Aracaju/Se,

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Se olhou, não viu, se viu, não reparou!

Artigos pessoais

Se olhou, não viu, se viu, não reparou!
Clóvis Barbosa

José Saramago

Volto a José Saramago, companheiro das fantasias, dos sonhos de um mundo melhor e, sobretudo, estudioso da condição humana. Confesso que sou um fã incondicional de sua obra e de sua vida que tem muito a ver com a minha. Ele nasceu em 1922, justamente o ano que vou chegar a Paris com um bando de amigos e comparsas, inclusive ele, que morreu em junho de 2010. Saramago militou no partido comunista português, foi perseguido pela ditadura de Salazar e participou ativamente da Revolução dos Cravos, que levou a democracia a Portugal em 1974. Na ordem de pobre, fui militante do partido comunista brasileiro, fui perseguido pela ditadura militar instalada no país em 1964 e participei do movimento de redemocratização do país que levou Tancredo Neves à presidência da República. Todos sabem da história: Tancredo morreu antes de assumir, tendo o Vice-Presidente José Sarney assumido a Presidência da República. Pois bem, segundo o nosso escritor lusitano, se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. Ele não poderia ter sido mais feliz na escolha da epígrafe para o seu livro “Ensaio Sobre a Cegueira”, obra em que ele mostra uma narrativa emblemática: projeta o leitor para uma comunidade em que os habitantes vão, paulatinamente, perdendo a visão, numa autêntica “viagem ao inferno”, no dizer do crítico Arthur Nestrovski.

No inferno, contudo, todas os personagens se encontram e se descobrem, numa autêntica desmistificação da hipocrisia. Não adianta: quem é ruim, será ruim, quem é bom, será bom, se é que este vai para o inferno. Aliás, a leitura míope dessa realidade encontra seu arcabouço traçado pela bíblia. É só ver a segunda carta aos coríntios, capítulo 11, versículo 14, quando o apóstolo Paulo nos ensina que não deveríamos nos impressionar com falsos enviados do messias, ao ressaltar que a existência desse tipo de gente “não é de admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz”. E não é que em pleno 2011, ou melhor, após dois mil e onze anos depois de Cristo, surge um novo messias a anunciar que os estacionamentos localizados em estabelecimentos privados não podem cobrar qualquer quantia pela sua utilização. A medida criou uma expectativa generalizada no mundo social da cidade, principalmente em um estabelecimento de ensino superior da Capital. Os programas radiofônicos matinais insuflaram a população a exigir o cumprimento da lei e jogaram na cova dos leões os proprietários desses organismos particulares, tidos e havidos como usurários e exploradores de suas clientelas e que nos preços das mensalidades escolares já estariam embutidas as despesas com estacionamento.
Bastava dar uma olhada na remansosa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria! Bastava reparar a Carta Constitucional, sobretudo em três artigos: o 5°, inciso XXII, XXIV e LIV, 22, inciso I e 170. O artigo 5° e seus incisos estabelecem que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos em que o direito de propriedade é garantido, desde que exerça a sua função social, a desapropriação seja o instrumento de intervenção estatal nos bens dos particulares mediante justa e prévia indenização em dinheiro, e de que ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal. Em outras palavras, ninguém pode meter o bedelho na casa dos outros e, se assim o fizer, terá que arcar com as conseqüências. Nenhuma sociedade subsistirá sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade, e, no bem dizer de Miguel Reale, direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigatórias que garantem a convivência social, graças ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros. Assim sendo, quem age de conformidades com essas regras, comporta-se direito; quem não o faz, age torto.

Ministro Joaquim Barbosa
Mais não é só: o Legislativo estadual ao normatizar a matéria, usurpou competência que não é sua, pois, sobre Direito Civil, quem tem voz ativa é a União e ela, somente ela, é quem pode fazer leis sobre cobrança de preço de estacionamento de veículos em áreas pertencentes às instituições particulares de ensino fundamental, médio e superior, pois decorrente do direito de propriedade. É o que ensina o art. 22, inciso I, da Carta Constitucional. E não terminou ainda: a medida implantada contra o patrimônio alheio feriu de morte o princípio do livre exercício da atividade econômica insculpido no caput e parágrafo único do artigo 170 do mesmo diploma. Bom, não está satisfeito com as explicações? Então vamos ligeirinho ali no Supremo Tribunal Federal. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.623, do Rio de Janeiro, cujo Relator foi o Ministro Joaquim Barbosa, em decisão recente, unânime, de 17.03.2011, é afirmado: “esta Corte, em diversas ocasiões, firmou o entendimento no sentido de que invade a competência da União para legislar sobre direito civil (art. 22, I da CF/88 a norma estadual que veda a cobrança de qualquer quantia ao usuário pela utilização de estabelecimento em local privado”. Portanto, o legislador que impôs tal monstrengo jurídico nunca leu a Constituição Federal, ou, se olhou, não viu, se viu, não reparou.

