Aracaju/Se,

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A Prisão de Costa Filho I

Os Crimes que abalaram Sergipe

7. Costa Filho, I (*)
Acrísio Torres


Guilherme Campos
Presidente
de Sergipe

Malgrado a profundeza do golpe que, em 9 de novembro de 1906, no Rio, ferira o presidente de Sergipe, Guilherme Campos, irmão de Olímpio Campos, sua decisão foi de não permitir represálias. Entendia que era preciso respeitar-se o momento doloroso, mesmo porque a população sergipana também sentia lutuosamente o trágico acontecimento. No entanto, em 16 de novembro, sete dias apenas depois do lúgubre sucesso acima aludido, deu-se a injustificável prisão do jovem literato e jornalista Costa Filho. Nunca foi explicado o motivo desse ato de violência do governo. É possível mesmo que o presidente sergipano, nos primeiros momentos, desconhecesse o fato lamentável. Tentava-se pela segunda vez contra Costa Filho, tendo na primeira investida quase sido atingido por um tiro. Nesta segunda vez, foi agredido, a mandado de superiores, pelo famigerado sargento Candinho. Uma agressão em plena rua, violenta, com ferimentos a faca, seguida de prisão.

Fausto Cardoso

Trazia o sargento Candinho, sob a manga da farda, a faca com que agredira o jovem jornalista. Perante as autoridades da polícia, jurou tê-la encontrada no cós da calça de Costa Filho. Mas, posto em liberdade, dizia, destemido, em nota à imprensa que “nunca trouxe armas comigo, porque não sou vil, porque nunca tive medo, porque nunca me exercitei na prática das covardes maledicências, e porque sou homem”. Era grave o momento político, pois Fausto Cardoso havia sido morto em agosto, e Olímpio Campos, assassinado, em vindita, em novembro de 1906. No entanto, a lei existe para punir criminosos. Pelos nobres sentimentos de Guilherme Campos, este não tolerava atos de intimidação, que cometiam à sombra de seu governo. Costa Filho não era apenas um festejado jornalista. Era também notável poeta. Na cadeia, para onde foi recolhido por ordem do chefe de polícia, bel. Cupertino Dória, escreveu a poesia intitulada Treva, que dedicou a Sergipe.

Sinto dentro de mim, germes eternos,
Como esplêndidas lavas de um vulcão;
Como centelhas vindas dos infernos
De uma geração.
Desarvorados e impetuosos raios,
Vibram chiando no imo de meu sangue;
A treva faz-me síncopes, desmaios,
E deixa-me exangue.
Raça maldita, anátema gloriosa!
Mãe de gênios, e mártires e heróis!
Há na tua alma, ó Mãe, pátria inditosa,
Legiões de sois!...
Desolada do amor, louca da idéia,
Escrava das paixões torpes, iníquas,
Há-de teu pranto ser uma epopéia,
De luzes profícuas.
Trânsida e miserável, pátria minha,
Raça que eu amo, que idolatro e beijo,
Pobre selvagem, onde a dor se aninha
Em lúcido lampejo.



Olímpio Campos

Antes de terminar esses notáveis versos de revolta, de protesto, o jovem jornalista Costa Filho foi libertado. Na palavra “lampejo” recebeu ordem de liberdade da mesma autoridade que, impensadamente, como mera demonstração de força, autorizara sua prisão, o bel Cupertino Dória, então chefe de polícia do governo Guilherme Campos. Em 2 de dezembro, dezessete dias depois de sua prisão, Costa Filho pronunciava em prol do povo e da pátria um discurso vibrante, cheio de destemor, e que intitulou de “discurso a céus descobertos”. Havia pesada emoção nas suas palavras, graves acusações na sua fala, em vista do sinistro desenrolar dos últimos acontecimentos na política sergipana. Manifestava-se assustado no mais forte e destemido de seu espírito “pela contemplação dessa corrente pavorosa e lúgubre de sangue irmão, que, por entre nós, deslizou colérica e terrível, arrastando na sua estúpida enxurrada um sem-número das nossas esperanças”.

Em expressões assim, de espanto, de acerbos vexames, discorreu Costa Filho a bem dos sergipanos, a bem de Sergipe, a bem do Brasil.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 31/33.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 19 de outubro de 2010. Vai abordar a segunda parte da prisão do jornalista e poeta Costa Filho, ocorrida no governo de Presidente de Sergipe, Guilherme de Campos, logo após o assassinato, no Rio de Janeiro, do senador Olímpio Campos, de acordo com o autor e obra acima referidos.

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