mundo da antropologia? E o advogado citava uma ou duas obras, ele anotava e
comprava. E quando voltava a encontrar o advogado, olhe ele com o livro debaixo
do braço. Fazia questão de mostrar a obra e sempre dizia: - grande autor, grande obra, mas, por favor,
quem está bem, hoje, na sociologia? E por aí ele ia formando uma das mais
ricas bibliotecas privadas de Sergipe. Hanah Arendt, Jean Paul Sartre, José
Ingenieros, Albert Camus, Goethe, George Orwell, Franz Kafka, Cícero,
Dostoiéwski, Marcel Proust, Immanuel Kant, William Faulkner, André Malraux,
André Comte–Sponville, Henry David Thoreau, Voltaire, Montaigne, Fernando
Pessoa, José Saramago, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília
Meireles, Machado de Assis, e tantos e tantos outros autores estrangeiros ou
nacionais. Ultimamente, o grande amor dele é Zygmunt Bauman, um sociólogo
polonês que fala muito sobre a fragilidade dos laços humanos. Irineu é, talvez,
o único amigo frequentador de sua casa e que sabe, amiúde, de todo acervo
existente na biblioteca escondida num dos quartos de uma casa situada no centro
da cidade, onde ele vive sozinho, ou melhor, vive com um gato e um papagaio, a
quem ele deu os nomes de “Francisco Carlos” e “Cauby”, respectivamente, em
homenagem a dois grandes cantores da década de 1950. Mas Irineu é, também, um
fofoqueiro. Segundo ele, Demétrio, nunca leu quaisquer das obras existentes na
biblioteca. Quando perguntado se Demétrio tinha mulher ele respondia: – uma não, duas mil, todas rigorosamente
virgens.
Clóvis Barbosa escreve
aos domingos, quinzenalmente.
- Publicado no Jornal da
Cidade, Aracaju-SE, domingo e segunda-feira, 2 e 3 de fevereiro
de 2014, Caderno A-7.
- Publicado no Blog Primeira
Mão, domingo, 2 de fevereiro de 2014, às 16h52min, sítio:
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Mulheres da Antiguidade - Taís de Atenas
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
TAÍS DE ATENAS
Vicki León
Uma
vendedora de sexo se dava muito bem. Taís iniciou sua carreira como uma cortesã
de grife de Atenas e a terminou regiamente, casando-se com sua paixão favorita,
um general que se tornou rei do Egito. Além de ter uma mobilidade ascendente,
Taís era sempre a mais animada numa festa. Por essa razão, ela foi convidada a
ir ao resplandecente palácio de Persépolis, onde Alexandre, o Grande, estava
dando uma festança de vitória em 330
a . C. Seu par era Ptolomeu, um dos generais mais
importantes de Alex. Após um longo dia, bebendo vinho esfriado na neve com um
grande número de moças flautistas, cortesãs e animais de festa macedônios, Taís
decidiu agitar as coisas. “Lembra-se de como o rei Xerxes profanou nossa
Acrópole em Atenas durante a guerra?”, disse ela a Alex, que aquela altura
estava bêbado como uma gambá. Taís, como outros gregos, tinha uma memória
privilegiada: aquela determinada guerra com os persas havia acontecido 150 anos
antes. “Está na hora de pagar na mesma moeda – vamos queimar o palácio”.
Nada
como um incêndio premeditado para animar uma festa: todos puseram grinaldas
dionisíacas (um sinal grego de “vale-tudo”) e iniciaram uma fileira em estilo
de conga. Alex valeu-se de sua posição e jogou a primeira tocha; Taís pôde
jogar a segunda. Como acontece às vezes com os anfitriões, Alex recobrou um
pouco de sobriedade em relação a toda aquela confusão e finalmente ordenou que
alguém apagasse o fogo. Tarde demais. O gigantesco e magnífico palácio já
estava sendo consumido pelo incêndio incontrolável. Os arqueólogos, que
encontraram muito pouco nas ruínas do palácio além de pedras e cinzas, teriam
classificado aquela festa de realmente quente – e uma história memorável de uma
garota que vingou seu território natal com uma pequena combustão provocada por
ela mesma.
A autora
Vicki León
- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da
Antiguidade vai falar de “CORINA E AS SUAS COMPANHEIRAS POETAS”, ela, natural
de Tânagra, viveu no século V, a. C., era uma contemporânea de Píndaro. Você
vai conhecer, além de Corina, Anite de Tegra, admirada pelos seus encantadores
epigramas e Erina de Telos, poeta obsessiva.
– Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”,
título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de
Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.
- Todas As imagens foram extraídas do Google.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Ratos e Homens
Artigo pessoal
Ratos e homens
Clóvis Barbosa
Volto à temática acerca do sentido da existência
humana, tão explorada, em todos os tempos, pelos mais variados campos de
conhecimento. Quem somos? O que fazemos? Para onde vamos? Quem nos move? Por incrível que pareça esta preocupação não
é de agora. Contudo, continuamos no mesmo lugar: impotentes diante do absurdo
do mundo e da barbárie cada vez mais injustificada. O que é que está havendo
com o homem? Será que a verdade está numa quadrinha de autor desconhecido que
diz: De tanto encontrar canalhas penso
que Deus, por capricho, resolveu fazer da terra um depósito de lixo? Parece-nos
que nada evoluiu desde o dia em que Kierkegaard, o grande filósofo dinamarquês
do século XIX, falou que a sociedade em geral estava contaminada pela
condescendência e hipocrisia. Aliás, uma fase de sua vida mundana foi
importante para a sua transformação. Nesta fase, chegou a dizer que “com um rosto eu rio e com o outro eu choro”,
mostrando o lado falso de uma vida fútil, fixada na busca intensa do prazer,
mas que invariavelmente deixa sentimentos de tédio e insatisfação. A procura do
significado da vida fez com que ele deixasse um legado extraordinário para a humanidade
através das suas obras filosóficas, como “Ou
isso ou aquilo”, que fala de dois modos de vida, o ‘estético’ e o ‘ético’;
“Repetição”, que trata do conflito de
um jovem prestes a casar e o temor ao compromisso ético que esse pacto exige; já
“Temor e tremor”, analisa os
conflitos entre as demandas da ética e da religião; e em “O conceito de angústia”, se concentra nos momentos da vida onde a
angústia precede a fé. Conta ainda que desde Darwin sabemos que compartilhamos
a nossa origem com o mais dos insignificantes seres do reino animal. E a grande
diferença entre nós e o rato, por exemplo, é que temos que enfrentar um inimigo
muito poderoso, que está ao nosso lado e em todo lugar, sempre preparado, como
uma cobra, pronta para dar o bote: a estupidez.
Albert Einstein dizia: Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, mas não estou seguro sobre a primeira. E o pior é que os ensinamentos estão aí à disposição de todos, mas, infelizmente, não aprendemos e teimamos em repetir os mesmos erros. Vestimos a couraça da vaidade e da arrogância e, quando fazemos besteiras, sempre culpamos a inconsciência ou nos justificamos com a célebre frase ‘errar é humano’. O problema é que o homem não assimila os bons ensinamentos e opta quase sempre pela mediocridade como exemplo. Esquece-se de ouvir ou ouve mal e incorpora maus sentimentos em seu cotidiano. Não sabem o que é a gratuidade, pois vivem sempre à espera de compensações e do seu egoísmo. É sempre desconfiado, violento, sempre dedicado a defender-se de tudo que possa ameaçar os seus privilégios. Vitimiza-se de tudo e de todos porque estes estão sempre procurando prejudicá-lo. Não sabe perdoar, não tem censo de autocrítica, é injusto e mesquinho. Penso que Nietzche tinha razão ao dizer que “Deus acertou ao limitar a inteligência humana, mas errou em não limitar a burrice”. Estou com Vinícius de Moraes: Quem já passou por essa vida e não viveu. Pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu. Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não. Não há mal pior do que a descrença. Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão. Abre os teus braços meu irmão, deixa cair. Pra que somar se a gente pode dividir. Eu, francamente, já não quero nem saber de quem não vai porque tem medo de sofrer. Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão. Pois bem, o grande desafio é a luta para a criação de uma nova estrutura ética para o homem. De compromisso com o seu crescimento interior, que sempre é um processo de conversão e esta exige luta interior, onde o denodo e a vontade de mudar estejam presentes.
Albert Einstein dizia: Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, mas não estou seguro sobre a primeira. E o pior é que os ensinamentos estão aí à disposição de todos, mas, infelizmente, não aprendemos e teimamos em repetir os mesmos erros. Vestimos a couraça da vaidade e da arrogância e, quando fazemos besteiras, sempre culpamos a inconsciência ou nos justificamos com a célebre frase ‘errar é humano’. O problema é que o homem não assimila os bons ensinamentos e opta quase sempre pela mediocridade como exemplo. Esquece-se de ouvir ou ouve mal e incorpora maus sentimentos em seu cotidiano. Não sabem o que é a gratuidade, pois vivem sempre à espera de compensações e do seu egoísmo. É sempre desconfiado, violento, sempre dedicado a defender-se de tudo que possa ameaçar os seus privilégios. Vitimiza-se de tudo e de todos porque estes estão sempre procurando prejudicá-lo. Não sabe perdoar, não tem censo de autocrítica, é injusto e mesquinho. Penso que Nietzche tinha razão ao dizer que “Deus acertou ao limitar a inteligência humana, mas errou em não limitar a burrice”. Estou com Vinícius de Moraes: Quem já passou por essa vida e não viveu. Pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu. Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu. Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não. Não há mal pior do que a descrença. Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão. Abre os teus braços meu irmão, deixa cair. Pra que somar se a gente pode dividir. Eu, francamente, já não quero nem saber de quem não vai porque tem medo de sofrer. Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão. Pois bem, o grande desafio é a luta para a criação de uma nova estrutura ética para o homem. De compromisso com o seu crescimento interior, que sempre é um processo de conversão e esta exige luta interior, onde o denodo e a vontade de mudar estejam presentes.
