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sábado, 3 de agosto de 2019

Tipos Pitorescos de Aracaju - Dr. Leandro (Santo Dotô)


Isto é História

Aracaju Romântica que Vi e Vivi
Tipos Populares
Doutor Leandro (Santo Dotô)
                                   Murillo Melins
Era um homem simples, de aparência tranquila, não usava calçados, vestia calças folgadas e arregaçadas até a metade da perna. Para ele tudo era santo (Santo homem, santa mulher, santo Banco, santo, santo, santo...), menos comunista. Para ele era impossível comunista santo, coisas de sua cabeça.
 
O santo Dotô, como era conhecido, ostentava um nome pomposo típico de poderosos e cabeças coroadas. Dizia chamar-se Doutor Leandro Gonçalo Prado Rollemberg Leite da Cruz Franco Proprietário de Tudo e Santo Deus.
 
E tinha lógica todo esse nome, pois ele assumira para si o que havia de mais tradicional entre políticos e ricos latifundiários do Estado, assim como:
 
Doutor Leandro, tinha a ver com o Doutor Leandro Maciel, engenheiro civil, político militante, tendo ocupado cargos como Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador da República e Governador do Estado.
 
Gonçalo Prado, aí ele pegava de uma só vez duas figuras importantes, a do Doutor Gonçalo Prado, senhor de engenho, rico proprietário da Usina Pedras, que lhe assegurava o título de Gonçalinho das Pedras, e, também, o Doutor Gonçalo Prado, advogado, professor, procurador do Estado e um dos fundadores da Faculdade de Direito de Sergipe.
 
Rollemberg Leite, nome de tradição impoluta e austera do Doutor José Rollemberg Leite, engenheiro civil, professor, político que governou o Estado por duas vezes.
 
Da Cruz Franco, a partir daí aparece sua ligação com a família Franco, desde o seu expoente de então, o Senador Valter Franco, prosseguindo com o Governador, Deputado e Senador Augusto Franco, e dos demais Franco, que ainda hoje influenciam a política sergipana.
 
Até aí o seu nome conseguia fundir a UDN, PSD e PR, num Estado que se usava a frase “quem não está comigo está contra mim” e no tradicionalíssimo “para os amigos tudo, para os inimigos a lei”.
 
É fácil concluir que ele era inteligentíssimo, pois quem tem nome e sobrenome tão significativo em um estado feudal como Sergipe, só poderia fechá-lo como ele fez: Proprietário de Tudo e Santo Deus. Apesar de tudo isso, o Santo Dotô, nos seus dias de crise, saía gritando a plenos pulmões: Reza a Santa Reza, Reza a Santíssima Reza. Tinha uma grande mágoa consigo: não possuía Carteira de Identidade, e isso lhe causava uma série de dificuldades, porque apesar de ser dono de tudo e de todos, sem a indispensável Carteira, não conseguia sacar na rede bancária todo o dinheiro que lá estava depositado e lhe pertencia.
 
Assim, virou tradição no Centro Comercial de Aracaju ver a figura do Dotô Leandro a consultar os transeuntes com essas palavras: Santo homem, o senhor tem Carteira de Identidade? E quando o consultado dizia que tinha e tão necessária carteira, ele imediatamente o convidava para acompanhá-lo até o Banco, servir de testemunha. Apesar de todo seu poderio, ele precisava de alguém que testemunhasse, assinando um papel que possibilitasse receber o que lhe pertencia. E assim viveu e morreu o pobre rico Dotô Leandro.   

Murillo Melins
O autor
 

-  Na próxima postagem você vai conhecer Tô Te Ajeitando, mais um tipo pitoresco da bucólica Aracaju. Andava pelo Centro Comercial sempre trajando paletó, gravata e camisas berrantes. Vivia da venda de bilhetes de loteria.
- Do livro “Aracaju Romântica que vi e vivi”, de Murillo Melins, 4ª. Edição, 2011, Gráfica J. Andrade.
- As imagens aqui reproduzidas foram retiradas do Google. 


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