Aracaju/Se,

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Crime em Nossa Senhora das Dores I

Os Crimes que abalaram Sergipe

10. Crimes em Dores I (*)
Acrísio Torres

Guilherme Campos
Presidente do
Estado de Sergipe
Por muitos anos, Nossa Senhora das Dores continuou cenário de crimes políticos hediondos. Seis meses depois do bárbaro assassinato de Emiliano José de Lima, ocorreu uma tentativa de assassinato do chefe político, Vicente Porto, partidário dos senadores Coelho e Campos e Oliveira Valadão. Projetava-se eliminar os amigos desses dois senadores sergipanos. Foi este, mais um gravíssimo acontecimento desenrolado naquele município, e que revoltou o estado. Repercutiu mesmo fora das fronteiras sergipanas, como lamentável atestado da índole, dos costumes políticos, da cultura do povo sergipano, malgrado seu renome devido à força, à vibração, ao brilho da inteligência de seus filhos. De nada pareciam valer as inúmeras queixas ao governo de Guilherme Campos. De nada pareciam valer as denúncias da imprensa contra o chefete político local, Malaquias Curvello, apontando-o como responsável pela série de crimes, violências e sangue derramado; era homem de uma crueldade rara e monstruosa. Os antecedentes e fatos criminais praticados em Nossa Senhora das Dores, sem repressão, tendiam a animar os seus autores à prática de novos e mais cruéis crimes.


Oliveira Valadão
Senador
Talvez recaísse sobre a população como ocorrera antes, como ocorrera depois, e há de ocorrer de tempos em tempos, a maldição dos índios enforcados no início da colonização de Dores. Não era de estranhar, pois, o atentado criminoso de que fora vítima Vicente Porto. Esse atentado criminoso era mesmo esperado, porque desde muito tempo ele corria anunciado, e os amigos de Vicente Porto o preveniram muitas vezes. Mas ele, valente, corajoso, de boa fé, sobretudo, recusara-se sempre acreditar no pregão de sua morte, tal lhe repugnava atribuir, mesmo a seus inimigos, ações assassinas. Para a opinião pública, a origem do crime de que fora vítima Vicente Porto estava nos instintos partidários. No fundo, porem, estava ligado a um acordo político firmado entre Guilherme Campos, presidente do estado, e os senadores Coelho e Campos e Oliveira Valadão, não aceito por alguns chefetes do interior, entre eles Malaquias Curvello, de Nossa Senhora das Dores. Não podia interessar a esses violentos chefetes um tal acordo político, de paz, porque esses chefetes só valiam quando dispunham, a seu talante, das intendências e da polícia.

Coelho e Campos
Senador
Tentando a eliminação de Vicente Porto, procurava-se romper o acordo, abrindo novo período de estremecimento entre o governo de Guilherme Campos e os senadores Coelho e Campos e Oliveira Valadão. E, agindo através de um agente da força pública, punha o governo a descoberto, atirando-lhe a responsabilidade dos crimes. No caso, porem, da tentativa de assassinato de Vicente Porto, pai do notável político Francisco Porto, Malaquias Curvello errou o salto, como a onça em relação ao gato, no conto de Sílvio Romero, pois os dois senadores sergipanos sentiram-se feridos na pessoa de seu representante político, na terra dos Enforcados. Prevaleceu o acordo político. Guilherme Campos não compactuava com assassinos. Os senadores Coelho e Campos e Oliveira Valadão compreendiam o alcance do golpe. No entanto, fizeram justiça a Guilherme Campos, esperando dele, sua lealdade política, de suas responsabilidades de chefe de estado, o cumprimento da Constituição e das leis. Era crítica a situação. E as próprias vistas e atenções do país estavam voltadas para Sergipe, assustadas dos políticos locais e dos meios que punham em ação na luta pelo poder.

Afonso Pena
Presidente do Brasil
Habilidade partidária, astúcia, malícia, crimes, eram armas usadas para ascender às posições políticas, ou nelas permanecer. E crimes frios e covardes, como o contra Vicente Porto, só serviam para confirmar, na capital do país, em todo o país, a crença de que o presidente da república, Afonso Pena, deveria urgentemente amparar a vida e direitos do povo sergipano. Não há exagero na assertiva de que a vida e direitos dos sergipanos estavam expostos à sanha partidária de prepotentes chefetes, que pareciam decidir a polícia estadual, rudes, habituados a beber, a saciar em sangue humano, no sangue dos adversários, seus instintos primários. Era, pois, uma missão patriótica, humanitária, a de Guilherme Campos, no sentido de salvar a honra de Sergipe, fazendo recair a lei e a justiça contra os atacantes de Vicente Porto, gravemente ferido por um tiro de um soldado do destacamento. Enquanto jazia gravemente ferido Vicente Porto, em Nossa Senhora das Dores ocorriam novas violências aos adeptos dos senadores Coelho e Campos e Oliveira Valadão. Francisco Campos, escrivão de órfãos, adversário de Malaquias Curvello, fora agredido pelo sargento Almeida, do destacamento policial. Foi preciso, em Dores, a presença do próprio chefe de polícia, bel. Cupertino Dórea, para, dentro das disposições severas da lei, pelos seus agentes, descobrir os que tentaram assassinar Vicente Porto, e entregá-lo ao julgamento dos tribunais criminais do estado.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 41/43.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 9 de novembro de 2010. Vai continuar falando nos crimes ocorridos em Nossa Senhora das Dores, sobre a situação de Vicente Porto, atingido por um tiro desferido por um soldado do destacamento local, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.

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