(**) Publicado no Jornal da Cidade, edição de domingo e segunda-feira, 4 e 5 de setembro de 2011, Caderno A, p. 7.

domingo, 16 de outubro de 2011

Mulheres da Antiguidade - Merit Pitah e suas Companheiras

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
MERIT PITAH e suas Companheiras
Vicki León

Os gregos antigos ficavam muito impressionados com a medicina egípcia, embora achassem que os egípcios exageravam um pouco na higiene (Você acredita que essas pessoas lavam suas mãos e pratos depois de cada refeição? E essa depilação do corpo todo – realmente!). Uma turma muito anal, os egípcios tomavam purgantes mensalmente. Foi aqui que a proctologia teve seu verdadeiro início; os médicosdevotavam livros inteiros à felicidade gastrointestinal inferior. “Minha filha, a médica” era uma alegação que poucos pais podiam fazer no Egito antigo. Contudo, as mulheres se tornavam médicas, como estas fêmeas extraordinárias comprovam, o único mistério sendo a falta de detalhes que restaram sobre suas carreiras.

Merit Pitah ganha os sweepstakes de “primeira médica”. Há mais de 4.700 anos, ela praticava medicina enquanto os faraós resolutamente começavam a construir as pirâmides. Seu filho, um sumo sacerdote, deve ter tido orgulho dela. Em seu túmulo no Vale dos Reis, ele colocou seu retrato, tomando cuidado para intitulá-la “a médica chefe”. Mesmo depois do lamentável incidente com a víbora, Cleópatra continuou sendo um nome feminino popular no Egito. No século II, a.C., outra Cleo colheu fama por seus artigos médicos sobre ginecologia. Parteiras e médicos, homens e mulheres, consultariam (e às vezes plagiariam) seu material por outros doze séculos.
Peseshet
Então, apareceu a superempreededora Peseshet, que recebeu a Ordem do Bipe de Ouro por ter-se tornado não só uma serradora de ossos, mas uma chefe das mulheres médicas. Embora a leitura correta de qualquer hieróglifo possa ser um jogo de dados intelectual, é bem possível que seu título indique uma administradora que supervisiona outros médicos (também mulheres) – uma pista insinuando que mulheres médicas eram mais do que pessoas singulares isoladas aqui e ali.

As mulheres egípcias tinham de se duplicar como escrivãs e estudantes só para estudar medicina, a qual nos tempos antigos era uma mistura eclética de ervas e tratamento eficazes, alguns poucos e tímidos procedimentos cirúrgicos, terapia através de incubação de sonhos, e a simples e velha magia. Às vezes as mulheres faziam residência com outros médicos para aprender com eles; elas também estudavam (e aparentemente ensinavam) obstetrícia e outras especialidades nos estabelecimentos médicos, como a escola em Sais, Egito, que floresceu em torno do Século VI a.C. A obstetrícia era provavelmente uma das especialidades mais compensadoras. Levando-se em conta a mania egípcia de manter os corpos intactos para garantir uma vida maravilhosa após a morte, podemos apostar com segurança que as médicas em treinamento não podiam praticar em cadáveres nas escolas de medicina.
Henut
Quando se dirigia a versão egípcia de salão de beleza há milhares de anos, como Henut fazia, não se tinha a preocupação de cortar cabelo demais do topo da cabeça dos fregueses. Tanto mulheres como Homens gostavam de carecas raspadas diariamente e cobertas com perucas rebuscadas, para eliminar o calor e o reflexo ofuscante. Até mesmo em mulheres que gostavam de tranças verdadeiras, Henut entrelaçava apliques postiços. A descrição de seu cargo foi traduzida como “pintora de bocas”, significando que ela também atuava como cosmetóloga para a rainha. Além de pintar os olhos reais com malaquita verde e kohl preto, e os lábios com ocre vermelho e gordura, Henut mantinha o corpo todo da rainha liso, usando uma navalha ou aquele velho favorito, um creme depilatório feito de sangue de morcego. A arte de Henut e outros gurus cabeleireiros, frequentemente retratada nos relevos dos túmulos de várias rainhas, prova que as mulheres vêm acreditando que os tratamentos de beleza valem a pena há mais de 4.000 anos.