Essa mudança está cada vez mais difícil, mas é a luta
do bom combate do apóstolo Paulo: despertar as consciências e libertar o homem
do egoísmo, da vaidade e da ganância. Gracian
(A Arte da Prudência) acentua que a
vida humana é uma luta contra a malícia do próprio homem, adiantando, também,
que conhecimento sem bom senso é uma dupla loucura. A insensatez, lamentavelmente,
é um cancro que impregna o tecido humano, vicia a alma e destrói os sonhos.
Está presente em todos os lugares, entre as classes mais abastadas e entre as
menos favorecidas. Entristece, contudo, quando a inteligência sucumbe à
insensatez. Não cabe, aqui, discutir as origens desse rebaixamento moral, mas é
importante enfrentarmos o dragão verde que solta bolas de fogo pelas narinas
existente em nós, como pensado por Nietzsche. Ele não pode continuar impedindo
o nosso peregrinar em busca da perfeição. A bíblia ensina que “assim como algumas moscas
mortas podem estragar um frasco inteiro de perfume, assim também uma pequena
tolice pode fazer a sabedoria perder todo o valor” (Ec 10,1). Estamos no limiar
de um ano novo. Fazemos dele o caminheiro da evolução do homem e de uma nova
oportunidade de seu progresso. Ando teimando com o tema. Fui buscar o título na
obra de John
Steinbeck (1902-1968), um californiano que teve toda a sua obra baseada nas
anotações que fazia da sua região. Ele é Nobel de Literatura de 1962. Dentre
suas obras está “Ratos e homens” (Of mice
and men), que trata do tema da fraternidade, bem como sobre a crueldade de
um mundo que não admite o estabelecimento de um vínculo entre dois homens. Faço
minhas as palavras de Steinbeck: “Eu
podia passar a noite toda falando coisas, mas depois você ia esquecer, e eu ia
ter de falar tudo de novo”.
Retratos da
vida - O Checheiro [1]
Filadélfio é
um sessentão rabugento que vive sozinho numa casa do centro da cidade de
Aracaju. Só duas casas residenciais existem espremidas no trecho. Ali, pelo
dia, funciona o comércio com lojas e órgãos públicos e privados. À noite, travestis
perambulam de lá para cá oferecendo seu corpo aos passantes. – É
cada carro ‘pancada’, meu irmão, que sai com as ‘meninas’. Disse ele a um
professor da Universidade que estava com alguns alunos fazendo uma pesquisa na
área. É de Pajero pra cima, falava
orgulhoso da sua bisbilhotagem. Até casal
vem aqui rebocar os ‘traveco´. Tem
um, todo jeitoso, com cara e corpo de mulher que faz sucesso. No mínimo ele faz
10 a 12 programas por noite. O professor perguntou pelo nome da “beldade”,
e de pronto ele respondeu: - Bárbara.
Ao concluir, com cara de nojo, arrematou: - é
uma sem-vergonhice. Não sei como alguém tem coragem de fazer sexo com essas
almas sebosas. O professor saiu satisfeito com o resultado das informações
precisas recebidas. Tinha anotado o nome de quinze ‘meninas’, todas caracterizadas pelos seus trejeitos, tão bem minimamente
detalhado por Filadélfio. Não teve dificuldade em conversar com cada uma delas.
Idade, faturamento diário, violência, nível social da clientela, tipos de
relação sexual, além de outras questões, foram colacionadas. Essa turma passou
cerca de um mês fazendo esse trabalho de extensão e nunca mais teve contato com
Filadélfio. Um dos alunos, impressionado com a riqueza dos detalhes relatados por
Filadélfio sobre a vida das “moças”, ousou perguntar a uma das ‘meninas’ se
conhecia a sinistra figura. – Seu
Filadélfio, o checheiro. Eu mesma recebi dois chechos. Ele se deu mal com
Vaneska. Tomou uma surra de “cipó caboco”. Tá no hospital com a bunda, a chibata
e as costas em carne viva.
[1] Checheiro ou xexeiro – caloteiro, aquele que contrata um programa
sexual e não paga.
- Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju-SE, edição de
domingo e segunda-feira, 19 e 20 de janeiro de 2014, Caderno A-7.
- Postado no Blog Primeira Mão no domingo, 19 de janeiro
de 2014, às 16h18min, sítio:
- Postado
no Notíciasaju no domingo, 30 de
março de 2014, às 09h02min, sítio:
- Todas as fotos
foram retiradas do google.
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