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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mulheres da Antiguidade - HERAIS

Isto é história
Mulheres Audaciosas da antiguidade
HERAIS
Vicki León
 
As mentes lógicas de nossa era podem achar a crença incondicional nos antigos oráculos algo difícil de engolir. Mas, é bem possível que alguns oráculos também usassem fontes outras que não as paranormais (agentes secretos, serviço de pombo-correio) para fazer as predições. Todavia, alguns de seus espetaculares e fatídicos acertos na mosca fazem os subterfúgios parecerem improváveis.
 
Tomem como exemplo o caso de Herais, que aconteceu em torno de 148 a.C. Um oráculo de Apolo na Cilícia (parte da Turquia) disse a um ambicioso rapaz chamado Alexandre Balas “que tomasse cuidado com o lugar que originasse o ser com duas formas”. Balas guardou esse enigmático biscoito da sorte e continuou com seus afazeres de guerra, encontrando-se finalmente na Arábia, numa cidade fundada pelos gregos chamada Abae.
 
Abae significava cidade natal para uma garota chamada Herais, que recentemente havia sido dada em casamento por seu pai para Samíades, uma espécie de vendedor ambulante. Após um ano de bem-aventurança conjugal, Samíades partiu para uma viagem de negócios de um ano. Durante sua ausência, Herais ficou terrivelmente doente. Um tumor grande e doloroso começou a crescer em seu abdômen. Os médicos faziam o que podiam para amenizar sua febre e dor, sem muito sucesso. Após uma semana, a maldita coisa estourou, e um jogo completo de três peças de genitália masculina saltou para fora. Como se pode imaginar, os médicos estavam jogando golfe, portanto só a mãe de Herais e duas criadas presenciaram a transformação. Estarrecidas, elas mantiveram o segredo dentro da família. Depois de se recuperar, Herais vestiu roupas femininas normais e continuou agindo como uma dona-de-casa.
 
Finalmente, Samíades apareceu, agora ansioso para ter uma conversinha íntima de alcova. Todos lhe davam evasivas: Herais, as criadas, sua mãe e até mesmo seu pai, que estava constrangido demais para dizer a Samíades que ele agora estaria dormindo com um homem. Samíades ficou tão furioso que levou a família toda para a corte, processando o pai de Herais para que devolvesse sua esposa. O júri deu parecer favorável ao marido, dizendo que era o dever de esposa de Herais ir para a cama com ele. Herais não teve outra alternativa senão expor as evidências na corte, protestando que a lei não deveria exigir que ela coabitasse com um homem uma vez que agora também era homem. 
 
Depois que todos superaram o choque, Herais jogou umas roupas masculinas no corpo, trocou o nome para Diofanto, e se alistou na unidade de cavalaria de Alexandre Balas, para poder fazer coisas de homem, como saquear e lutar. Balas enfrentou então um pequeno retrocesso, batendo em retirada com suas tropas para Abae, onde foi assassinado por dois de seus amigos mais antigos – e, bum! Um oráculo distante marca ponto mais uma vez.
 
Enquanto isso, o bom e velho Samíades descobriu que ainda amava Herais. Como agora a ex-feminina Herais estava fora de cena, o marido caído no esquecimento e com o coração em pedaços escreveu um testamento, fez do novo e melhorado Diofanto o seu herdeiro, e se suicidou.

(*) - A próxima postagem de Mulheres Audaciosas da Antiguidade vai falar de CLEÓPATRA VII. Poliglota e sensual, tornou-se amante do imperador romano Júlio César, apesar de casada com um irmão de 12 anos. Egípcia, ela viveu nos anos 100 a.C.

(**) – Do livro “Mulheres Audaciosas da Antiguidade”, título original, “Uppity Women of Ancient Times”, de Vicki León, tradução de Miriam Groeger, Record: Rosa dos Tempos, 1997.

A Autora


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