segunda-feira, 3 de junho de 2013
Mulheres da antiguidade - Hipácia
Mulheres Audaciosas da antiguidade
HIPÁCIA
Vicki León
Hipácia,
a primeira mártir mundial da matemática, começou a vida como a criança
superdotada básica, filha única mimada de Teo, um sujeito do tipo protetor
plástico de bolso que ensinava no Museu em Alexandria. Além de suas duas
bibliotecas com meio milhão de livros em rolos de pergaminho, o museu tinha
laboratórios e instalações para ensino e pesquisa, onde os sábios viviam à
custa do poder público num lugar semelhante a um parque.
Como
um pato atrás de pão dormido, Hipácia devorava conhecimento: ciência e
filosofia, religião e matemática, poesia e as artes. Quando adolescente, viajou
para Atenas para completar sua educação superior na Academia Neoplatônica com
Plutarco, cuja filha Asclepigenia também não era muito pobre em filosofia. A
notícia se espalhou sobre essa jovem intensa e brilhante; na época em que
Hipácia voltou para casa, como uma celebridade de diversas qualidades, o museu
já tinha um emprego aguardando por ela. Seu talento para ensinar geometria,
astronomia, filosofia e matemática atraía estudantes admiradores de todo o
Império Romano – tanto pagãos como cristãos. Ela também escrevia comentários
sobre equações do segundo grau, seções cônicas e outras leituras leves, e
adorava improvisar hidrômetros e outros aparelhos para facilitar a pesquisa.
Hipácia
tornou-se uma mulher influente nos círculos intelectuais e políticos,
convivendo facilmente com filósofos, estudantes, magistrados e realeza. Na
realidade, a única má sorte que ela teve foi com seu senso de oportunidade; ela
vivia no vértice de uma mudança significativa. Antes de seu nascimento, o
Cristianismo havia sido oficializado; em 390 d.C., tornou-se compulsório. O
bispo Cirilo, chefe religioso da Alexandria, dispôs-se a destruir os pagãos
assim como seus monumentos. Seu instrumento: um bando de monges egípcios estilo
Hell’s Angels, irracionais,
ignorantes e imundos, cujo ódio era tanto racial como religioso. Em 391, eles
fizeram picadinho do Serapeum, o templo que abrigava uma das bibliotecas do
museu. Gradualmente, essa mulher de carreira, culta, solteira e pagã, chegou ao
topo da lista de seus inimigos.
Em
uma tarde de 415 d.C., Hipácia cruzou
seu caminho com uma turba de monges frenéticos, que a arrancaram de sua
carruagem, arrastaram-na para dentro da igreja (acho que santuário não contava
para pagãos) e a fizeram em pedaços da maneira mais difícil, usando conchas de
ostras. Com seu assassinato, a mensagem de Cirilo aos pagãos da cidade em
choque era clara. Sua mensagem às mulheres era ainda mais rude: o reino dos
céus podia ter uma política igual para ambos os sexos, mas, na terra, era
melhor que as mulheres aprendessem seu lugar. Diferentemente dos primeiros dias
do Cristianismo, quando as mulheres e seus trabalhos, sua fé e recursos
financeiros importavam, a própria Igreja havia se transformado numa concha de
ostra.
Como
neoplatônica, Hipácia acreditava que vivíamos numa cópia imperfeita do mundo
ideal. Acreditava na presença do mal, mas não na sua existência eterna – uma
crença que foi dolorosamente testada pela sua morte vil e sem sentido. Por toda
sua vida, Hipácia havia encontrado pretendentes que insistiam para que lhes
desse seu amor e os aceitasse em casamento; para desapontá-los gentilmente, ela
sempre dizia: “Como uma filósofa, sou casada com a verdade”. É possível que ela
tenha dito a mesma coisa a seus assassinos.
(*)
- A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da Antiguidade vai falar de SOBEKNEFERU,
a segunda mulher na história a se tornar uma faraó de verdade. Essa egípcia viveu
nos primeiros anos do século XVIII a.C.
(**)
– Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”, título original, “Uppity Women
of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de Miriam Groeger, Record: Rosa dos
Tempos, 1997.
(***)
Todas As imagens foram extraídas do Google.
A autora
Vicki León
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