(*) - No próximo domingo, dia 23 de outubro de 2011, você vai conhecer MERYET-NEITH, rainha da primeira dinastia egípcia, e provavelmente a primeira mulher egípcia a governar sozinha. Foi mulher do rei DJER que, quando morreu, levou para o seu túmulo 300 de seus criados. MERYET-NEITH viveu por volta dos anos 3.000 antes de Cristo.

(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".
 
A autora
Vicki León

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mulheres da Antiguidade - Roxane e Barsine

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
ROXANE e BARSINE
Vicki León

O casamento em massa mais brilhante da história aconteceu há 2.300 anos. No ar puro do deserto de Susa, Alexandre, o Grande, e oitenta de seus não-tão-grandes macedônios, contraíram matrimônio com um número igual de beldades persas. Seu objetivo? Criar uma mistura populacional instantânea, a melhor coisa para alcançar o domínio do mundo. A própria noiva de Alex era material de realeza recauchutado: Barsine-Stateira, a esposa de Dario, o último rei persa, que foi assassinado logo após Alex lhe ter dado uma coça.

O casamento foi o máximo da extravagância. Alexandre (que teria sido um banqueteiro fabuloso) se aprofundou em cada detalhe – com apenas uma pequenina ajuda de um ou dois graciosos eunucos persas com relação aos tecidos a serem usados. Em frente ao palácio, num pavilhão do tamanho de uma super-cúpula emboçado com jóias, as cerimônias foram celebradas em meio a cem sofás prateados e tapetes persas inacreditavelmente lindos. Os cinco dias de festividades se alternaram com cinco noites de bem-aventurança dos recém-casados em camas de prata, tudo cortesia de Alex (com indiretas não muito sutis de “procriem, por favor!”). Novas alturas também podem ter sido alcançadas pela noiva do Grande, Meia-irmã, assim como viúva do rei Dario, cuja altura era de um metro e noventa e oito, ela provavelmente olhava de cima para Alex.

A única pessoa que certamente não compareceu a esse evento de gala foi Roxane, a primeira esposa de Alexandre. A bigamia não era o problema – mas o poder e a inveja eram. Do ponto de vista emocional e sexual, Alexandre gostava mais dos homens; a primeira e única mulher por quem ele se apaixonou foi Roxane, a linda e arrogante filha de um chefe afegane. Em uma de suas marchas para conquistar tudo daqui até lá, Roxane dançou para ele, que se declarou, e eles tiveram um ou dois meses de lua-de-mel antes que ele partisse outra vez. Em seu casamento de quatro anos, Roxane teve dois filhos, sendo que um nasceu morto, portanto eles dormiram juntos pelo menos duas vezes – a não ser que se prefira acreditar que um deus a engravidou, que é o que a mãe de Alexandre frequentemente contava para ele sobre seu nascimento.
Roxane, sem chances de sair da Babilônia, logo se curvou ao fato de que Alex preferia conquistar, beber e batizar cidades com seu próprio nome, de seu cavalo, e de seu amigo Hefaistíon em detrimento dela. Portanto, ela ficou ainda mais furiosa quando ele fez planos para casar com Barsine, a viúva do rei da Pérsia, no espetáculo do século. Roxane não deveria ter-se preocupado com a nova esposa; Alex e Hefaistíon ainda eram notícia. Entretanto, repentinamente, Hefaistíon morreu em circunstâncias misteriosas para quase todos, exceto talvez para Roxane. Em meses, o próprio Alex ficou doente e morreu. O caos reinou. Roxane, agora grávida, detonou uma carta em nome de Alex para Barsine, dizendo-lhe para vir a Babilônia. Antes que se pudesse dizer “registro nupcial”, Roxane liquidou com Barsine e sua irmã e jogou-as num poço. Estilo de matadora é o que Roxane tinha – mas não tinha longevidade. Treze anos pós-Alex, ela e seu filho foram despachados para o outro mundo pelo mesmo general que assassinou Olímpias, a mãe de Alex.

(*) - No próximo domingo, dia 9 de outubro de 2011, você vai conhecer MERIT PTAH & SUAS COMPANHEIRAS, uma mulher egípcia que viveu há mais de 4.700 anos. Foi médica e em seu túmulo, no Vale dos Reis, o seu filho colocou o seu retrato, tomando o cuidado de escrever “a médica chefe”.

(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".

