Aracaju/Se,

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mulheres Audaciosas da Antiguidade


Isto é história

Mulheres Audaciosas da Antiguidade
Vicki León

A partir de hoje, começando com um prefácio da autora do livro, Vicki León, estaremos postando, todas as terças-feiras, a obra acima, publicada pela Editora Rosa dos Tempos. Vocês vão conhecer as mulheres audaciosas da antiguidade numa linguagem gostosa de ler.



As Audaciosas Pré-Cristãs Definidas e Descobertas

“Um nome próprio é um algo vivo; sua persistência através dos séculos demonstra essa força vital.”
Helen Diner, Mothers & Amazons

Afinal de contas, o que há de importante em um nome? Como os advogados de marcas registradas e as mulheres audaciosas lhe dirão: tudo. A história da antiguidade se especializou em esnobar as mulheres por meios evasivos, com seus relatos repletos de “uma mulher que ...” e “esposa de …,” e aquela velha frase favorita: “que diziam ser a mãe de ...”. Contudo, entre 2500 a.C. e 450 d.C., por toda a Mesopotâmia, no Egito e no norte da África, ao redor do mar Negro e do Mediterrâneo, da Inglaterra à Terra Santa, existiu um número incalculável de mulheres importantes – mulheres reais e não deusas ou ficções literárias. Seus nomes não foram perdidos, mas apenas extraviados ou encobertos. A maioria delas tinha um único nome, como Kubaba de Kish, Hatshepsut do Egito, Melânia da Antióqua, Gorgo de Esparta e Fabíola de Roma. Seus feitos também não estão perdidos para nós; as mulheres indômitas balançaram tantos berços quanto qualquer outra mulher, mas também criaram muita confusão. De diferentes culturas, épocas e classes sociais, elas compartilharam uma obrigação moral: essas realizadoras de alta energia não aceitaram o que os outros diziam que uma mulher devia ou não fazer. Elas sabiam como fazer para tirar o maior partido possível dos aspectos positivos com que nasceram – que muitas vezes não eram muitos. Algumas mulheres neste livro foram escravas, que freqüentemente exibiam um senso triunfante de autovalorização, a despeito da posição social que ocupavam em suas vidas. Como a prisioneira num leilão público em Esparta, à qual um comprador exigente perguntou: “Você vai ser útil se eu a comprar?” Olhando-o de alto a baixo, ela retrucou friamente: “Sim – e se você não me comprar também.”



Algumas das mulheres audaciosas escolheram notoriedade em lugar de gentileza, e autonomia em lugar de submissão social e sexual. Mulheres como Tecla, a amiga íntima de São Paulo, e Artemísia, uma comandante da Ásia Menor, adoravam uma boa luta. Outras, como Salomé e Herodíades, sua mãe assassina, chafurdavam alegremente em perversidades. Da Suméria e Egito antigos até as eras cristãs, as mulheres desempenharam papéis-chave na vida espiritual dos povos. Nas paginas deste livro, você encontrará a coragem insolente das mártires cristãs e os infortúnios das virgens vestais; lamurientas sacerdotisas adolescentes, mênades (bacantes) gregas e mulheres sábias hititas; sacerdotisas-poetisas sumerianas que desempenhavam a função de noivas sagradas e matronas romanas que, silenciosamente, deram milhões para a recém-formada Igreja Cristã. Com um tom longe do respeitoso, você também ouvirá muita coisa sobre os macedônios da região norte da Grécia, para os quais três coisas – cavalgar, matar rivais e contrabandear – todas faziam parte de um dia de trabalho. E encontrará uma enciclopédia fascinante de mulheres que optaram por ser poetas e envenenadoras, médicas e gladiadoras, arquitetas e atletas, agiotas e perdulárias, cabeleireiras e pessoas terríveis, advogadas e proprietárias de imóveis em litígio, filosofas e namoradeiras, esposas extremamente santas e super-vendedoras de sexo.


No conjunto, este livro faz um perfil de duzentas mulheres que atacaram a vida em seus próprios termos. Em conjunto, suas vidas formam uma visão bruxuleante e surpreendente de raízes comuns, diferenças interessantes e problemas universais da cultura humana vistos de uma perspectiva feminina – e seus paralelos surpreendentes com nossas próprias perspectivas. Semelhante à feitura de uma colcha de retalhos de pequeninos recortes de tecido antigo, as historias dessas mulheres foram desenterradas de uma vasta série de fontes históricas e literárias, muitas vezes contraditórias, hostis, imprecisas ou incompletas – ou todas essas coisas. Afortunadamente, existe um conjunto igualmente gigantesco de evidências não-literárias. Esses materiais, um dia chamados “fontes inconscientes” pela historiadora Barbara Tuchman, incluem cartas, casos jurídicos, objetos de arte, moedas, memorandos, diários, artefatos, pichações e inscrições. Eles ajudam a dar uma sensação de contato direto com a vida na antiguidade, da maneira como foi realmente vivida. Em algumas instâncias, uma determinada imagem ainda é fragmentária – mas a Vênus de Milo também é, e não vejo ninguém jogando sua estátua fora por causa disso. Para fornecer um contexto, a história de cada mulher é tecida dentro de uma matriz cultural – dos assuntos que eram importantes para ela aos rumos dos grandes acontecimentos e eventos dos quais pode ter participado. A maioria das datas incluídas neste período de três mil anos é sentimental; entretanto, como nove dentre dez historiadores concordariam, uma historia significativa se concentra em elos, marcos culturais importantes e correlações - e não em números. Outra área delicada é a escrita e a pronúncia dos nomes da antiguidade. Para fazer deste livro um prazer em vez de um experiência penosa de múltipla escolha, dei a versão mais comum e mais fácil do nome de cada mulher. Mas saibam que existem muitas variações por aí.


O palco onde essas mulheres viviam e se movimentavam é gigantesco. Suas civilizações começaram no leste e no sul – Mesopotâmia e Egito – e gradualmente se espalharam para o oeste, ao redor do mar Mediterrâneo. Os vales quentes dos rios da Mesopotâmia testemunharam uma sucessão de culturas: Suméria, Acad, Babilônia, Assíria e Pérsia. Em contraste, o Egito permaneceu egípcio desde os tempos primordiais aos dias de Cleópatra, quando caiu sob o domínio romano. Na Ásia Menor (atualmente Turquia), Síria e Terra Santa proliferavam cidades prósperas e reinos – freqüentemente reinos de rainhas. A área presenciou um turbilhão de culturas e poderes políticos, dos hititas e fenícios aos persas, judeus, gregos e romanos. A “Grécia” sempre foi mais um conceito do que um país; suas regiões e cidades-estados nunca permaneceram unidas. Quando as populações cresciam, as cidades-estados enviavam seu excedente para fundar novas colônias ao redor do Mediterrâneo, que por sua vez faziam a mesma coisa. Essa miscelânea de helenismo preservou o mundo grego em pensamento, linguagem e cultura, por um longo tempo após a Grécia ter se tornado romana no sentido político, a partir de 27 a.C.


Por outro lado, o Império Romano deixou que os povos, regiões e cidades sob seu domínio preservassem seus costumes. A única exceção foi a Terra Santa, onde, depois de muita luta, os judeus foram destituídos tanto de sua religião como de seus bens imóveis. Em contraste, a Igreja Cristã, com uma orientação fortemente feminina nos primeiros séculos, finalmente conquistou os corações e mentes de muitas pessoas, das imperatrizes romanas às classes mais baixas. Uma frase da historiadora Pauline Pantel pode muito bem definir o máximo da mulher audaciosa pré-cristã: “Vagarosamente, muito vagarosamente, as mulheres se tornaram indivíduos, pessoas cuja opinião importava.” Esta frase notável – pessoas cuja opinião importava – transpira aquilo pelo qual as mulheres da antiguidade lutaram e que nós, suas descendentes, continuamos a reivindicar nos dias de hoje. Este livro é dedicado a cada uma dessas pioneiras insaciáveis e audaciosas, e foi escrito com o mesmo espírito irreverente dessas mulheres.

A Autora
Vicki León




(*) – Na próxima terça-feira, dia 26, vamos falar de SHUD-AD, que viveu na cidade de UR, na Suméria, no ano 2.500 a.C.

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