quinta-feira, 9 de maio de 2019
Tipos Populares de Aracaju - DECINHO
Isto é História
Aracaju Romântica que Vi e Vivi
Tipos Populares
Decinho
Murillo
Melins
Edson Ribeiro da Costa, o popularíssimo
Decinho, foi o rapaz que mais luxou em Aracaju. Era um tipo carismático, amigo
dos mais humildes aos mais grã-finos da cidade. Boa pinta, elegante no vestir,
chamava atenção por onde passava. Nas ruas era cumprimentado por todos.
Frequentava os espaços mais requintados, mas também, às vezes, era encontrado
conversando animadamente com carregadores de malas, engraxates e excluídos,
levando, muitas vezes, um desses deserdados até sua residência, para saciar sua
fome ou ofertar-lhes roupas e sapatos usados. Certa vez, montou um escritório
de representações, tendo como sócio o também conhecido e elegante Domar
Sucupira. Devido ao conhecimento que ambos tinham, arranjaram boas
representações, como a Cia. Costa Pena, fabricante dos melhores charutos da
Bahia e do Brasil, como também a representação de uma conceituada fábrica de
calçados e outras empresas bem conhecidas.
Ambos,
sem tino empresarial, movidos mais pelo coração do que pelos negócios,
admitiram uma secretária e dois vendedores amigos, mas sem nenhuma experiência
no ramo, e não muitos afeitos ao trabalho. O escritório era mais ponto de
encontro de amigos do que uma casa comercial. Era comum os visitantes fumarem
os caros e perfumados charutos do mostruário. Os
sapatos também eram calçados pelos vendedores Barbosinha e Macarrão. Eles
visitavam as praças de Aracaju e do interior, trazendo pedidos dos fregueses.
Solicitavam vales por conta das comissões, e eram plenamente atendidos. Algumas
vezes, quando os pedidos chegavam, e eram levados à firma (compradora), muitas
devolviam, dizendo desconhecerem aquelas solicitações de compras. Prejuízos e
mais prejuízos fizeram com que a firma fechasse suas portas. O amigo radialista
Wellington Elias fazia gratuitamente em redações impecáveis as correspondências
da firma.
Após
essa experiência, Decinho passou a ser representante de laboratórios
farmacêuticos. Tempos depois, era considerado o melhor vendedor e, apesar de
ser gago, era disputado pelos melhores laboratórios. Sempre que algum amigo
estava desempregado, procurava Decinho que, devido o conhecimento com gerentes
e diretores de firmas, arranjava trabalho para o mesmo. Se alguém não tivesse
uma roupa em boas condições para se apresentar no novo emprego, ele levava o
amigo até sua residência, abria o guarda-roupa e mandava escolher a que mais o
agradasse. Em seguida, telefonava ou ia a Salvador apresentá-lo para assinar o
contrato. Quando ficou doente e inválido, protegidos o esqueceram. Foi
confortado pela família e por dois ou três amigos até a morte.
O
mais elegante dos boêmios era quem melhor dançava, chamando atenção de todos
nos seus traçados puladinhos e tesouras. Ele e sua esposa Marília,
abrilhantaram réveillons e carnavais da Atlética. Na
roda de amigos, nas retretas, festas de Natal, rua João Pessoa, apesar da
gagueira, era quem mais falava e agradava. Em
uma ocasião, estávamos na rua João Pessoa, assistindo a saída da matinê do Rio
Branco. Passaram por ali duas garotas bonitas. Um companheiro chamou nossa
atenção, dizendo: Puxa, que Dona Boa! Ao que Decinho respondeu: “Boa é minha
mãe, ela é ótima”. Alguns minutos depois, passou por ali outra moça, quando um
colega observou: “Olha, que dona boa”. O outro retrucou: “Boa é a mãe de
Decinho, ela é ótima”. A frase tornou-se corriqueira.
Alguém
contou que, a passeio por Buenos Aires, estando parado na rua Corrientes, um
grupo de rapazes observava as “muchachas”, quando um deles disse, ao passar uma
garota: Que mujer buena! Outro retrucou: “Buena es la madre de Decinho”. Ainda
hoje, Decinho é lembrado pelas suas conversas, pelas suas danças e seu grande
coração alegre e caridoso.
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A próxima postagem você vai conhecer CHICO
DE PAULA, o homem que forjou a própria morte depois de desaparecer de
Aracaju. Quando todos achavam que ele tinha morrido, eis que ele retorna a
Aracaju criando os maiores problemas.
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Do livro “Aracaju Romântica que vi e vivi”, de Murillo Melins, 4ª. Edição,
2011, Gráfica J. Andrade.
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As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google.
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