A Autora do texto
Vicki León

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Harildo Deda - Um artista que é uma escola

Grandes Personagens

Harildo Deda:
Um artista que é uma escola


A família Deda, alojada há muito tempo em Simão Dias, onde cresceu e de onde saiu para os diversos embates da vida, tem na Bahia um artista – Harildo Deda – que além de ator, diretor, professor, é uma escola de teatro, a quem as novas gerações de artistas baianos muito devem. Recentemente ele teve a oportunidade de degustar o sabor do reconhecimento, quando recebeu homenagens alusivas aos seus 70 anos de idade, feitos em 2009. Harildo Deda é, como ele próprio o diz: “sergipano, mas sou um ator baiano.” Isto quer dizer, certamente, que Sergipe lhe deu o berço, lhe deu a sensibilidade diante da alma sergipana, deu família e deu amigos, mas a arte que o fez grande foi produzida no ambiente adiantado da Bahia.

Harildo Deda viveu pouco em Sergipe, ainda que tenha laços profundos com a cultura sergipana, tanto naquilo que ela é única, quanto no que é universal, pelos variados repertórios e pelos valores que conotam as diversas linguagens estéticas. Viu em Simão Dias, por exemplo, o teatro popular dos Reisados e Cheganças, que saíam às ruas no ciclo de festas do Natal. Conheceu homens peritos na arte do couro, que faziam armaduras para os vaqueiros das fazendas de gado e das festas de apartação. Sentiu, na proximidade mais íntima, os sentimentos de fé e de devoção, que Nossa Senhora Santana inspira, no mês de julho, com trilha sonora de bandas de música, que foram tantas que permitem evocar o maestro Manoel Pedro das Dores Bombinho, que além de reger, escreveu uma história em versos para Canudos, o primeiro documento literário sobre a epopéia dos jagunços.

Em Aracaju, Harildo Deda fez amigos conheceu a incipiente arte teatral sergipana, viu os espetáculos do TECA – Teatro de Cultura Artística, sob a direção de João Costa, partilhou das inquietações dos jovens, freqüentou a Galeria de Artes Álvaro Santos, que era um ponto informal de encontro, antes de ir para a Bahia e conquistar os baianos com sua arte. Levava consigo a experiência de ter feito teatro na Igreja Presbiteriana de Simão Dias e ter estudado teatro nos Estados Unidos, pensando em profissionalizar-se. A Bahia não era indiferente, ele já vivera, na década de 1950 na boa terra e ensaiara os primeiros movimentos como ator, em Salvador.

O CPC – Centro Popular de Cultura foi uma escola livre de teatro, que engajava politicamente os seus participantes. Harildo Deda tem, na sua biografia, uma rica passagem pelo CPC, fazendo coro para as músicas de Billy Blanco e os textos de Oduvaldo Viana Filho, como teve noção da repressão imposta pelos militares de 1964. A década de 1960 foi, então, vivida em parte na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, graduando-se em 1970 e logo entrando em cena como ator, iniciando uma carreira de êxitos, que mais e mais acumulou oportunidades de demonstrar talento, inventividade, aperfeiçoando os modos de atuar nos palcos da Bahia e do Brasil. Em 1978 vai fazer Mestrado em Artes Cênicas nos Estados Unidos e quanto volta encara o trabalho de direção teatral, elevando ainda mais o conceito de artista completo que Sergipe deu a Bahia e ao Brasil.
Na cátedra e mais ainda nos palcos, Harildo Deda fez escola, fazendo florescer uma geração de atores, diretores, cenógrafos, produtores, que deram vida nova ao teatro baiano, especialmente às suas casas de espetáculos, que passaram a atrair público de toda a região. Foi graças a esse trabalho de renovação e de criação de uma nova medida de qualidade estética para a dramaturgia baiana, que criou-se o eixo Bahia-Rio, facilmente identificado na TV e fortalecido pela música que o carnaval eletrificado passou a produzir para um público em delírio. São muitas as conexões que envolvem Harildo Deda e sua escola de teatro, como são muitíssimos os sucessos de montagens que fizeram grande sucesso nos palcos baianos. Atuando ou dirigindo, o artista sergipano mostrou-se a altura de tudo o que indicava aos seus alunos e seguidores. O nome de Harildo Deda está ligado não apenas ao teatro, mas também a televisão, onde atuou em séries como O pagador de promessas, Dona Flor e seus dois maridos, Carga Pesada, e ao cinema, onde fez Tieta do Agreste, Central do Brasil, Cidade baixa, Orquestra dos meninos, que expressam o múltiplo talento, conformado às linguagens artísticas.

Uma vida dedicada a arte, cumprindo uma trajetória que foi, no ano passado, ao ensejo do seu aniversário, evocada e celebrada por antigos alunos, parceiros de arte teatral, que guardam do mestre as mais permanentes lições e exemplo de trabalho. Sergipe deve a Harildo Deda um gesto que signifique, para todos nós sergipanos, um justo reconhecimento a quem soube situar-se, no tempo da vida e nos cenários da Bahia, como artista múltiplo, na expressão mais ampla do seu trabalho.

O autor do artigo
Luis Antônio Barreto

Luis Antônio Barreto

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mulheres da Antiguidade - ESTER

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
ESTER
Vicki León

Em aproximadamente 460 a.C., numa procura mundial por uma estrela que fosse virgem e tivesse a aparência de uma garota de capa de revista, para o rei Artaxerxes da Pérsia, o nome de Ester (que significa “estrela”) ficou em evidência. Era destino? Não, era Hollywood: seu verdadeiro nome era Myrtle. Myrt vivia com seu tio Morty em Susa; ambos eram parte da população judia que permaneceu na Pérsia após o exilio. Os criadores de estrelas passaram meses lubrificando Ester com mirra e outros óleos, o ritual de purificação normal, enquanto Morty aconselhava: “Sorria, e, pelo amor de Deus, não diga a ele que você é judia”.

Finalmente ela fez uma audição para o rei, que gostou do que viu, e, bingo, ela conseguiu o papel... finalmente (A Bíblia diz que ela só recebeu a aliança depois de sete anos). A despeito nos novos laços familiares, Morty entrou numa briga com Haman, o braço direito do rei, que decidiu se livrar desse novo-rico e também de sua tribo. Usando selo real, Haman publicou uma ordem falsa para que todos os judeus fossem destruídos numa certa data. Um Morty aterrorizado pediu o apoio de Ester para influenciar seu homem; ela ficou jogando conversa fora, até que ele disse: “Estrela ou não, você não vai escapar, só porque você está numa casa de luxo, Myrtle”.

Enquanto isso, Haman tratou de levar adiante seu holocausto particular, Morty sendo o item número um, e construiu uma forca gigantesca. Entretanto, naquela noite, o rei teve insônia e, para se curar, resolveu ler um livro de registros dos arquivos da corte. Encontrando uma boa ação anterior de Morty, o rei perguntou: “O que demos ao velho por sua lealdade?” e lhe disseram: “Nada”. Como sempre, Haman estava andando pelo palácio, assim o rei lhe disse: “O que devo dar a um sujeito que eu quero realmente homenagear?”

Com um sorriso pretensioso, Haman disse rapidamente: “Ora, umas roupas bonitas, uma coroa, uma marcha triunfal...”  - “Pois faça isso”, disse o rei, ordenando que ele desse tudo isso a Morty, o que deixou Haman num humor realmente abominável. Enquanto isso, Ester andava ocupada, morrendo de preocupação com o destino dos judeus e organizando um jantar íntimo para Haman e o rei. Eles vieram, e o rei, sentindo-se bem-humorado, ofereceu-se para conceder qualquer desejo que ela tivesse. Ester juntou a sua coragem e disse: “Se meu desejo vai ser concedido, então por favor poupe minha vida e a do meu povo – porque estamos a ponto de entrar pelo cano por causa desse demônio”, e apontou para Haman. Sua revelação (“você é judia”) deixou o rei alucinado, e ele saiu andando a passos largos para o jardim. Haman aproveitou a oportunidade para implorar a Ester por sua vida, jogando-se no sofá da rainha para isso. O rei voltou e ficou ainda mais aborrecido, especialmente porque Haman parecia estar se jogando em cima de Ester. Como uma forca estava conveniente, embora inexplicavelmente, à mão, Haman se tornou seu primeiro freguês.

Mais tarde, naquele dia, tio Morty foi promovido ao cargo de braço direito do rei. Em meio à comemoração, Ester lembrou a Artaxerxes que ele não havia cancelado o decreto falsificado de “massacrar os judeus”. “Eu não posso fazer isso”, disse ele. “Mas posso tornar legal que os judeus lutem por suas vidas”. O que ele fez. Quando a poeira do golpe antecipado se acomodou, 75 mil inimigos dos judeus haviam morrido. Ester ficou com a propriedade de Haman, e condenou à morte quinhentos de seus aliados no palácio. Econômica assim como vingativa, ela decidiu-se pelo enforcamento para os dez filhos de Haman (“Por que deixar que uma forca em tão bom estado seja desperdiçada?”).

- No próximo domingo, dia 2 de outubro de 2011, você vai conhecer ROXANE e BARSINE, ambas foram casadas com Alexandre, o Grande. A bigamia não era o problema, mas o poder e a inveja eram. Conheça essa tragédia ocorrida há 2.300 anos.

- Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".

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