Isto é história
Mulheres Audaciosas da antiguidade
Hatshepsut
Vicki León
"Travesti" foi provavelmente a melhor coisa que o futuro faraó Tutmés III resmungou sobre sua tia, Hatshepsut, uma mulher poderosa e com uma vontade de ferro. Seus outros comentários eram impublicáveis. Durante 21 anos, Hatshepsut o manteve esperando na linha, deixando que ele desempenhasse o papel de príncipe Charles para sua rainha Elizabeth. Primeira mulher a se tornar faraó de verdade, a trajetória da carreira de Hatti foi como uma bala desde o início. Quando seu pai, Tut I, morreu em aproximadamente 1518 a.C., ela casou com seu meio-irmão, Tut II. Uma estratégia normal para proteger os direitos de Tut de governar - ou assim ele pensou. Hatshepsut tinha outras metas. Durante catorze anos de governo "em sociedade", ela liderou, ele seguiu. As únicas coisas para as quais colaboraram em partes iguais foram suas filhas Nefrure e Hatti Júnior.
Em torno de 1504, Tut II morreu - com um suspiro de alívio de Hatshepsut, que entrou em ação como regente do jovem herdeiro Tut III (o único filho de seu marido gerado com uma garota do harém). Após uns dois anos, sem nenhum derramamento de sangue ou estardalhaço, ela deixou seu mero posto de rainha para trás e se proclamou rei mulher do Egito, tomando para si os cinco títulos de um faraó, as roupas masculinas e os acessórios - e até mesmo a falsa "barba da sabedoria" que cada faraó usava. Para fechar seu coup d'état suave como seda, Hatshepsut conquistou o apoio de funcionários-chave, inclusive de Senenmut, seu homem de maior autoridade, que se triplicava nos cargos de administrador, arquiteto e tutor de sua filha Nefrure. Para manter calma a facção pró-Tut, no papel o reinado era duplo. Quanto a Tut, ela o casou com Nefrure. Imagine uma posição dura como pedra: a pobre Nefrure não só ficou com a ingrata tarefa de casar com seu inquieto meio-irmão como tinha de informar cada um dos movimentos dele para sua mãe. Como compensação, Hatti deu à sua filha a melhor tarefa passada de mãe para filha que podia imaginar: seu próprio título de divina esposa de Amon. Essa alta colocação transformou Nefrure em dona de propriedades gigantescas - uma pequena compensação por se encontrar no meio do fogo cruzado entre Tut e a fogosa mulher faraó.
Com a ajuda de Senenmut, logo Hatshepsut construiu um templo de três terraços, uma obra de propaganda que ela chamou de "um jardim para meu pai (o deus) Amon". Localizado junto aos íngremes penhascos de coral em Deir el-Bahri, mais tarde o templo se tornou famoso por suas curas médicas. Ela também erigiu dois obeliscos espetaculares de granito vermelho para glorificar Amon (e Hatti, é claro) em Tebas. Mulher de negócios astuta, Hatti mapeou um itinerário ousado para uma expedição comercial através do canal de Suez e em direção ao Sul ao longo da costa da África até as terras do Ponto. Quando sua esquadra retornou bem-sucedida, com um picante carregamento de canela, árvores de mirra, ébano, marfim, peles de pantera, ovos de avestruz e babuínos vivos, a engenhosa faraó enviou mais expedições para o deserto do Sinai atrás de turquesas e para outras regiões da África, a fim de coletar animais selvagens para seu novo zoólogico, "o jardim de Amon". Quando Tut III finalmente sucedeu - ou empurrou - Hatti para fora da arena em 1483, ele finalmente cortou da face do Egito todas as menções ao nome dela como rei mulher. Curiosamente, ele não se decidiu a eliminar de todo o nome e a imagem de Hatshepsut, assim, ainda existem uma grande quantidade de estátuas e inscrições com seu nome - todavia, como rainha e não como faraó.
(*) - Na próxima postagem sobre "Mulheres Audaciosas da Antiguidade", você vai conhecer ETY, rainha conhecida como "A princesa de Ponto", local situado na costa leste da África onde hoje está situada a Somália. Ela ficou famosa no cenário do mundo do comércio no século XVI a.C.
(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".
A autora
Vicki León
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