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terça-feira, 24 de maio de 2011

Mulheres da Antiguidade - Enheduana

Isto é História

Mulheres Audaciosas da Antiguidade
ENHEDUANA
Vicki León
Há mais de 4.300 anos, a primeira autora do mundo a ser conhecida por nome iniciou seu trabalho criativo. Poeta e sacerdotisa, ela era filha do rei Sargão de Acad, um grande nome dos primórdios da história da Suméria.
As pequenas cidades independentes da Suméria tinham prédios de telhados planos agrupados ao redor do complexo de um templo com uma pirâmide em degraus denominada zigurate. Nesses dias distantes, dois grupos raciais manobravam para se colocar numa situação melhor – os sumérios e os semitas. No tempo de Enheduana, os semitas governaram graças a seu pai. Um garoto de fazenda, Sargão, de um pulo passou a copeiro real e depois a rei da Suméria e Acad. Além de seu status de “princesa judia” antes mesmo que os judeus existissem, Enheduana herdou uma parte leonina da ambição e energia do papai. Como suma sacerdotisa do deus da lua Nanna de Ur, ela ocupou a posição mais alta, do ponto de vista religioso, por mais de duas décadas. Além de preces e profecias, a alta sacerdotisa era estrela de um drama a cada primavera. No último andar do templo onde Enheduana vivia, ela e o rei vigente brincavam de noivo e noiva, reencenando o “casamento sagrado” para garantir a contínua prosperidade da cidade.
Esse rito do casamento sagrado era complicado; os participantes realmente o consumavam, mas apenas certos comportamentos de alcova eram considerados kosher (a sacerdotisa não devia ficar grávida, portanto “kosher” queria dizer coito anal e estratégias similares). Certa vez, Lugalanne, governante e sumo sacerdote da cidade vizinha de Uruk, e cunhado de Enheduana, desempenhou o papel de noivo com um entusiasmo excessivo. Mais tarde Enheduana escreveu sobre seu comportamento e ainda por cima amaldiçoou sua cidade. Ela não era uma mulher para brincadeiras, casamento sagrado ou não.

Além de seus deveres sacerdotais, Enheduana escrevia poesia e prosa; seus quarenta e dois hinos em louvor aos templos da Suméria e Acad ainda existem. Além de possuir mérito poético, eles ajudam a explicar as crenças teológicas sumérias. Seus poemas eram muito populares, tanto em sua época como mais tarde. Registradas em argila, foram encontradas cinqüenta “cópias” de um de seus poemas – quase o dobro do número de cópias descobertas de outros hinos mais conhecidos.
Após a morte de seu pai, os misteriosos irmãos gêmeos de Enheduana, que não se sabe de onde saíram se revezaram no trono, seguido de seu perverso sobrinho Naram-Sin, que a expulsou do seu posto – bum! Nem benefícios, nem nada – e instalou sua própria filha como suma sacerdotisa. Sem se deixar abater, Enheduana usou seu expulsor como matéria-prima para seu trabalho, provando mais uma vez que a caneta é mais poderosa do que o bilhete azul da demissão:

(A mim) que uma vez sentei triunfante, ele expulsou do santuário.
Fez-me voar da janela como uma andorinha,
Minha vida está destruída.
Ele me despiu da coroa apropriada ao sumo sacerdócio.
Deu-me punhal e espada – e me disse: “Caem-lhe bem”.

(*) – Na próxima terça-feira, dia 31 de maio de 2011, conheça KUBATUM, uma sacerdotisa da cidade de Ur, na Suméria, que viveu em 2.030 a.C. e que se tornou a favorita especial do rei Shu-Sin.

A Autora
Vicki León

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