Aracaju/Se,

terça-feira, 26 de abril de 2011

Mulheres da Antiguidade - Shudi-Ad

Isto é História

Mulheres Audaciosas da Antiguidade
SHUDI-AD
Vicki León

A cidade de Ur, na Suméria, no ano 2500 a.C., era um lugar elegante, onde a música, a moda e as artes floresciam com bom gosto e qualidade igualados apenas pelo Egito. A rainha Shudi-Ad foi uma das benfeitoras de Ur, talvez até mesmo sua inspiração. Ela e sua corte viviam, bem, eu diria como reis. Ninguém jamais usou adornos de cabeça tão primorosos como os sumerianos: criações delicadamente originais feitas de folhas de ouro, representando folhas de faia e flores, que deviam ter um efeito cintilante extremamente encantador quando as pessoas se moviam. A própria rainha usava um pente alto com rosetas de ouro, cornalina e lápis-lazúli em sua peruca escura, e grandes argolas de ouro nas orelhas. Shudi-Ad bebia em taças de ouro trabalhado; seu vinho era guardado em jarras altas de alabastro estriado. Ela e sua comitiva usavam tabuleiros de jogos e tocavam instrumentos musicais cravejados de mosaico, e andavam em carruagens ostentando esculturas de leões e outros animais. Até mesmo os sinetes cilíndricos com os quais ela assinava seu nome eram obras de arte.
Mas era a música – não só em seu círculo, mas através de todo reino da Suméria – que recebia a maior atenção. Os sumérios usavam a mesma escala musical que nós usamos, e apreciavam harmonia e interpretações arrebatadas em harpa, lira, flautas e tambores. É fácil imaginar seus poemas sensuais sendo cantados; tanto mulheres como homens tinham carreiras honradas como cantores. Como um grupo, os sumérios não davam muita importância à vida após a morte. Essa incredulidade, associada ao poder absoluto da classe dirigente e um desejo muito humano de comparecer ao próprio funeral, os levou a criar a primeira combinação festa-funeral do mundo. Um velório pré-morte, por assim dizer. A rainha Shudi-Ad deve ter ficado contente com seu funeral – ela pôde desfrutar a maior parte dele. Shudi-Ad tinha quarenta anos quando morreu, de causas desconhecidas, mas que provavelmente não foram naturais. Marchando com Shudi-Ad para dentro do seu túmulo, provavelmente ao som de música, foram sessenta e quatro criadas, a metade delas usando fitas douradas nos cabelos e a outra metade fitas prateadas; uma carruagem de madeira elaboradamente ornamentada em ouro e prata, puxada por dois bois; quatro mulheres harpistas e seis soldados (além do túmulo de Shudi-Ad, arqueólogos encontraram na Suméria vários locais de sepultamento em massa; ninguém realmente sabe por que os sumérios se dispunham a isso).

A cena da morte parece ter sido alegre. Todos foram encontrados em perfeito repouso – sem um diadema sequer fora do lugar. De fato, o tipo de funeral que todos nós fantasiamos. Cada um dos membros da festa-funeral recebia uma bebida numa pequena taça. As harpistas tocavam. Os cantores entoavam canções. O grupo pode ter feito até um pequeno caraoquê. Afinal, quem sabe ao certo? E, quando a música acabou e a quietude tomou conta do aposento com seus súditos entorpecidos e agonizantes, agrada-me pensar que a linda rainha lhes teria dado uma salva de aplausos, antes de ela mesmo beber até o fim sua própria taça de nepente e então deitar em seus finos adornos para sempre.

(*) – Na próxima terça-feira, dia 3 de maio de 2011, você vai conhecer INNASHAGGA, uma sumeriana que viveu no ano 2000 a.C. e que se caracterizou pelas batalhas jurídicas enfrentadas.

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