Aracaju/Se,

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Mulheres da antiguidade - MESSALINA

Isto é História
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
MESSALINA
Vicki León
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Estávamos em 48 d.C., mas a maioria das 50 milhões de pessoas que viviam no império o imaginava como na época do imperador romano Cláudio, de Roma. Alguns lhe deram o apelido de “o reino da imperatriz Messalina”. O domínio de Messalina sobre o covarde, embora bem-humorado, imperador, seus excessos sexuais e sua campanha para legalizar a poliandria eram comentados por todos. Embora as mulheres tivessem o direito de dar seu parecer sobre assuntos conjugais e outros, poucas simpatizaram com sua ideia. “Já imaginou aguentar mais de um marido?”, diziam entre risadas.
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Messalina era uma radiante adolescente de 14 anos, quando casou com seu primo Cláudio de 48. Ela fechou os olhos para os problemas físicos dele (além de ser coxo e ter um tique facial nervoso, ele babava) e produziu dois meninos antes que seu ardente desejo sexual entrasse em ação. Apesar do retrato caloroso e impreciso de Sir Derek Jacobi fez do imperador no filme seriado da BBC Eu, Cláudio, ele tinha alguns hábitos que não poderiam ter ajudado seu casamento: adorava jogar, ter outras mulheres, beber excessivamente e era louco por sangue – do sangue dos gladiadores a pedaços crus de rosbife.
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Messalina acumulou muitos amantes; nisso, ela não era pior do que as outras mulheres de sua classe social. Entretanto, tinha realmente uma mania desagradável de encomendar a morte de seus ex-amantes e rivais. Ah! Sim! E é possível que ela tenha aceitado um segundo emprego no bordel local, sob o nome de “Licisca” e usando uma peruca loira e biqueiras douradas adesivas para os seios. Roma não tinha qualquer punição para calúnia, portanto é possível que essa última história tenha sido uma fofoca maldosa – ou mal contada. A situação em que Messalina realmente botou seus graciosos 23 anos em maus lençóis foi devida ao seu casamento público e bígamo com um nobre chamado Sílio. O evento tinha um tema de colheita: o esmagamento das uvas para preparar o vinho, peles de animais combinando para as damas de honra, uma vestimenta de Dionísio para o noivo e um jantar para os amigos. O entretenimento era uma cortesia dos novos Sr. e Sra., que subiam ao seu sofá e consumavam seus votos matrimoniais para os convidados. Com sua eficiência usual, os escravos libertados que trabalhavam como altos executivos do imperador Cláudio rapidamente cuidaram da festa de casamento de Messalina acabando com a noiva, o noivo e os cúmplices. A notória desatenção de Cláudio foi provavelmente uma bênção: quando a notícia da morte de Messalina lhe foi dada, ele estava à mesa de jantar – e continuou armazenando os comestíveis em sua barriga. O imperador nunca demonstrou quaisquer sinais patentes de pesar ou ira em relação a Messalina, aparentemente ignorando as lágrimas de seus filhinhos e o olhar maldoso de seus difamadores. Intimamente, ele pode ter chorado por essa esposa tola e absolutamente fascinante, mas foi representando o velho bobo ignorante que ele conseguiu ver 57 aniversários. Em sua família assassina, não era nenhum feito medíocre.         
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No século I, Roma exalava burocracia. Para se tornar uma meretriz, ou prostituta pública, você tinha de se inscrever com um edil, ou um tira daqueles tempos. Depois de dar seu nome, nome de guerra, local de nascimento, idade, e, quanto pretendia cobrar, você ainda recebia um sermão moralizador grátis e aumentava a lista oficial de chamada das mulheres de reputação duvidosa. A despeito de todo esse trabalho com papelada, a profissão parecia divertida para Vestília. Oriunda de uma família de classe média e já sendo uma senhora, ela se apresentou aos edis requerendo uma licença (o registro era feito para fins de imposto de renda – o Estado recolhia uma sobretaxa por abraço). Mas as sujeiras do meretrício não eram para ser de Vevê. Uma violação da lei moral em razão de conduta imprópria para uma matrona fez com que ela fosse banida para uma das pequeninas ilhas gregas chamadas Cíclades – onde podemos dizer seguramente que havia poucos compradores, pagantes ou não.

