sábado, 2 de julho de 2011
Mulheres da antiguidade - ERISTI-AYA
Isto é História
Mulheres Audaciosas da Antiguidade
ERISTI-AYA
Vicki León
Os telefones ainda não tinham sido inventados na Suméria no século XVII a.C., mas adolescentes mimadas e cartas do tipo “queridos mamãe e papai – preciso e dinheiro” já existiam. Sem dúvida, a rainha Shibtu e o rei Zimri-Lim de Mari estremeceram ao receber o seguinte bilhete, um dos muitos de sua filha sacerdotisa Eristi-Aya: “Eu não sou sua representante pessoal frente aos deuses? Afinal eu não rezo constantemente por suas vidas? Então porque não estou recebendo minhas cotas de óleo e mel?”. Eristi-Aya havia sido encorajada ou forçada pelos pais a se tornar uma sacerdotisa nadiatum. Trazidas das classes sociais de realeza ou de famílias financeiramente abastadas, essas sacerdotisas viviam em conventos associados a um determinado templo. Como intermediárias religiosas, seus deveres eram rezar por seus pais e benfeitores, às deusas e deuses sumérios. Na Suméria, somente as mulheres ocupavam esse cargo. Talvez fosse politicamente conveniente ter uma princesa no importante templo de Shamash (o deus sol) e Aya (sua esposa) em Sipar. Ou, julgando do tom das cartas de Eristi-Aya, talvez ela fosse apenas uma chata real no palácio. De qualquer modo, seus pais a enviaram para o templo de Sipar à beira do Eufrates, convenientemente localizado rio abaixo, a muitos quilômetros de distância de Mari.
Lá ela se estabeleceu para viver com outras jovens no gigantesco complexo. Alem de uma pequena e leve sessão de orações, ocasionalmente, as sacerdotisas nadiatum faziam profecias. O que elas não faziam era participar de atividades domésticas, cozinha ou costura. Para o verdadeiro trabalho, o convento estava cheio de empregados, a maioria deles escravas. Cada sacerdotisa tinha pelo menos um empregado; Eristi-Aya tinha mais. Trabalhar para ela não era nenhum piquenique; contudo, em uma outra carta enviada para casa, ela diz ao pai: “Estou sempre tendo de reclamar, sempre! No ano passado você me enviou duas escravas, e uma delas tinha logo de morrer! Agora me trouxeram mais duas e uma dessas também resolveu morrer!”. Coisinha dramática – na realidade sua vida era bastante suntuosa. Ela chegou ao convento com um bonito guarda-roupa e com seu próprio dote, do mesmo modo que aconteceria com uma filha que estivesse se casando. As sacerdotisas iam e vinham do convento, comprando perfumes e jóias ostentosas que pagavam com pedaços de prata, cortados de um anel de prata que elas usavam.
Só a tarefa de responder às cartas de Eristi-Aya, sem mencionar o trabalho de manter o fluxo de óleo e mel e de mão-de-obra, mantinha a rainha Shibtu e o rei Simri-Lim inquietos (sua única sorte era que os cartões de crédito e o shopping centers ainda não haviam entrado em cena). A despeito do teor íntimo de suas cartas, na realidade não sabemos o nome de batismo de Eristi-Aya. Quando ela entrou para o convento, assumiu um dos nomes genéricos de sacerdotisas. Com o tempo, Eristi-Aya, que significava “Pedido de Aya”, deve ter-se tornado um nome assustadoramente apropriado.
A Autora
Vicki León
(*) – No próximo domingo, dia 10 de julho de 2011, conheça KISAYA. Ela viveu em Nuzi, uma cidade-estado no noroeste da Suméria, na metade do século XV a.C. e pagou um preço alto pelo amor e pela liberdade de ação.
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