Aracaju/Se,

segunda-feira, 7 de março de 2011

Prefácio do livro de Acrísio Tôrres

Os Crimes que abalaram Sergipe

Sergipe/Crimes Políticos, I, de Acrísio Tôrres
Prefácio
Orlando Dantas

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Jornalsta Orlando Dantas
Passava por ele indiferente. Disseram-me que era professor, e que seus livros didáticos foram adotados nas escolas públicas. Dele, certo dia, recebi convite para assistir, na Assembléia Legislativa, o recebimento do título de cidadania sergipana. Bacharel em direito, liberal, boa cultura literária, escritor. Subiu à tribuna, calmo, sereno, despreocupadamente, e pronunciou um longo discurso de improviso. Linguagem solta, pronúncia correta, despertou pela erudição a atenção dos presentes. A sua oração, agradável, deslizava como as águas cristalinas de um córrego da terra de Iracema. No dia seguinte, escrevi um tópico na Gazeta de Sergipe sobre a personalidade do professor Acrísio Tôrres, de muita simpatia pela sua inteligência e o valor da oração que pronunciou na Assembléia Legislativa. E, como traço de sua pessoa, destacava a modéstia excessiva como andava nas ruas da cidade. Parecia pedir desculpa a todos, pela sua presença. Tempos após, me aparecia o professor Acrísio Tôrres a convidar-me para assistir sua posse na Academia Sergipana de Letras. O seu discurso de posse, bem convencional. Tive a impressão que havia recolhido os conselhos de Machado de Assis sobre a Teoria do Medalhão. Saudou-o o Sr Luiz Garcia em suas vilegiaturas pelo Japão, distante, portanto, das tradições acadêmicas, com pesar pela oportunidade de ter apresentado um trabalho compatível com a sua brilhante inteligência. Ficamos amigos. Abri-lhe as portas da Gazeta de Sergipe.

E, com o lançamento da revista cultural – MOMENTO -, o papel de redator-chefe. Suas crônicas publicadas na Gazeta de Sergipe despertavam o interesse público pela beleza da forma, a inteligência dos conceitos, o original do conteúdo. Acrísio Tôrres é escritor de classe, metido numa capa de modéstia, que não o apresenta em toda a sua grandeza. Mas, na verdade, é um voluntarioso, disposto a fazer o que julga verdadeiro e correto. Com essa dispensável apresentação, vamos aos fatos. Convida-me o professor Acrísio Tôrres para escrever o prefácio do seu livro – Sergipe/Crimes Políticos, I, 1906/1930 -. O pesquisador, traça do seu “pó dos arquivos” realiza, há tempos, na biblioteca pública do estado, trabalhos meritórios para a história sergipana, nos seus aspectos políticos, econômicos e sociais. Iniciado pela tragédia de Fausto Cardoso, oferece uma pagina de fina sensibilidade artística, a expandir as razões do genial patrício, em sua curta vida de filósofo, sociólogo, poeta, orador parlamentar e popular, além da figura de jornalista. No entanto, contesto, quando se afirma que não foi assassinado. A ordem de evacuação do palácio, dada pelo general Firmino Lopes Rego aos seus comandados, foi causa desse acontecimento lamentável. O general Firmino Rego assim determinou e retirou-se para o telégrafo. Tudo aconteceu sem a sua presença. Deputado Federal, com a soma de suas imunidades, não podia ser tratado como um aventureiro. Razoes profundas de ordem sociológica respondiam pelos fatos motivadores dos acontecimentos políticos.

Fausto Cardoso
E o grave, gravíssimo mesmo, era que Fausto Cardoso recebera o tiro mortal quando já se achava na rua, fora do palácio governamental, embora ferido no braço. Tais os impropérios da soldadesca, que ele fora obrigado a repelir com a frase – “atirem, covardes!”. E se ouvia: “atirem, não atirem!”. Um pelotão de militares, para a manutenção da ordem, não teria aquele procedimento, sem revelar-se conivente no crime que acabava de praticar. Ao estudar outros crimes políticos, sempre aparece o professor Acrísio Tôrres com manifesta simpatia para com o presidente do estado, dr. Guilherme Campos, apresentando argumentos em defesa de sua autoridade. E, afirma a existência de um acordo político, firmado entre os senadores Oliveira Valadão e Coelho e Campos, e o presidente Guilherme Campos. Ora, esse acordo existia entre Olímpio Campos e Oliveira Valadão, firmado em 1902. Não encontrei provas de sua existência, sobretudo após o assassinato de Fausto Cardoso, que era correligionário de Coelho e Campos. Com esses reparos, considero bom trabalho, o livro Sergipe/Crimes Políticos, I, 1906/1930, do professor Acrísio Tôrres, que revela à luz do sol, o tipo de política que se realizava no estado. O desrespeito à constituição, as instituições nacionais, e os crimes praticados em Sergipe, no Mato Grosso, no Ceará, por significativos, passaram a ser conhecidos pelas novas gerações. A história ilustra, com o trabalho do professor Acrísio Tôrres, conhecimentos que clareiam a visão dos fatos.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I 1906/1930”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 07 a 09. Com a publicação do prefácio assinado pelo jornalista Orlando Dantas, concluímos a postagem em relação à referida obra.

- O crime de Gilberto Amado contra o poeta Aníbal Theófilo gerou uma polêmica com os descendentes do poeta assassinado naquele dia fatídico de 20 de junho de 1915, na porta do Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro. Arnaldo da Silva Rodrigues, neto do poeta, escreveu um livro em defesa da honra do seu avô, sob o título - Vida e Morte de Annibal Theóphilo – Trágico Fim de Um Poeta Assassinado -. Arnaldo não teve tempo de publicar a obra sobre o seu avô, dado o seu falecimento, mas sua família disponibilizou a obra na internet no endereço: http://www.livrovirtual.com/?a=163F9.

- Em respeito à verdade dos fatos, ao resgate da história, vamos, também, republicar, em série, a partir do dia 15 de março de 2011, a obra supra, dando, assim, a oportunidade de se conhecer a figura desse poeta, que teve a sua vida ceifada tragicamente.

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