Aracaju/Se,

terça-feira, 22 de março de 2011

Quem foi o poeta Annibal Theóphilo? (II)

Debate
II

Quem foi Annibal Theóphilo
Arnaldo da Silva Rodrigues
 
Olavo Bilac

Entrevistamos Luiz Edmundo. Impactos. Emoções. Levamos a ele o seu depoimento à imprensa em 1915 como testemunha da história. Declara publicamente: “Da parte de Annibal Theóphilo percebeu que não havia ódio nem vingança, apenas indiferença por Gilberto Amado”. E completava: “Insuspeito como sou, afirmo ter sido, perfeitamente documentado, que o proclamado espírito de perseguição nunca existiu, sob minha palavra de honra, afirmo” (A Noite, junho de 1915). Luiz Edmundo confessa que o poeta não agredia nem perseguia Gilberto Amado. Dissemos ao autor de Rio de Janeiro do meu Tempo que as palavras publicadas em suas memórias – 30 e poucos anos depois da tragédia – não condiziam com o seu temperamento nem com o seu estilo, tínhamos certeza. Confessou-nos ter reatado a amizade com Gilberto Amado. Na justiça, o depoimento de Luiz Edmundo coincidia com os depoimentos de Olavo Bilac, Leal de Souza, Oscar Lopes, Jorge Schimidt e Juvenal Pacheco, no sentido de que o poeta era indiferente em relação à Gilberto Amado. Jamais aceitou a reconciliação. Na cena do crime, onze testemunhas arroladas no processo, todas elas, confirmaram que não houve agressão a Gilberto Amado. O poeta nem viu o seu agressor, pois foi atingido por um tiro certeiro na nuca, enquanto tentava afastar o provocador que deu início a tragédia – Paulo Hasslocher.

Raimundo
Magalhães Júnior

Convivemos algum tempo com Raimundo Magalhães Júnior, até o momento que soube que estudávamos a biografia do poeta Annibal Theóphilo. Tão pronto disse que Gilberto Amado já se justificara do crime no seu livro de memórias. Certa feita, o embaixador Pascoal Carlos Magno transmitiu-nos a intenção de Gilberto Amado ter um encontro conosco. Conhecíamos o gênio e o temperamento do autor de Minha Vida na Política – Terrível Prova. Nossas convicções não poderiam, de forma alguma, dialogar com aquele que escarnecia a sua vítima jogando-a ao martírio da história, em suas memórias. Quem foi Annibal Theóphilo, mais uma vez perguntamos? Olegário Mariano lembrava que o poeta viveu uma vida de sacrifícios em busca da sobrevivência. Com a morte do pai, comandante do Abrigo dos Inválidos da Pátria, na Ilha de Bom Jesus, a família teve que se mudar, deixando uma carga grande de compromissos, pois a função que o poeta exercia no Arsenal de Guerra era de remuneração nada animadora. Amigo do tempo de vida militar de Fernando Waine, partira para a Amazônia em busca de um futuro melhor. O período da borracha era ainda atrativo. Annibal Theóphilo não encontrou um outro caminho. Abandonou o prestígio que já havia conquistado na capital da República e partiu.

Olegário
Mariano
Ganhou e perdeu. Foram nove anos de lutas. Sobreviveu ao impaludismo. Os companheiros indicaram o seu nome para patrono da Academia Amazonense de Letras. A Academia Acreana também premiou o poeta. A Academia Riograndense de Letras também reconheceu os seus méritos. Annibal Theóphilo não foi o ser desprezível que depuseram os seus acusadores. Mais adiante, nas páginas próximas, transcreveremos o que foi publicado nas memórias que marcaram e prejudicaram fundamentadamente o nome do poeta. O linchamento moral assumiu o caráter de infâmia. O nosso repúdio teria que acontecer. Tínhamos o compromisso com a razão, sem o menosprezo com a emoção que o caso tanto provocava. Apagar os sentimentos de rancor que ficou registrado só com a alentada documentação histórica que tínhamos em mãos. Recuáramos no tempo para saber que episódios teriam iniciado o desencontro no meio de intelectuais que iriam culminar na tragédia de 1915. Aqueles que falaram em agressão e perseguição para justificar sua ação nefasta não pesquisaram nem investigaram sequer, para saber o porquê das animosidades. As versões desencontradas seriam eliminadas com o depoimento do escritor Coelho Neto, publicado nos órgãos da imprensa de 1915.

