terça-feira, 13 de março de 2012
Mulheres da Antiguidade - MAKEDA
Isto é história
Mulheres Audaciosas da antiguidade
MAKEDA
Vicki León
Três mil anos antes do advento dos cartéis de petróleo, a rainha Makeda, governante da doce e cheirosa terra de Sabá (provavelmente a região do Yêmen na Arábia, mais uma porção próxima da Etiópia), havia construído um agradável quase-monopólio de especiarias. Sabá não tinha muito mais do que isso, mas suas terras eram tão repletas de bálsamo, mirra, cássia e outras ervas aromáticas, que o cheiro inebriante das flores podia ser detectado pelos viajantes quando os navios passavam ao largo.
A mirra, o bálsamo e as outras especiarias tinham muitas virtudes: volume reduzido, preço elevado, uma longa data de validade e com uma grande demanda para remédios, condimentos, para preservação de carne, uso religioso e como desodorantes de aposento. Comerciante astuta, Makeda sabia que a expansão de suas redes de comércio traria ótimas perspectivas para as bases de Sabá. Com isso em mente, planejou uma viagem de vendas a um cliente que usava mais incenso do que quase qualquer outra pessoa – o rei Salomão em Jerusalém, 3.218 quilômetros ao norte no passo lento e penoso do camelo.
Na primeira “reunião de cúpula do perfume”, a rainha avaliou Salomão, vendo um homem com charme e cérebro. Makeda tinha uma queda por filosofia como também por assuntos mais práticos: ela havia trazido umas perguntas difíceis para o rei. Do lado negativo, viu um homem com grandes preocupações financeiras. Aquele palácio com seus pilares feitos de árvores da floresta do Líbano e a refrescante sala do trono eram lindíssimos, mas estavam lhe custando os olhos da cara. O homem sustentava quase mil esposas e concubinas, todas consumindo três refeições completas por dia, e sem um cardápio único.
Depois que Makeda lhe exibiu a carga de sua caravana, com jóias, ouro e amostras de especiarias, eles tomaram uns drinques e ela ouviu a história confidencial: o rei Salomão estava com um pesado déficit. Para apurar recursos, ele contava com suas minas de cobre e ferro e alguns empreendimentos de vendas a varejo de carruagens e cavalos, mas estava longe de ser o suficiente. Ele já estava taxando ao máximo seus cidadãos, e tinha até colocado alguns judeus livres para mão-de-obra de trabalhos forçados. Makeda viu que a única maneira que ele tinha de fazer um conserto rápido na situação para espremer mais recursos seria aumentar as taxas de pedágio e alfândega – uma medida que tiraria uma mordida perversa de sua margem de lucros.
Makeda tinha uma campanha séria a fazer. Além disso, ela tinha certa atração por Salomão, e ele por ela. Seis meses mais tarde, ela partiu para casa com as coisas que desejava – e algumas outras com que não tinha contado: suas memórias de um romance intenso, inclusive um souvenir na forma de um futuro bebê; 120 talentos em ouro (aproximadamente R$ 5 milhões em termos de hoje); novas alianças diplomáticas; e um acordo de comércio mútuo surpreendentemente bom.
De volta a Sabá, ela deu à luz um filho que recebeu o nome de Menelik, e participou a notícia a Salomão. Essa foi uma má idéia: quando ele soube do menino, tornou-se mandão, decretando que somente os herdeiros masculinos de seu filho poderiam governar a terra dela. E não que, na maior parte dos séculos desde Salomão, os governantes da Etiópia, até o imperador Hailé Selassié, tem feito exatamente isso?
(*) – A próxima postagem sobre as Mulheres Audaciosas da Antiguidade vai falar da adoradora divina SHEPENWHEPET, que viveu por volta do Século VII, A.C. Egípcia, gozava de grande prestígio, tanto que em toda carnificina entre assírios e egípcios ela se manteve tranquilamente no seu posto sem qualquer molestação.
(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário