Aracaju/Se,

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Criminosos Fardados

Os Crimes que abalaram Sergipe

9. Criminosos Fardados (*)
Acrísio Torres



Na história dos crimes políticos, em Sergipe, ocorreu em 1907, em Nossa Senhora das Dores, um dos mais sangrentos. Um desses crimes hediondos, que definem uma situação, que envergonham um povo. Numa palavra, humilhantes para a civilização humana. Não despertou, na época, menor assombro que os crimes modernos. E, certamente, maior revolta, por se tratar de um assassinato de que foram autores soldados do corpo de polícia, de Sergipe, destacados naquele município, cenário de violências, crimes, muito sangue. Foi, de fato, uma página sangrenta, esculpida pelo sabre de soldado da polícia. Na verdade, pelos que eram os mantenedores da ordem pública, os defensores da vida e direitos dos cidadãos, da segurança social, enfim, que os vestia, alimentava e armava com dinheiro do povo. Contra os criminosos civis, a sociedade se defendia, punindo-os. No entanto, naquela época, contra criminosos fardados nada lhe restava, pois estes encontravam nos chefes políticos os protetores sem condições, na obra de vinganças e extermínios.

Guilherme Campos
Nem mesmo valia o protesto da imprensa livre, pedindo em nome do povo as providências da lei. Nem mesmo valiam os apelos em nome do sentimento cristão. Nem mesmo em nome da civilização, opunha-se um paradeiro à cruzada de crimes posta em ação pela horda policial. Lamentável é que tudo isso se passasse no governo de Guilherme Campos, um “magistrado de vida impoluta e honesta”. É o julgamento dos jornais da época. Disso decorriam os apelos da imprensa ao ilustre magistrado, no sentido de que não desse tréguas ao crime e aos criminosos. Era o caso de Nossa Senhora das Dores. Nesta cidade, soldados da polícia estadual, sob as ordens de um comissário, cercam um homem do povo, inofensivo, de bons costumes, e, piores que canibais, atiram-se sobre ele, e o ferem de sabre por todas as partes do corpo. Emiliano José de Lima, a vítima. Torturam-no com pancadas. Esbofeteam-no. Insultam-no. Enchem-lhe a boca de areia. Amarram-no pelos pulsos, e o arrastam, dilacerando-lhe a epiderme, as carnes. Pareciam querer requintar o martírio.

Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores
Não há exagero nas cores desse quadro, de que era responsável o chefe local, Malaquias Curvello. No corpo de delito, o dr. Alexandre Freire, médico, e Magalhães Borges, assistente, puderam constatar incontáveis contusões, além de ferimentos penetrantes, escoriações diversas, fratura de ossos. Para dar uma idéia do bárbaro crime de Nossa Senhora das Dores, basta que transcrevamos um ligeiro texto do exame de corpo de delito: “Nas regiões dorsal, lombar e sacras as contusões atingiram a um número tal, que não nos foi possível contá-las”. Nas suas conclusões ao exame do corpo de delito no cadáver de Emiliano José de Lima, partidário de Coelho e Campos e Oliveira Valadão, os peritos mencionados disseram que “a morte se deu imediatamente após os ferimentos”. Neste caso, o estado anterior de Emiliano em nada havia influído para a sua morte. Era mais um crime político. Tanto que o destacamento assassino recebeu ordens do comandante da polícia, do estado, para ameaçar, prender mesmo, os que haviam assinado, e encaminhado a Guilherme Campos, uma representação contra a situação reinante em Nossa Senhora das Dores. Era como Sergipe já não estivesse saciado de desordens, anarquia, violências, crimes, sangue.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 39/40.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 2 de novembro de 2010. Vai falar sobre os Crimes praticados em Nossa Senhora das Dores, de acordo com o autor e obra acima referidos.

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