Aracaju/Se,

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mulheres da Antiguidade - AMAT-MAMU

Isto é História

Mulheres Audaciosas da Antiguidade
AMAT-MAMU
Vicki León

Você alguma vez já tentou fazer um inventário verbal? Essa dificuldade motivou os sumérios a inventar a escrita, que se expandiu para uma linguagem de seiscentos símbolos denominada cuneiforme. Por usarem argila molhada como “papel”, uma quantidade gigantesca de suas listas de lavanderia, mandados judiciais, papéis escolares, cartas pessoais e canções amorosas ainda podem ser encontrados até hoje inscritos em tabletes de argila seca.

Conforme a escrita se tornou moda, a profissão de escrivão também ficou em evidência. Tornar-se um escrivão era o equivalente pré-cristão de se formar em direito: era custoso, vagaroso e uma profissão dominada pelo sexo masculino. As mulheres tinham de ser de uma família de escrivãos ou de classe alta para entrar no setor às cotoveladas e precisavam estar motivadas para comparecer às aulas do amanhecer ao pôr-do-sol. Além de escrever e ler, os alunos aprendiam aritmética, geometria e matemática avançada. Fazia parte do show dos escrivãos medir coisas; eles faziam pesquisas, dividiam espólios e arbitravam entre as partes interessadas, especialmente em assuntos jurídicos relativos a propriedades.

Amat-Mamu era uma escrivã de carreira; seu mandato de quarenta anos estendeu-se pelo domínio do rei Hamurábi – aquele do Código de Leis – portanto, estamos falando do século XVII a.C. Ela viveu e trabalhou num convento de sacerdotisas em Sippar, uma cidade e centro religioso importantes, a mais ou menos sessenta e quatro quilômetros da Babilônia. Seu convento não tinha nada de rústico: mais de 140 sacerdotisas viviam lá, além de supervisores, escravos, zeladores, escrivãos, cozinheiros e vários “sentinelas”. Parece um lugar difícil de onde fugir, mas a vida no convento era bastante relaxada. As sacerdotisas, muitas delas de famílias da alta sociedade, podiam ir e vir livremente. Umas poucas até eram casadas. Todavia, nenhuma delas tinha permissão para ter filhos – os sumérios contavam com “mães substitutas” (geralmente uma concubina ou a irmã da sacerdotisa) para essa função.

Longe de serem desinteressadas das coisas mundanas, as sacerdotisas faziam uma grande parte das transações de negócios na cidade. Como proprietárias de terras, cuidavam da administração das propriedades, compravam e vendiam escravos, e participavam ativamente de assuntos jurídicos. Quem vocês imaginam que era a espinha dorsal desta atividade febril? Amat-Mamu e sua equipe, é claro. Na mentalidade suméria, se não está registrado na argila, não existe. Quase tudo que consideramos “administração” passou por suas mãos ocupadas: por exemplo, os arquivos do templo, inclusive o registro do que era sacrificado para o deus-sol Shamash, quando havia sido sacrificado e por quem (os centros religiosos acumulavam bens e propriedades com uma rapidez espantosa). Em sua longa carreira, Amat-Mamu provavelmente chegou a supervisionar o trabalho dos outros escrivãos; em seu templo, parece ter havido só mulheres. Amat-Mamu não sabia naquela época, mas estava nos legando um tesouro – a maior parte do que sabemos sobre as mulheres da Mesopotâmia teve origem no trabalho de uma vida toda de Amat-Mamu e de suas companheiras escrivãs.

(*) – Na próxima terça-feira, dia 14 de junho de 2011, conheça SHIBTU, rainha de Mari, uma cidade de luxo nas margens do rio Eufrates, que viveu há dezesseis séculos a.C.  

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