Lindolfo Collor

Vejamos: Os literatos que freqüentavam as reuniões da Rua do Rossi, casa de Coelho Neto e da chamada República das Laranjeiras, liderada pelo positivista Alcides Maia, reagiram contra Gilberto Amado quando souberam das atitudes descontroladas que tentavam desmoralizar aquele ambiente e muito de seus membros. Foi uma reação una e espontânea. Afastaram-se de Gilberto Amado de forma decisiva. Alguns até com palavras duras de reprovação ao ato desrespeitoso. Annibal Theóphilo – não somente o poeta – Heitor Lima, Martins Fontes, Leal de Souza, Olegário Mariano, Humberto de Campos, fizeram sentir o seu repúdio, rompendo com Gilberto Amado. Carlos Maul, em carta, dizia-nos que não houve jamais um elemento que pudesse intermediar na situação, no sentido de minimizar as partes em confronto. Olegário Mariano lembrou-nos que, certa feita, o cronista João do Rio, Paulo Barreto, conversava com Annibal Theóphilo, tentando convencê-lo a uma aproximação com Gilberto Amado. O poeta dizia: Paulo, como é possível, se ele, na coluna de O País continuava humilhando os nossos companheiros, expondo-os ao ridículo. Lindolfo Cóllor e Eloy Pontes mandaram seus trabalhos com dedicatórias respeitosas e tiveram em troca da pena do cronista: "Simples espíritos medíocres incapazes de um escorço para além da mediania...” “Uma volumosa nulidade literária...” “que a minha serenidade e meu bom gosto se revoltaram”. Os autores ofendidos com a crítica pessoal reagiram: Em pleno centro da cidade, deu-se o encontro.

Coelho Neto

O cronista que sempre andava armado reagiu com dois tiros de arma de fogo contra Lindolfo Cóllor. A repercussão foi negativa e os membros da Sociedade Brasileira de Homens de Letras, reunidos, através de seu presidente, Oscar Lopes, deveria lembrar aos litigantes do espírito que deveria ser respeitado pelos sócios da entidade recém implantada, cujos propósitos eram os mais legítimos no meio da classe. Amado ainda sofria o desprezo da parte dos intelectuais depois dos episódios na casa de Coelho Neto. O orgulho de Gilberto Amado não poderia deixar que desmoronasse suas primeiras conquistas na capital do País. Trouxera do nordeste o ímpeto de vencer os meios intelectuais. Mas não poderia se impor por caminhos sinuosos. Outros episódios já teriam identificado o despreparo emocional do cronista de O País, comentavam os órgãos da imprensa, fazendo referências a outros episódios desagradáveis. Há momentos edificantes que conseguimos guardar ao longo de nossas entrevistas, numa demonstração de que o passado distante não apagou da memória a beleza que perpetua e vem aos nossos dias comprovando as verdades que o tempo não consegue apagar. Quantos sonetos de Annibal Theóphilo foram declamados pelos nossos entrevistados. Sempre era para nós uma surpresa. Não morrera o prestígio do poeta. Interessante é, também, lembrar o episódio que foi reproduzido na imprensa de 1915, e repetido em vários livros que falam de literatos e de literatura. No enterro do poeta uma fila de companheiros – num ato simbólico - iria derramar sobre o peito do poeta gotas do perfume ideal de houbigand, como última homenagem a Annibal Theóphilo, inclusive Luiz Edmundo confessou-nos ele próprio. Magalhães Júnior negou sempre o ato e ridicularizou aqueles que o relataram.

Apresentação do Autor


Arnaldo da Silva Rodrigues é neto do poeta Annibal Theóphilo. Isso basta para explicar o amor e o entusiasmo com que escreveu toda sua obra. Com declarada intenção de procurar retirar do esquecimento o grande e generoso avô poeta, escreveu o texto acima, resgatando, assim a memória do seu antepassado, brutalmente assassinado no Rio de Janeiro, em 1915.

(*) – Justificativas do autor de “Vida e Obra de Annibal Theóphilo – Triste Fim de um Poeta Assassinado”, de Arnaldo Rodrigues, reproduzido, com revisão, do site: http://www.livrovirtual.com/LivroVirtual/?categoria=livro&livro=7D398.

(**) Nova postagem no próximo dia 29 de março de 2011, onde continuaremos a publicar a versão do neto do poeta Annibal Theóphilo, morto em 1915, crime atribuido ao sergipano Gilberto Amado.

(***) Veja, também, neste blog, o crime do poeta Annibal Theóphilo, em 1915, no Rio de Janeiro e o julgamento do autor do crime, Gilberto Amado, na versão do escritor Acrísio Torres.

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