Aracaju/Se,

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Atentado ao jornal Correio de Aracaju

Os Crimes que abalaram Sergipe

12. Empastelamento do Correio de Aracaju (*)
Acrísio Torres


Propaganda de filme no jornal Corrrio de Aracaju
 No mês de julho de 1907, chegaram à redação do Correio de Aracaju, cartas anônimas, portadoras de novas fatais, dando conta de violências projetadas. Numa delas, constava o terrível aviso de que estavam projetados os assassinatos de Vicente Porto, José Sebrão, José de Lemos, Pedro Menezes, Antônio Corrêa Dantas. Indicava mesmo a rua, em Aracaju, onde funcionava o quartel sinistro de tão negros planos. Nenhuma importância foi dada a esses avisos sinistros, de procedência ignorada. Mas, logo depois Vicente Porto caía, varado por uma carga de chumbo, ferido pelas costas, à noite, à porta de uma venda, em Nossa Senhora das Dores. Era a confirmação da carta anônima. No dia 18 de agosto, um cidadão, pedindo não fosse citado seu nome, ainda hoje ignorado, e não imiscuído nas lutas políticas sergipanas, procurou o jornalista João Menezes, diretor do Correio de Aracaju.De acordo com o “desconhecido”, devido a um caso fortuito o Correio de Aracaju deixara de ser empastelado na noite da véspera, 17, e seus redatores de serem assassinados. Em pleno regime democrático, teria sido um crime inominável contra a liberdade de imprensa, e contra a existência de cidadãos na posse de garantias constitucionais. Mas, o assalto abortou por “alguém” que, na última hora, a ele se opôs.


Desfile da chamada "Cadeia da Legalidade"
pelas ruas de Aracaju

Depois do gravíssimo aviso, os jornalistas João Menezes e Costa Filho procuraram o presidente do Estado, Guilherme Campos, e a ele narraram o plano tenebroso. O presidente sergipano assegurou-lhes plenas garantias, e que o jornal, seu pessoal tipográfico, seu diretor, seus redatores estariam “imunes de qualquer agressão, tanto quanto a pessoa dele presidente”. Mais duas vezes retornaram ao palácio, e sempre a mesma firmeza de garantia do presidente sergipano.Não se justificava, na verdade, destruir o Correio de Aracaju, nem eliminar seu diretor e redatores. Era um jornal que discutia idéias com firmeza de opinião, mas sem preocupação de pessoas, sem mira em sórdidos interesses individuais. No referver dos partidos políticos, decerto tramavam atacá-los porque lutavam pela paz e concórdia entre os sergipanos. Porque aspiravam, jornal e redatores, ver Sergipe na trilha do progresso, sem o ódio que separa os homens. Esse clima não podia agradar à horda de políticos interessados no caos, na violência, no crime. Não havia motivo para destruir o Correio de Aracaju, nem eliminar seu diretor e redatores, eles que foram o órgão do acordo benéfico, humano, celebrado entre Guilherme Campos, a situação, e Coelho e Campos e Oliveira Valadão, a oposição.


Pinheiro Machado

Ninguém havia se oposto a esse acordo, senão os apegados ao poder pelo poder, senão os que viviam na violência, no crime. Disso resultava a intranqüilidade em que vivia o estado, as perseguições mesquinhas, os espancamentos, as agressões, as violências. Tudo isso impopularizava o governo de Guilherme Campos, que, no entanto, não autorizava esses desmandos, essas transgressões da lei. Na hipótese de ter sido destruído o Correio de Aracaju, órgão inspirador do pacto político, e eliminados seu diretor e redatores, seria fácil compreender que Guilherme Campos tivera parte em tudo, e que o impediria de continuar como membro do conchavo, Guilherme Campos, Coelho e Campos e Oliveira Valadão. Mas, sobre os destroços do Correio de Aracaju, do sangue de seus redatores, levantar-se-iam os protestos poderosos dos senadores Coelho e Campos e Oliveira Valadão, dos órgãos vibrantes de Pinheiro Machado e Nilo Peçanha.Necessário se fazia paralisar com mão de ferro os movimentos desordenados, que insuflavam e armavam sicários para assassinar, planejavam destruir jornais, veículos do pensamento e da liberdade, e eliminar jornalistas. Era necessário, portanto, que sobretudo os que desejavam benéfico o acordo político celebrado entre Guilherme Campos, Coelho e Campos e Oliveira Valadão, se mantivessem alertados no seu posto.

Nilo Peçanha
Mesmo sob essas ameaças, o jornalista João Menezes, diretor do Correio de Aracaju, tinha ainda palavras de brandura, de exortação. “Em vez de criar estorvos ao homem de reta vontade que sustém as guias da governação de Sergipe, coloquêmo-nos ao lado dele, desbravemo-lhe o caminho das urnas que o pontuarem, sejamos leais e francos; vamos com ele até o fim da jornada, que iremos em ótima e dignificante companhia”. E acrescentava o grande jornalista: “E que os que pensarem e praticaram o mal; os que, abusando da bondade do des. Guilherme Campos, ordenaram as selvagerias que Sergipe viu praticadas; que os que apresentavam, em voz baixa, ao espírito do povo, o presidente como um reacionário feroz, e mandante de tudo quanto assistimos; que os que projetaram destruir nossas oficinas e eliminar-nos pela violência, se arrependam e comunguem no grande hostiário, sob o pálio imenso, aberto para acolher a todos os sergipanos”.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 49/51.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 23 de novembro de 2010. Vai falar sobre o crime da professora Maria Luíza, no município de Pacatuba, Estado de Sergipe, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.

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