A autora
Vicki León
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 – A próxima postagem de “Mulheres Audaciosas da Antiguidade” vai falar de AGRIPINA, que viveu por volta do século XVIII d.C. Sobrinha do imperador Cláudio, com ele se casou, levando a sua adversária Lolia Paulina, filha de um Cônsul, ao suicídio. Lolia disputava o amor do imperador. Ela era a mãe de Nero.
- Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”, de Vicki León, tradução de Miriam Groeger, Editora Rosa dos Tempos.

- As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google.     

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O Colecionador de Ossos

Opinião Pessoal


o cOLECIONADOR DE oSSOS

Clóvis Barbosa
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Quando ocorre um homicídio nos EUA, a primeira coisa que o policial tem que se lembrar é de uma palavra: ADAPTAR. A: apanhar ou prender um criminoso conhecido; D: deter testemunhas ou suspeitos relevantes; A: analisar a cena do crime; P: proteger o local do evento; etc. Segundo os especialistas, uma equipe multidisciplinar deve comparecer ao local da ocorrência do fato. Um coordenador, com funções de chefia da equipe, um responsável pela lofoscopia, um pela fotografia e esboço da cena, um para se encarregar do recolhimento, acondicionando e transportando os vestígios, um representante da promotoria e um perito médico-legal.Essa equipe se encarregará de tomar todas as providências que visem elucidar o mais breve possível a autoria do delito. E essa proteção do local da cena do crime tem um objetivo científico para os especialistas: ouvir o morto através das circunstâncias em que o seu corpo se encontra, já que o morto fala. Phillip Noyce, que dirigiu o filme “O colecionador de ossos” (com Denzel Washington e a bela Angelina Jolie), e Jeffery Deaver, autor do livro, nos mostra toda a parafernália que envolve a análise e investigação de um crime, principalmente o que é retratado no referido enredo literário-cinematográfico. Tratava-se, ali, de um criminoso impiedoso (recém-saído do sistema penitenciário), que matava suas vítimas com requintes de tortura e crueldade, mutilando-as e espalhando-as pelas ruas da cidade de Nova York, para vingar-se do perito cuja atuação o pôs atrás das grades.
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Vejam que dado chamativo. Dostoiévski escreveu, em 1861, “Recordações da Casa dos Mortos”, reconhecida como uma verdadeira obra-prima da literatura mundial. O seu personagem principal é Alieksandr Pietróvitch Gorjantchikov, um professor que vivia numa pequena cidade da Sibéria, dando aulas de reforço aos jovens. Antes, ele havia cumprido pena de prisão por ter assassinado a esposa um ano depois do casamento, movido por ciúmes, entregando-se após o crime, atitude que atenuou a sua pena. Dostoiévski apaixonou-se pela figura taciturna do professor e ex-presidiário. Tentou aproximar-se, sendo repelido. Ao retornar, meses depois, à Sibéria, tomou conhecimento da morte do velho rabugento. Ao visitar o alojamento em que ele viveu, foi presenteado pela proprietária do local com uma cesta cheia de papéis velhos pertencentes ao seu antigo inquilino. Foi nessa documentação que Dostoiévski descobriu a experiência vivida pelo seu personagem durante o período em que esteve preso numa penitenciária de segunda categoria: as instalações eram precárias, a alimentação deficiente, o frio insuportável, as relações difíceis entre pessoas de várias castas sociais e reinava a corrupção na guarda penitenciária. Enfim, uma verdadeira aula voltada para a psicologia criminal e para a máxima de que a prisão não cura, corrompe.
