Aracaju/Se,

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Prisão de Costa Filho II

Os Crimes que abalaram Sergipe

8. Costa Filho, II (*)
Acrísio Torres

 
Oliveira Valadão
Deputado Federal
Na prisão, o jornalista Costa Filho dera provas de que, como dissera, “sou homem”. Na presença do bel. Cupertino Dória, chefe de polícia, de Abraão Lima, delegado auxiliar, e do escrivão, lavrou veemente protesto contra a calúnia torpe do sargento Candinho, dos que haviam forjado a versão da sinistra faca que, se não o matou, é que não tinha espírito débil, nem covarde. Prova mais cabal de que nada temia, dava logo após recuperar sua liberdade, acusando, através da imprensa, os responsáveis por sua injustificável prisão. Não acusava o sargento Candinho, que até perdoava, porque, dizia, “não sabes o que fazes”. Eu acuso, dizia Costa Filho, lembrando Zola, “acuso aos teus mandatários, a eles, somente a eles condeno a bem da lei ultrajada, da Constituição ferida e da humana consciência injuriada”. Dirigindo-se ao presidente de Sergipe, Guilherme Campos, Costa Filho o responsabilizou pelas violências de que havia sido vitima, e exigia, em nome da república, garantias imprescindíveis. Também se dirigiu ao presidente da república, Afonso Pena, ao senador Coelho e Campos e ao deputado federal Oliveira Valadão, no congresso nacional, e ainda à imprensa do Rio.

Guilherme de Campos
Presidente de Sergipe
Mesmo fundamente ferido, pontificava Costa Filho. Para ele, dos últimos e dolorosos sucessos políticos, dever-se-ia haurir forças em prol de um alevantado ideal, do bem-estar da comunhão, fundado numa política larga, escutando as queixas populares. “No regime que adotamos, pregava ele, o soberano é o povo”. Esses fatos vexavam a opinião pública, na capital e interior. Parecia periclitar a ordem, a liberdade. Subordinados tisnavam a toga de magistrado do presidente de Sergipe, Guilherme Campos. Espancamentos, afrontas, a prisão de Costa Filho, eram fatos lastimáveis. Guilherme Campos condenava esses processos, embora seus assessores procurassem justificá-los ante a balela de que conjuravam o assassinato do presidente sergipano, com o intuito de tomarem o poder. No congresso nacional, a agressão e prisão do jornalista Costa Filho alcançou ampla repercussão. Lamentou-o Oliveira Valadão, na câmara federal. E, do senado, o senador Coelho e Campos, em telegrama de 3 de dezembro de 1907, a Costa Filho, dizia: “Presidente república e ministro interior e justiça asseguram-lhe plenas garantias”.


Cesare Lombroso
No número anterior, 7, desta série, notei que o jornal O Estado de Sergipe, órgão oficial, compactuava com o plano dos que inventaram uma faca no cós da calça do jornalista Costa Filho. Nas suas respostas às acusações, denúncias, calúnias, agressões, Costa Filho dizia, na imprensa, que, mesmo que o matassem “o espírito que bate aqui dentro do meu coração é do âmago do carvalho, forrado de aço, e ninguém sobre a face da terra conseguirá vergá-lo”. Negando as acusações do jornal O Estado de Sergipe, desmentindo suas criminosas asserções, acusava publicamente seus agressores, os mandatários de sua agressão. Não encontrava, para os fatos, explicações nas páginas da boa razão, dos tratados normais. E apostrofava os inimigos, dizendo que “a criminologia os condena, e vou encontrá-los, tipos perfeitos, inteiramente semelhantes, nos volumes de monstros de Lacassagne, de Lombroso”. Tem-se a impressão de que, em Costa Filho renascia Fausto Cardoso.

Afonso Pena
Presidente
do Brasil
“Denunciem-me, clamava, denunciem-me em nome da desonra de vocês próprios; acusem-me pelo amor dos desrespeitos e dos ultrajes atirados às faces da Constituição nacional; condenem-me pelo amor das perseguições populares; matem-me em prol dos massacres, das violências e das injúrias feitas a esta formosa terra sem dita e sem fortuna”. E, como Fausto, mostrando o coração aos comandados de Firmino Lopes, Costa Filho, através da imprensa, oferecia-se em holocausto público, convencido de que a vida só é bela quando a liberdade é lei. “O primeiro jorro de sangue, bradava, que derivar da minha primeira ferida, bebê-lo-ei na taça olímpica de meu ideal, num brinde vitorioso em nome do povo, desse amado povo de cujas entranhas sou, e por cuja causa derramarei sem uma queixa, até a derradeira gota desse sangue que me anda carbonizando os fibramentos das artérias”.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 35/37.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 26 de outubro de 2010. Vai falar sobre os Criminosos Fardados, de acordo com o autor e obra acima referidos.


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