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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Mulheres da Antiguidade - DÍDIMA

Isto é história
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
DÍDIMA
Vicki León
 
Virtude moderna, a reciclagem era frequentemente uma necessidade da antiguidade. Por exemplo, o papel de papiro era caro demais para ser usado apenas uma vez. Assim como nós temos o hábito de gravar por cima de vídeos ou cassetes já existentes, as pessoas pegavam os rolos de papel que estavam totalmente escritos e escreviam neles outra vez, usando os espaços entre as linhas. Até mesmo os pedaços dos rolos de papel eram reciclados como envoltórios para múmias ou material para embalagem de caixões. As cerâmicas quebradas eram usadas para fazer anotações, rabiscar desenhos, pichações ou como uma “etiqueta” da turma de trabalho de uma pirâmide. Desses lugares improváveis, os historiadores têm descoberto milhares de documentos poderosos e íntimos: cartas de amor, recibos, papéis de divórcio, perguntas de oráculos e contratos, inclusive um que revela a história de uma babá chamada Dídima, uma mulher cujo solo natal era o Egito alexandrino de 13 a.C.
 
Em seu tempo – na realidade, na maior parte da história -, muitas mulheres alugavam seus equipamentos leiteiros. Às vezes, Dídima e suas colegas trabalhavam como amas-de-leite que dormiam no emprego, dando de mamar e cuidando da criança de uma nova mamãe com um nível mais abastado. Ser ama-de-leite também podia ser negócio puro. Em vez de praticar aborto ou infanticídio, os pais que não queriam um filho recém-nascido o “reciclavam”, ou tentavam fazê-lo levando-o para o templo local. Fosse quem fosse que pegasse a criança, tornava-se seu dono; pode soar repugnante para nós, mas reciclar seres humanos livres em escravos era uma prática comum, uma das razões pela qual a força de trabalho escravo era tão numerosa.
 
Neste caso, uma mulher chamada Isadora encontrou uma criança exposta que ela planejava manter como escrava, e pagou para Dídima tomar conta dela e alimentá-la. Seu salário? Dez dracmas de prata e meio litro de óleo por mês (naquela época, o óleo, um produto de múltiplas finalidades, servia como sabão, combustível para lampiões, creme umedecedor e ingrediente de culinária). Dídima tinha uma pequena casa no campo; ela tinha de trazer o bebê quatro dias por mês para a inspeção de Isadora.
 
Embora tudo isso possa parecer insensível, ambas as partes se importavam com o bem-estar do bebê. Dídima teve de concordar em cuidar bem de si mesma e da criança, e tomar conta dos pertences pessoais dela. Existiam padrões para as ama-de-leite – e até mesmo livros sobre o assunto. A ama ideal era limpa, alerta, sóbria e treinada para cuidar de crianças. Os empregadores eram rigorosos – elas não podiam ficar grávidas ou amamentar uma criança no emprego. Mesmo se fosse casada, Dídima não teria podido dormir com um homem durante o seu contrato (é difícil imaginar como qualquer pessoa poderia controlar isso).
 
Ser ama-de-leite não era um trabalho simples. O maior desafio de Dídima era se certificar de que poderia continuar com seu fluxo de leite por 16 meses, porque, se ela não conseguisse prestar o serviço por esse período, isso significaria incorrer em multas pesadas – mais de quinhentos dracmas. O contrato também protegia Dídima: seu empregador tinha de lhe pagar o seu salário mensal e não podia remover o bebê até que o contrato terminasse – ou uma multa de quinhentos dracmas iria para Dídima. A natureza íntima da amamentação torna provável que Dídima se sentisse pelo menos um pouco ligada às suas pequeninas incumbências. Frequentemente, as crianças amamentadas por amas-de-leite cresciam com uma intensa afeição por elas – por exemplo, Alexandre, o Grande, amava profundamente sua babá Lanice. O conceito de glândulas mamárias de aluguel pode parecer estranho; mas, então, o que Dídima e suas companheiras iriam pensar da inclinação do nosso século XX em favor das mães de aluguel e bancos de esperma?

(*) - A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da Antiguidade vai falar de MARIA PROFETÍSSIMA, que viveu na Alexandria, no século I, d. C. Ela foi a criadora da panela para banho-maria. Foi precursora da química moderna e era alquimista.

(**) – Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”, título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.

A Autora
Vicki León

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