Aracaju/Se,

quarta-feira, 30 de março de 2011

Quem foi o poeta Annibal Theóphilo? (III)

Debate

III
Quem foi Annibal Theóphilo
Arnaldo da Silva Rodrigues


Teatro Municipal
RJ em 1915

As provocações e o desprezo que enfrentamos exigiam de nós uma atenção redobrada de não alimentar a polêmica, justamente porque as pessoas que nos incentivavam e acreditavam no nosso trabalho, não poderiam se decepcionar com nossa reação diante dos que nos afrontavam. É preciso que se esclareça que neste trabalho não há revanchismo. A justiça reconheceu e confirmou. Há, sim, a convicção absoluta de refutar e apagar as acusações gratuitas que maculavam o poeta, vítima, ainda, indefesa. Aqui não há acusações, há sim a energia de encaminhar a luz para clarear o negrume que se deixaram mergulhar no abismo das paixões os escritores, pesquisadores, memorialistas citados por nós. Durante algum tempo andamos preocupados com a posição de homens cultos, acadêmicos, na postura de ao escreverem suas histórias descerem do pedestal de intelectuais para, com rancor, atingirem um personagem da história, no nosso caso, Aníbal Theóphilo.


Camões

Por certo, já tinham prestígio diante da opinião pública, não precisando se projetar com acusações infamantes. A verdade só tem uma face. Mascarar a face única da verdade é descer ao abismo dos infernos sem retorno. Fomos envolvidos, por um capricho do destino, na tarefa de publicar o resultado de nossos estudos e pesquisas na elaboração deste trabalho. O autor de Rimas, Musa Erradia, Folhas e Um Poema, teve grande projeção no meio da classe de intelectuais, sendo respeitado e bastante homenageado. Ao longo destas linhas são tantos os depoimentos que identificam a personalidade, a figura do ser humano e a poética de Aníbal Theóphilo. A história está falando por nós. A vida e obra de Aníbal Theóphilo nos bastariam para a composição deste estudo. Os lances que marcaram a presença do poeta nas inúmeras viagens que realizou como literato, ora no Centro Literário, em Fortaleza, ora na Mina Literária de Belém do Pará, de volta ao Rio de Janeiro, na Organização da Sociedade Brasileira dos Homens de Letras, na secretaria do Teatro Municipal, nos salões e horas literárias, o poeta era um magnífico declamador de autores nacionais, de Camões, Petrarca, Heredia, Bainville, Leconte de Lisles, Théophile de Gautier, nas redações de jornais e revistas, nas livrarias e nas confeitarias.


Rio de Janeiro em 1915

Sua presença junto aqueles que viveram intensamente sob as luzes da belle époque foi marcante. Ao chegarmos, todavia, ao capítulo que fala da morte do poeta, impressionaram-se as reações, as afrontas dos que não queriam aceitar de forma alguma a nossa contestação aos dizeres do livro de Gilberto Amado, Minha Vida na Política – Terrível Prova – 1958. Processaram-nos, exigindo o nosso silêncio, impondo a nossa punição. A história ensina que o pesquisador tem a obrigação de ao descobrir os fatos catalogá-los e registrá-los todos a bem da verdade. Aníbal Theóphilo não foi absolutamente aquilo que Gilberto Amado insinua em sua obra. A explosão da revolta deu-se quando da publicação em O Globo, no dia 17 de setembro de 1979, de reportagem sobre o acontecimento trágico de 1915. Ali estão transcritos momentos da cena que culminou no crime. Não sai palavras nossas. A opinião pública se manifesta através dos órgãos de imprensa da capital do país. O que representa este livro? Foram décadas de pesquisa. Os documentos aqui expostos foram extraídos de arquivos das bibliotecas, dos livros, jornais e revistas. As entrevistas com os contemporâneos do poeta deram valor à realização deste ensaio.

Museu Nacional
de Belas Artes-RJ

A vida do poeta preenche, em grande parte, estas páginas, com a reprodução dos cenários da belle époque, na cidade do Rio de Janeiro, capital da República, transformada com reformas nos moldes de metrópole europeizada: a Avenida Central, o Teatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes, A Biblioteca Nacional, o encontro de literatos nos salões, horas literárias, conferências nas livrarias, nas redações dos jornais e revistas. O povo, com roupagem elegante, desfilava orgulhoso com as grandes conquistas. Vida noturna intensiva nos teatros e cinematógrafos. Sobre Aníbal Theóphilo, fizemos o levantamento de seu itinerário diversificado, ora no sul do Brasil, onde estudou e ingressou na vila militar aos 16 anos, ora na Bahia, ora no Rio de Janeiro, ora no Ceará, como cadete, de volta ao Rio de Janeiro, na Amazônia, onde permaneceu quase uma década tentando sobreviver fora da vida militar. Como literato, por onde passou deixou a marca de sua presença atuante. Estas folhas que se seguem colocam-no junto aos grupos que produziram intensamente nas letras.