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Na verdade, uma experiência inesquecível para o personagem, ao ponto de dizer que “Não resta dúvida de que o tão gabado regime de penitenciária oferece resultados falsos, meramente aparentes. Esgota a capacidade humana, desfibra a alma, avilta, caleja e só oficiosamente faz do detento ‘remido’ um modelo de sistemas regeneradores”. Mas, na verdade, a figura do professor Alieksandr Pietróvitch Gorjantchikov é puramente ficcional. O próprio Dostoiévski, preso em abril de 1849, vivenciou aquela situação. Ele foi condenado à morte por fuzilamento em dezembro, acusado de envolvimento na conspiração do revolucionário Mikhael Petrachévski, que objetivava assassinar o Czar Nicolau I. Sempre negou a sua participação no evento, embora reconhecesse que era um opositor do regime totalitário e feudal czariano. Na época da execução da pena, já experimentando a sensação da morte que se aproximava, após todos os rituais que antecederam aquele momento, foi comunicado da substituição da pena anterior pela de prisão e trabalhos forçados na Sibéria. Dostoiévski, pois, foi o próprio protagonista daquela viagem ao inferno. E ele fala do dia-a-dia na prisão, numa autoanálise: “Mas o tempo flui e dei em me habituar gradativamente. À medida que os dias passavam, as realidades cotidianas iam me irritando menos. Os meus olhos, por assim dizer, iam-se habituando aos acontecimentos, ao ambiente e aos homens”.
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Recordações da Casa dos Mortos é uma obra penetrante. Na prisão, ele fala da esperança ao dizer: “Quando o sol brilhava, a gente pensava na liberdade muito mais intensamente do que nos dias cinzentos do outono e nas horas opacas do inverno”. Sobre o sofrimento, as atrocidades praticadas pelos servidores do presídio, as condições desumanas, o uso de grilhões de ferro, inclusive nos doentes moribundos, os castigos tortuosos, a vida animalesca, ele fala: “É atroz, dá a impressão de fogo aplicado demoradamente na pele. Assa as costas como uma grelha”. O livro é um libelo contra o fracassado sistema prisional no mundo. E esse fracasso permanece até hoje, século XXI. A prisão continua sem ressocializar o preso e se transforma, cada vez mais,em uma universidade do crime. Aqui em Dostoiévski, uma história contada com base na experiência vivida. Acolá, em “O colecionador de ossos”, a ficção, onde um assassino em série brinca com a polícia num jogo de gato e rato, dando pistas do próximo crime a ser praticado e da possibilidade de evitá-lo. Mas o importante em o colecionador, no livro, é a aula de investigação criminal que se dá, com todas as suas engrenagens científicas, como, por exemplo, o Princípio da Troca de Locard, que sustenta que há sempre uma troca de prova material entre o criminoso e a cena do crime ou a vítima, por mais minúscula ou difícil de detectar que possa ser essa prova. Em suma: enquanto os presos são amarrados ao silêncio, os mortos gritam, embora poucos consigam ouvi-los. Nesse sentido é que o sistema perdeu os sentidos. Nem quebra o silêncio do cárcere e, tampouco, é capaz de escutar o sussurro dos mortos. Por isso, mais presos tornam-se doutores em silenciar a eficácia da polícia (quando saem da cadeia, com mestrado e doutorado na arte do terror) e mais mortos gritam à toa. A polícia não sabe interpretar-lhes as vozes afônicas. A polícia também está tornando-se uma surda colecionadora de ossos que não soube se ADAPTAR à visão humanista do combate ao crime.

Post Scriptum
Um sergipano no STM
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Hoje, Sergipe só tem um representante nos tribunais superiores. Ele é Augusto César Leite de Carvalho, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), um dos mais brilhantes magistrados da safra da justiça trabalhista sergipana. Sergipano de Aracaju, Augusto César formou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe. Agora, o nosso Estado poderá ter mais um representante, o almirante de esquadra da Marinha Brasileira, Carlos Augusto de Souza, que poderá ser Ministro do Superior Tribunal Militar (STM). Ele já foi aprovado,à unanimidade, no último dia 19, pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, faltando, apenas, o plenário daquela Casa referendar o ato. Carlos Augusto de Souza nasceu em Estância, Sergipe, é casado e tem uma filha. Ele tem mestrado e doutorado em Ciências Náuticas pela Escola de Guerra Naval. Com a sua indicação aprovada, ele substituirá o também almirante de esquadra Marcos Martins Torres, falecido recentemente.

- Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 22 e 23 de novembro de 2014, Caderno A-7.

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Mulheres da Antiguidade - SULPÍCIA

Isto é história

Mulheres Audaciosas da Antiguidade
SULPÍCIA
Vicki León
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Prolixos como eram, os romanos não tinham grande entusiasmo por poesia. Mesmo que tivessem tido, seus poetas não teriam sido pagos. Ao contrário da Grécia, onde os poetas aceitavam pagamento abertamente, os romanos estremeciam em relação a trabalho pago de qualquer espécie – até mesmo algo tão refinado como compor versos. Os versejadores italianos viviam de sua própria riqueza – ou de suas famílias. É claro que, nos tempos de Sulpícia, não existia uma pressão para publicar, produzir e ser contribuinte financeiro da sociedade, como acontece hoje em dia.
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Todavia, para uma pessoa criativa como Sulpícia, que viveu em torno de 15 a.C., era crucial ter um mecenas. Os benefícios do relacionamento mecenas/poeta fluíam em ambas as direções: para o mecenas, um toque de imortalidade por meio do trabalho do artista; para o artista, uma variedade de contatos, honras, comissões e presentes não-monetários (propriedades, privilégios – qualquer coisa que não fosse o dinheiro imundo) por meio da promoção e do prestígio do mecenas.
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Marcos Messala, o mecenas de Sulpícia, ele mesmo orador e historiador, sustentava todo um estábulo de poetas, incluindo Tibulo, Ligdamo e Ovídio, o autor do malicioso e notório livro A arte de amar. Messala era provavelmente tio de Sulpícia e talvez também fosse seu guardião. Se isso é um fato, ela estava destinada a dar muitos cabelos brancos ao seu tio; pelo que parece, com vinte anos, de classe alta, solteira e morando na casa dele, ela conseguiu levar em frente um ardente caso amoroso, sobre o qual escreveu poesias mais tarde.
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A não ser por ter dado um pseudônimo ao seu amante, Sulpícia não escondeu muita coisa. Com uma mente maliciosa e individual, ela é praticamente a única voz literária feminina que possuímos em primeira mão da Roma antiga. Esta afirmação em si é desanimadora.
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Até hoje, apenas seis pequenos poemas foram revelados; contudo, ela concentra tanto poder de fogo e verdade em suas poucas linhas quanto os mestres haiku do Japão. Vulnerável, exultante, atrevida, amarga, íntima e honesta, ela escreveu sobre seu caso com “Cerinto” desde o primeiro beijo até a perda de sua virgindade, do estágio enlevado de um novo amor, em que se tem o desejo de gritar do alto dos telhados à descoberta dolorosa da existência de outra mulher. Sem dúvida, todas as mulheres romanas faziam e sentiam as mesmas coisas, mas só Sulpícia nos deixou linhas excitantes e atormentadas como essas:

Você tem algum sentimento de preocupação zelosa, Cerinto, pela sua garota, agora que uma febre destrói meus membros cansados?
Eu não iria querer triunfar sobre tristes doenças a não ser que pensasse que você também assim o desejava.
Pois que bem me fará triunfar sobre a doença se você puder testemunhar meus infortúnios com um coração insensível? 

A Autora
Vicki León
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- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da Antiguidade vai falar de “MESSALINA”, que viveu em torno do ano 48 d.C. no império romano, e se dedicou a acumular amantes durante a sua vida. Ela tinha uma mania desagradável de encomendar a morte de seus ex-amantes e rivais.  
– Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”, título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.
- Todas As imagens foram extraídas do Google.
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