Aracaju/Se,

domingo, 10 de julho de 2011

Isto é História

Mulheres Audaciosas da Antiguidade
KISAYA
Vicki León

No antigo Oriente Próximo, as adoções não se referiam necessariamente a crianças. Muitas pessoas adotavam adultos, em especial, jovens e mulheres. A idéia original era bastante boa: “Já que não tenho filhos e você é pobre, eu o adotarei para ser o meu herdeiro”. Para permitir que todos saíssem ganhando, os pais adotivos tinham de fazer um pagamento à vista aos pais biológicos. Em troca, a pessoa recém-adotada, mais à frente na estrada da vida, tinha de cuidar de seus pais adotivos em vez de empurrá-los para a versão local de asilo de velhos. Mas você sabe como é a natureza humana. Às vezes a adoção se tornava eufemismo para escravidão perpétua.

Este era o caso de Kisaya, uma jovem mulher de Nuzi, uma cidade-estado no noroeste da Suméria. Na metade do século XV a.C., ela foi adotada por Tulpunnaya, uma mulher local, já bastante conhecida das cortes sofredoras de Nuzi por seus envolvimentos em disputas jurídicas. Tarde demais Kisaya entendeu que: Tulpunnaya certamente era uma “mãe”, mas do tipo errado. Portanto, ela fugiu, foi perseguida e processada. Não foi presa – foi processada. Esse era o modo como os sumérios conduziam as coisas. Tulpunnaya jogou um processo em cima dela e Kisaya teve de voltar para casa. Então a mãe de todos os maquinadores pensou: porque não usar a obviamente rebelde Kisaya para procriar? Assim, ela escolheu um marido para Kisaya, um sujeito chamado Mannuya. Enquanto isso, Kisaya havia se apaixonado por um homem chamado Arteya, e queria se casar e viver a vida em seus próprios termos. Para poder fazer isso, desta vez Kisaya levou Tulpunnaya à corte (ainda não existiam advogados, portanto era provável que esse tipo de medida custasse menos do que se pensa). Além disso, ela ganhou sua causa, e Kisaya e Arteya se casaram na presença de sete testemunhas.

Mas Kisaya pagou um preço alto pelo amor e pela liberdade de ação. O documento final, de seu agora volumoso arquivo, diz: “Dei neste momento meu filho Inziteshup, cujo pai é Arteya, para Tulpunnaya”. Foram necessárias catorze testemunhas para validar esse doloroso contrato, que foi colocado em seu envelope de argila e cuidadosamente selado com a bainha do vestido de Kisaya. Ela então entregou seu bebê novinho à triunfante Tulpunnaya.

Embora seja necessário um esforço para imaginar a inflexível Tulpunnaya como modelo de alguém, ela parece ter sido exatamente isso para Chanate, sua escrava. Através dos anos, Chanate juntou economias trabalhando por fora, provavelmente como tecelã ou costureira, daí ter conseguido guardar alguns de seus salários. Para fazer seu capital crescer ainda mais, Chanate também adotou uma filha. Sombras de déjà vu: sua filha também fugiu, foi devolvida pela corte e forçada a casar com um escravo. Esse pós-escrito à história de Kisaya é interessante por mais razões do que seu triste eco. A despeito de quão brutais fossem certos aspectos de suas vidas, naquela época, os escravos na Suméria tinham um número surpreendente de direitos jurídicos, desde fazer contratos a ter seus próprios escravos.

(*) – No próximo domingo, dia 17 de julho de 2011, conheça KIYA. Ela viveu no Egito nos anos de 1.320 antes de Cristo. Ela era filha do rei Tushratta, de Mitani, distante das fronteiras do Egito na Mesopotâmia. Ela casou com o rei Akenaton do Egito e era conhecida como “Esposa Muitíssimo Amada”.

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