Membros da República de Laranjeiras-RJ - 1915

Da morte de Aníbal não quiseram que falássemos. Por todos os meios tentavam nos impedir e espezinhar. Foi uma jornada angustiante. Chegamos aos dias de hoje protegidos pela Justiça que nos permitiu trabalhar no sentido de consertar o que vinha sendo publicado, em memórias agressivas, escritas pelo próprio eliminador do poeta. Esta monografia representa a exposição dos fatos históricos obtidos ao longo do tempo, com considerável resultado de pesquisas reveladoras, que deverão, por certo, eliminar infâmias que vem sendo repetidas por memorialistas descomprometidos com a verdade. 1958 foi o ano em que intensificamos as pesquisas para a organização destas páginas. Por quê? Naquele ano mesmo ano, o eliminador físico do poeta Aníbal Theóphilo publicou as suas memórias, que trazem a deliberada intenção de destruir a honra do poeta. Tenta justificar o crime, ficar bem perante a história. Não satisfeito com o julgamento em 1916, absolvido com base “na privação dos sentidos e da inteligência” por 4x3, volta, quarenta e tantos anos passados da tragédia, ao triste episódio para denegrir a imagem da sua vítima ainda indefesa. Contra Gilberto Amado obtivemos e documentamos mais de meia centena de depoimentos históricos sobre a figura social. Estas páginas cuidam de transcrever o pensamento espontâneo dos que conviveram com o poeta, estes sim, podem julgá-los para a posteridade. Na casa dos quarenta anos de uma vida plena de lutas e sacrifícios e nobreza para com seus pares, teve sua vida ceifada num lance trágico no fim de uma festa literária que angariava fundos para a Sociedade Brasileira e Homens de Letras, em 1915. Gilberto Amado pensa ser dono da verdade quando escreveu Minha Vida na Política – Terrível Prova, acreditando suas memórias como solução definitiva em favor de sua biografia. Cheio de manha e artimanha, desenvolve o seu pensamento unicamente em querer se projetar para a história, passando-se por vítima, num flagrante escárnio à memória de Aníbal Theophilo. O objetivo deste livro, se uma parte é quebrar o silêncio que tem assombrado a memória do grande poeta, impedindo que se reconheça o lugar de destaque a que tem direito na literatura brasileira, de outra, é restaurar a verdade dos fatos sobre o crime, distorcidos de tal modo que o algoz é apresentado como inocente e a vítima como culpado. De fato, não constam do capítulo da “terrível prova” os episódios que deram origem às reações dos literatos que freqüentavam a rua do Rossi, casa do escritor Coelho Neto, e o Centro Positivista, liderado por Alcides Maia, na chamada República das Laranjeiras, afastando Gilberto Amado daqueles convívios.

Apresentação do Autor




Arnaldo da Silva Rodrigues é neto do poeta Annibal Theóphilo. Isso basta para explicar o amor e o entusiasmo com que escreveu toda sua obra. Com declarada intenção de procurar retirar do esquecimento o grande e generoso avô poeta, escreveu o texto acima, resgatando, assim a memória do seu antepassado, brutalmente assassinado no Rio de Janeiro, em 1915.

(*) – Justificativas do autor de “Vida e Obra de Annibal Theóphilo – Triste Fim de um Poeta Assassinado”, de Arnaldo Rodrigues, reproduzido, com revisão, do site: http://www.livrovirtual.com/LivroVirtual/?categoria=livro&livro=7D398.

(**) Nova postagem no próximo dia 5 de abril de 2011, onde continuaremos a publicar a versão do neto do poeta Annibal Theóphilo, morto em 1915, crime atribuido ao sergipano Gilberto Amado.

(***) Veja, também, neste blog, o crime do poeta Annibal Theóphilo, em 1915, no Rio de Janeiro e o julgamento do autor do crime, Gilberto Amado, na versão do escritor Acrísio Torres.

Um comentário:

  1. Oi, Clovis!
    Você por acaso teria o número dos processos referentes tanto à morte de Annibal quanto dos processos que Arnando da Silva teve que responder enquanto tentava publicar a história de seu avô?
    Se sim, poderia me informar?
    Obrigada!

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...