Aracaju/Se,

domingo, 22 de setembro de 2019

Tipos Populares - Zé de Raul


Isto é História

Aracaju Romântica que Vi e Vivi
Tipos Populares
ZÉ DE RAUL
                                   
Murillo Melins
José Sandes Lago, homenzarrão com um metro e oitenta e tantos de altura, ex-expedicionário que desfilava garbosamente no 7 de Setembro, ostentando a bela farda da Força Expedicionária Brasileira. É o Zé de Raul, funcionário da Prefeitura de Municipal, aposentado como Fiscal de Tributos. É um tipo popular que todo mundo aprendeu a gostar. Aonde vai faz as pessoas rirem, porém é muito irreverente. Quando tem de falar, fala sem medo. Além de muitas peripécias, foi em carnavais passados eleito Rei Momo.
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No auge do seu reinado, desfilando num carro alegórico improvisado, cujo trono era armado em cima de um velho jeep, a cadeira do rei balançava perigosamente. O rei, de vez em quando, chamava a atenção do motorista. – Devagar com o andor. O motorista, que também tinha tomado umas e outras, distraiu-se e freou o carro bruscamente. O rei todo paramentado com capa, coroa e cetro, foi à lona, levantou-se, deu uns carões no motorista irresponsável e em seus súditos, e continuou o desfile a pé.
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Bem crescido já na idade de trabalhar, através de muito esforço e de pedidos, conseguiu um emprego no DENERU. Quem viveu a época  se lembra do que era um mata-mosquito: um guarda com farda cáqui portando uma bandeirola amarela, que colocava na porta da casa que estava visitando. Munido de um martelo, ia furando todas as latas que encontrasse nos quintais, ou colocando cloro em porrões e porções de petróleo em água estagnada. No fim  do expediente, o mata-mosquito tinha que apresentar à chefia um quadro com a relação das casas visitadas e algumas observações sobre focos dos pernilongos.
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Acontecia, porém, que no relatório que ele apresentava diariamente, constava um número excessivo de visitas às casas em relação aos seus colegas. Por isso, sempre recebia elogios da chefia que dizia aos companheiros de José: - Vejam o exemplo desse funcionário que prima pela erradicação do mosquito, visitando mais casas que vocês dois juntos.
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Até que um dia “a casa caiu”. Zé de Raul apareceu triste sem farda e sem emprego. O chefe tinha descoberto que ele anotava na papeleta  as visitas, sentado na praia, tomando banho de sol.
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Quando a draga San Pablo chegou em Aracaju trazida por Doutor Leandro Maciel. Governador do Estado, para mandar abrir a famosa barra, o Zé de Raul, desempregado, estava sentado em um dos bancos do sinuca Ponto Exato, quando leu em um jornal que a draga estava precisando de um cozinheiro com larga experiência. E eis que o Zé de Raul decidiu se apresentar para o cargo. Para nós, ele alegou que sabia fazer alguns pratos, mas que para cozinhar para uma tripulação de gringos era moleza, pois os filipinos não manjavam nada da cozinha brasileira.
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Ele sumiu dos pontos de nossos encontros por uma semana. Dias após, reapareceu no sinuca e explicou, a seu jeito: - Olha turma, o emprego até que era bom, mas quando chegamos em alto mar, um gringo cismou que eu era bicha, pois no conceito deles, todo cozinheiro é “marico”. Quis me agarrar, aí foi um pega pra capar. Eu quis jogar o filipino no mar. E na volta da draga ao ancoradouro na Ponte do Imperador, fui despedido; aí desisti de uma vez de ser cozinheiro. 
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Geralmente nas noitadas de domingo o Cinema Rio Branco era casa lotada. A soirée era frequentada pela “nata” da sociedade de Aracaju. Em certo domingo, à noite, Zé de Raul chegou quase na hora de começar a sessão. Procurou um lugar nas cadeiras, que estavam lotadas. Olhando bem, viu uma, bem no meio da sala que estava vazia. O nosso herói se encaminhou para o local e depois de mil pedidos de desculpas chegou ao lugar desejado. Para sua surpresa, a cadeira estava ocupada por uma bolsa que uma senhora colocara para reservar o lugar para alguém. Cinicamente, Zé de Raul pegou a bolsa, entregou à senhora e sentou-se na cadeira. A madame irritou-se e disse: - O senhor não tem mesmo vergonha de sentar-se com essa cara safada na cadeira que reservei? Retrucou o Zé: - Estou sentando, minha senhora, não com a cara safada, mas com essa bunda safada.

O autor
Murillo Melins
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Na próxima postagem você vai conhecer BISSEXTINO, um músico que agitou as noites de Aracaju e de Salvador.
- Do livro “Aracaju Romântica que vi e vivi”, de Murillo Melins, 4ª. Edição, 2011, Gráfica J. Andrade.
- As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google. 

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