terça-feira, 6 de novembro de 2012
A Vida é Bela
A Vida é Bela
Clóvis Barbosa
2012. Brasília completou no sábado, 21 de abril, 18 mil e novecentas e noventa e três madrugadas, manhãs, tardes ou noites. Era o seu aniversário. 52 Anos de vida de uma cidade que é um anfiteatro. Tem um crepúsculo simplesmente maravilhoso. Das minhas trezentas ou trezentas e cinqüenta viagens à capital federal aprendi a extasiar-me com o seu amanhecer, com a sua alvorada. Logo depois das 6 horas da manhã, o dia começa a surgir no horizonte. É hora de agradecer a Deus por mais um dia. A vida é bela! É hora de colocar um tênis, uma camiseta, uma bermuda, um óculos escuro, um boné e ir ao Parque da Cidade, a uns duzentos metros do Setor Hoteleiro Sul. A cidade é civilizada e os veículos param nas faixas de pedestres. Chego ao parque, passo pelo espaço infantil Ana Lídia e chego à tenda do seu Jorge, chamada “Laranja Brasil”, vizinha ao Nicolândia Center Park, autointitulado “o maior parque de diversões do centro oeste”. Como uma banana prata e outra “d’água”. Bebo uma garrafa de água mineral. Converso bobagens com os presentes e parto para uma sessão de alongamento/aquecimento. Começo a correr numa viagem que percorro há uns oito anos, depois que deixei de fumar. A viagem dura aproximadamente 7 km . Passo por oito espaços que os denomino como “Estações”, cada uma com um significado: Esperança, Desejo, Amor, Criança, Pássaro, Solidão, Sensatez e Alegria. As diligências do abismo, da insensatez, da incoerência, da hipocrisia não param nessas paradas, que é representada por um sanitário com banheiro para homem e outro para mulher, bebedouro d’água e dois bancos para cada quatro ou cinco pessoas. Um local evidentemente para descanso dos atletas.
Ao chegarmos aos 2 km temos o primeiro retorno pelo lado leste. Sigo em frente, passando por uma ponte em forma de arco, em direção ao segundo retorno. Chego à Praça das Fontes. É hora de parar de correr e caminhar. O fôlego não agüenta mais, embora as pernas continuem firmes. Inexplicavelmente, não consigo superar a casa dos 3 km , diferentemente de Aracaju onde corro até 8 km , Nessa viagem, passo por diversas propagandas coladas nas lixeiras: depilação a laser, farmácia de manipulação, corretagem de imóvel, sex shop, pizzaria, aparelhos celulares, Oral Estética Odontológica, Academia de Pilates. Os avisos são diversos: “Viva melhor, pratique esportes”; “Cuidado, crianças brincando no parque”; “Devagar, respeite o pedestre”; “Ciclista, proibido correr, evite acidentes”; “Ciclista, use somente a faixa da direita”; “Mantenha seu cão na coleira”; “Pedestre, use somente a faixa da esquerda”; “Água é vida”. Todo esse espaço é compartilhado com muita gente bonita, com animais silvestres, pássaros, gansos, lagos, árvores, muitas árvores, como mangueiras e jaqueiras e de todo tipo. O mais impressionante são os ninhos do oleiro João-de-Barro, o arquiteto sem diploma. Como esses pássaros conseguem construir de forma meticulosa, científica, essas casas? Os furnarius rufus, como são conhecidos cientificamente, coletam barro úmido do solo e misturam com esterco e palha. O genial é que todas as casas têm as portas de entrada posicionadas contra a chuva e o vento. Constroem as suas casas nos galhos de árvores, postes e beiradas de casas. Eles trabalham 8 a 10 horas por dia, com exceção dos domingos, construindo meticulosamente as suas casas O por quê da folga ninguém sabe explicar, e não interessa. O que vale é apreciar esse dom dado por Deus. A vida é bela!
Finalmente, chego ao final da minha maratona para o local do início, a “Tenda do Jorge”. Tomo um “Gatorade” e ele vai logo me dizendo: “Você, como cliente, está convidado a comparecer terça-feira, 24 de abril, às 9 horas, no Plenário da Câmara Legislativa do DF, ocasião na qual será elaborado o projeto legislativo que decidirá o plano de ocupação do parque da cidade”. Explico a ele que teria de retornar a Sergipe, mas estaria torcendo pela aprovação do projeto, cujo objetivo era o de padronizar as tendas. Na tenda, a conversa entre os atletas era a Maratona Brasília de Revezamento 2012, que seria realizado no dia 21 de abril, data do aniversário da cidade, na Esplanada dos Ministérios. “Corra da rotina e participe”, era o lema da propagada que inundava todos os pontos da capital federal. Sexta-feira, dia 20, foi o dia de entrega do kit atleta: camiseta convencional ou baby look, boné, squeeze, munhequeira de revezamento, número de peito, chip de cronometragem, mochila, manual do atleta e um vale jantar de massas. Antes de seguir para o hotel, faço alongamento. Pronto! Estou preparado para enfrentar um novo dia. Estou leve como a pluma e, como diria o compositor Paulo Lobo, na sua música A chave do mundo: “A gente não tem pressa se está bem da cabeça. Viver é um presente”.
Em cada cidade que viajo não deixo de levar os apetrechos da corrida e ou caminhada. Em Porto Alegre , por exemplo, gosto do Parque Moinho dos Ventos, também conhecido como “O Parcão”. É uma mistura de tudo, cães, bicicletas e muita gente, principalmente nos domingos de sol. É uma festa onde a felicidade reina. Em São Luiz do Maranhão há o parque que circunda a Lagoa da Jansen, apesar do fedor de esgoto em alguns pontos do trajeto. No Rio de Janeiro, há o calçadão que vai do Leme ao Leblon. Em Maceió, há o calçadão que vai da Pajuçara até Jatiúca, passando por Ponta Verde. E aí vai. Agora, em Aracaju, foi inaugurado o calçadão que vai da Ponte do Rio Mar até a Atalaia. Um presente para quem quer correr 10 km na ida e volta. O parque da Sementeira infelizmente não tem qualquer atrativo, apesar da teimosia dos sergipanos e dos casais jovens que acorrem para o local. A pista de caminhada/corrida é cansativa, pois, para correr ou andar 5 km você tem que dar, como peru, 3 a 4 voltas o que torna o lazer tedioso e à morrer de tédio, como diria Maiakóvski, é melhor morrer de vodca. Já dizia a poetisa Cora Coralina que o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. E adianta que caminhando e semeando, no fim nós teremos o que colher. É o que faço todos os dias. Caminhando e semeando. A vida é bela! Só nos resta viver.
(*) – Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju-SE, edição de domingo e segunda-feira, 29 e 30 de abril de 2012, Caderno A, pág. 7.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário