sábado, 17 de agosto de 2019
Tipos Populares - Tô Te Ajeitando
Isto é História
Aracaju Romântica que vi e vivi
Tipos Populares
Tô Te Ajeitando
Murillo
Melins
Nome
de batismo: Domingos Correia. De baixa estatura, branco raquítico, olhos azuis,
rosto esquálido e sempre trajando paletó, gravata e camisas berrantes. Vivia
por conta própria, fazendo propaganda de casas comerciais ou vendendo bilhetes
da Loteria Federal, expostos em uma pequena vitrine, seguro por correia presa
ao próprio ombro. Morava sozinho e não contava nada de sua vida. Dizem que ele
tinha algum dinheiro e sustentava uma mulher. Tô Te Ajeitando, nos últimos anos de sua vida, pouco enxergava.
Para atravessar a rua ele apitava, os carros paravam e ele atravessava
tranquilamente. Esta é uma bela página escrita por Avany sobre Domingos
Correia:
“Era
magro e quase cego, estranho tipo de rua. Solitário na cidade, sem amigo e sem
parente. Feioso, assaz atrevido, desengonçado, insolente. Paletó preto fechado,
era sempre o que vestia. Emblemas dependurados, escudos, broches, medalhas.
Passava os dias vendendo bilhetes de loteria. Domingos era o seu nome. Correia
o seu sobrenome. Com muito orgulho, dizia ter nascido aqui, vizinho, em Matinha
D’Água Branca, no Estado das Alagoas. Contando suas bravatas, sustentava-se
inseguro numa bengala, por certo, sua arma e seu apoio. Demolidor da moral de
quem não simpatizava, eram tantos inimigos que nem mesmo ele os contava.
Detestava com prazer um político da terra, conhecido, respeitado, que por
infelicidade tinha aparência franzina e no tipo (que maldade!). Era o sósia
desse homem, terrível provocador, que apoplético espumava, quando alguém, para
insultá-lo, pronunciava completo o nome do senador. Entortava-se de lado e
sobre o ombro, agachado, respondia ao agressor: ‘Tô te ajeitando, safado,
deixei sua mãe agora no cais bebendo cachaça. Sifilítica, bandida, rapariga de
soldado’. Em riste, a bengala preta. Quem não corresse, apanhava.
E
o velho Domingos, cego, Tô Te Ajeitando
chamado, perambulava pelas ruas. De tanto viver bradando, de ódio por todo
mundo, morreu de raiva o coitado”.
-
Na próxima postagem você vai conhecer BALRIMORE e ALEIJADINHO, boêmios
inveterados, engraxates, trabalhavam de segunda a sexta-feira. Aos sábados e
domingos saíam para beber nos diversos bares do centro da cidade. Aleijadinho
era paraplégico das duas pernas e andava num carrinho de rolimã.
-
Do livro “Aracaju Romântica que vi e vivi”, de Murillo Melins, 4ª. Edição,
2011, Gráfica J. Andrade.
-
As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário