Aracaju/Se,

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mata Escura (III)

Crimes que abalaram Sergipe

Mata Escura (III)
Acrísio Torres (*)


Emile Zola

Passaram-se os anos. Manuel Antônio da Silva, tendo praticado graves desordens na vila de Capela, foi preso depois de desesperada resistência. Na prisão veio a revelar o crime, a morte de seu irmão e sua cunhada. Pediu a presença da autoridade judiciária, a esta confessando o hediondo assassinato.Teve, porém, uma atitude que, se contrária ao interesse social, revelou um raro sentimento de solidariedade no crime. Nada revelou acerca da participação de Mata Escura nos atos delituosos praticados.Zola escreveu que os homens semelhantes se aproximam e se estimam. Não sendo a observação do autor de Germinal apenas para os bons, não é de desprezar a hipótese da solidariedade criminal entre Manuel Antônio e Mata Escura.Por outro lado, poderia haver um ajuste entre os dois facínoras, que impedia a delação no caso da prisão de um deles. O temor de uma desforra pode ter levado Manuel Antônio a silenciar a respeito do temível cúmplice. Levado à presença do juiz de Capela, subornado pela facção política que amparava o criminoso, mereceu “compaixões”.

Serra de Itabaiana-SE
Deste modo, lhe foi dada a embriaguez como circunstância atenuante do crime cometido.Não se sentiu estarrecida a opinião pública da província pela decisão judiciária. Como sempre, o próprio tempo se encarrega de desarmar a revolta dos espíritos. E, em regra, o segregado acaba alcançando foros de mártir na estranha piedade pública. Segundo Sykes, talvez esse sentimento de piedade encontre explicação no fato de que o criminoso expressa sempre os nossos impulsos sufocados. Haveria uma satisfação em ver nossas fantasias se tornarem realidades. A revolta no ato do crime não passaria de uma tênue defesa da natureza social do homem.O arranjo judiciário teve por fim reformar a sentença de morte que seria irremediavelmente imposta pela lei, reduzindo-a à de galés. Mais uma vez o mal prevalecia em detrimento do justo, num grave estímulo à prática de novos delitos. Manuel Antônio, porém, fugiu às galés, quase matando o guarda que o conduzira à cadeia. Tornou ao mesmo lugar Capunga, na Vila de Itabaiana, cenário de seu horrível fratricídio. No habitat de seus crimes sentiu-se revigorado.

Reuniu um bando de malfeitores, planejando com eles novos assaltos à vida e à propriedade da população da província. Nova atmosfera de terror envolveu a região. Manuel Antônio e seu bando praticam toda espécie de assaltos e roubos. Não hesitam em matar os que se opõem, e muitas vezes matam mesmo as mulheres que lhes suplicaram piedade para seus companheiros. Era o ano de 1847. Novo presidente, José Ferreira Souto, assume a administração da província de Sergipe. Incontinenti adotou as mais severas medidas contra a criminalidade política. Havia nas providências do novo governante da província uma disposição férrea, que lembrava Peretti. Reuniu toda a força pública. E, ante a autoridade policial, declarou que “façam preparar a calceta e corrente requisitadas para os sentenciados”. Todo o corpo policial foi posto no encalço do grupo de Manuel Antônio, refugiado nas matas de Itabaiana.


Lucas da Feira
Itabaiana-SE

Deu-se o terrível encontro. Todos os bandidos foram mortos, depois de inútil e sanguinolenta resistência. Tudo voltou à calma, mas a uma calma aparente e breve. Mata Escura logo depois comete um novo crime, a mando de um potentado, por quatro mil réis.Foge de Capunga e procura guarida junto a senhores de engenho da vila de Capela. Não consegue a proteção esperada. Logo, ele e seu bacamarte recomeçam nesta vila a caminhada de assaltos e crimes. Depois de quatro meses de toda sorte de assaltos, roubos e crimes, Mata Escura é preso e levado a júri em Itabaiana. Não procurou se inocentar, mas manifestou estranha revolta contra a sua punição. Mata Escura era cabra, solteiro, carreiro, natural de Divina Pastora. Não possuía nenhuma instrução, nunca estivera numa escola. Tinha vinte e seis anos de idade na época de sua prisão e enforcamento. Nove crimes de morte levou a cabo o famoso bandido. Nas suas confissões, o primeiro crime foi cometido aos treze anos de idade, e somente “um por motu próprio”. Todos os mais foram como mandatário de potentados da província. Devido à vigorosa energia do governo da província de Sergipe, manifestada na caça implacável aos criminosos, de nada valeu a Mata Escura a influência dos potentados. Pagaria na forca os crimes cometidos.
(*) - Do livro Sergipe/Crimes Políticos I, Cenas da vida sergipana 2, autoria de Acrísio Torres, Thesaurus Editora, prefácio do jornalista Orlando Dantas, páginas 80 a 82.

- Nova postagem de cenas da vida sergipana no dia 18 de janeiro de 2011. Vai continuar abordando a série IV do criminoso Mata Escura, ainda do tempo do império, que foi condenado a morrer enforcado, tudo de acordo com o autor e obra acima.

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