terça-feira, 4 de janeiro de 2011
O Mata Escura (II)
Os Crimes que abalaram Sergipe
(II)
O Mata Escura
Acrísio Tôrres (*)
Há cinco anos passados (em 1837) um crime atrocíssimo enchera de horror e espanto a província de Sergipe. Tornou-se maior a angústia da população pela impunidade dos criminosos. José Francisco da Silva era morador do sitio Capunga, na vila de Itabaiana. Achava-se no leito de dor, em sua casa, curando-se de um tiro dado por seu irmão, Manuel Antônio da Silva. Ao lado, a mulher desvelava-se em cuidados. De repente, ao aproximarem-se os primeiros clarões da manhã, desperta assustada. Há pressentimentos em sua alma. Encaminhou-se medrosamente para a porta. Por uma estreita abertura observa dois homens, um dos quais o seu próprio cunhado. Não reconhece o outro. Todavia, treme ao encará-lo. Havia no estranho um ar que infundia terror. E seu nome, Antônio José Dias, mais conhecido como Mata Escura, já inspirava esse sentimento. - Abram a porta – ordenou rudemente um deles. Num ato instintivo de defesa a pobre mulher reforçara a porta. O enfermo despertou e, os dois, abraçados, compreenderam as intenções dos criminosos. Estavam perdidos.
Fez-se um curto silêncio. Lá fora o sol ia clareando a manhã, enquanto o vento frio e persistente açoitava as árvores, a porta e o telhado do casebre. Sibilava nas frestas da madeira. - Abram a porta – gritaram de novo. Aumentava a angústia do casal. Um horror o dominou inteiramente ao perceber que os dois sicários subiam ao telhado, afastando algumas telhas. Pela abertura os criminosos introduziram os canos de suas espingardas e descarregaram dois tiros sobre o enfermo. Um grito de dor foi seguido da alucinação da pobre mulher. - Assassinos – teve força para gritar. Banhada em lágrimas, desvairada, abraçava-se ao marido, que nada pronunciava. Morria pouco a pouco, com os olhos fixos na mulher, numa expressão serena, de compaixão. - Assassinos – gritava a espaços a mulher. Enquanto isso os criminosos, alargada a abertura do telhado, procuravam descer para o interior da casa. Não estavam satisfeitos os seus instintos primários. Restavam ao infeliz momentos de vida, que deviam ser arrancados com mais barbaridade. Nesta cena final, a tragédia atingira também a desvairada mulher.
Descem do telhado os dois monstros humanos. E, com uma espécie de sabre, Mata Escura embebe vinte e três vezes a sua ponta aguda no corpo agonizante de José Francisco. Intervindo loucamente, agarrada ao marido, a mulher foi seis vezes trespassada pela arma de Mata Escura. Tombou sem vida ao lado do corpo do marido. Para ela, assim foi melhor. Manuel Antônio, irmão e cunhado das vítimas, assistiu de pé, impassível, a essas cenas finais e trágicas. Havia aplacado a sua fúria de criminoso. Mata Escura, terminada a sinistra tarefa, limpou o sangue da arma nas próprias vestes da mulher morta. Voltou-se para o outro e sorriu. Estava cumprida a sua parte. Assim acabaram José Francisco e sua mulher, trucidados às mãos de seu irmão e cunhado, e de Mata Escura. Retiraram-se do trágico cenário ufanos do crime, sem que a justiça, durante muitos anos, houvesse tido a preocupação de puni-los.
(*) - Do livro Sergipe/Crimes Políticos I, Cenas da vida sergipana 2, autoria de Acrísio Torres, Thesaurus Editora, prefácio do jornalista Orlando Dantas, páginas 78 a 79.
- Nova postagem de cenas da vida sergipana no dia 11 de janeiro de 2011. Vai continuar abordando a série III do criminoso Mata Escura, ainda do tempo do império, que foi condenado a morrer enforcado, tudo de acordo com o autor e obra acima.
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