Aracaju/Se,

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Crime de Pacatuba

Os Crimes que abalaram Sergipe

13. O Crime de Pacatuba (*)
Acrísio Torres


Depois dos crimes políticos em Nossa Senhora das Dores e do malogrado plano de empastelamento do Correio de Aracaju, e assassinato do diretor e redatores, houve uma trégua no partidarismo violento, sanguinolento, de Sergipe, até 1908, novembro, quando ocorreu o crime de Pacatuba. Houve nesse lapso, breve lapso de tréguas, arbitrariedades, mas sem conseqüências a lamentar, como em Itaporanga, numa tentativa de assassinato do “coronel” Firmino Barreto. Na noite de 18 de novembro, do ano citado, Maria Luíza, professora pública de ensino primário, conversava com uma menor, no interior de sua casa, quando foi atingida por um tiro de espingarda, cujos caroços de chumbo se cravaram no peito, matando-a instantaneamente. Também atingida pelo disparo traiçoeiro e fatal, a criança teve decepados três dedos da mão direita.


Vista do Pantanal de Pacatuba

Mistério impenetrável cercou, desde o início, o bárbaro crime, as causas que o determinaram, os seus autores intelectual e material. Pouco a pouco, porém, as trevas foram sendo dissipadas. Tratava-se de vingança, de satisfação de ódio armado de um potentado da localidade, cujo nome os jornais da época omitiram. Foi autor material, um indivíduo de nome Américo Lima, de trinta anos, e na descrição da imprensa da época “baixo, grosso, cor parda, rosto um pouco comprido, nariz afilado”. Uma circunstância o denunciou. No momento do crime, à noite, ao desfechar o tiro de espingarda, que matou instantaneamente Maria Luíza e decepou a mão da inocente criança, uma luz interior bateu em cheio no rosto do assassino, fazendo-o reconhecido de outras pessoas, que se encontravam na residência da inditosa professora, toda dedicada à nobilíssima missão de ensinar às crianças.

Vista do Pantanal de Pacatuba
Américo Lima, executor do crime, encontrou proteção no vigário da freguesia, Nunes Álvares. Era o criminoso empregado do vigário, que não era apenas “ministro” de Deus, na crença dos tolos, mas uma das influências que sustentavam, com fervor, o partidarismo que dominava as posições políticas, no centro do estado. Não era difícil, pois, compreender porque se procurava esconder do conhecimento público, os pormenores do hediondo crime, e, sobretudo, os comparsas que o haviam arquitetado e que o haviam executado, na calada da noite. Esses processos não eram típicos apenas da época, mas caracterizam um longo período da história política de Sergipe, só atenuados e afastados há pouco mais de um decênio.

Vista de Penedo-Alagoas,
às margens do Rio São Francisco

Não só a imprensa sergipana noticiou o trágico acontecimento, mas também “O Lutador” de Penedo, no estado vizinho. Todos os jornais, noticiando os sucessos, apresentam com negras cores a ação funesta exercida em Pacatuba pelo vigário, seus filhos, genros e netos, mas omitem, singularmente, o nome do prepotente reverendo. Dizem-no mesmo “participante do crime”. Tomando conhecimento do fato delituoso, o presidente do estado, Guilherme Campos, nomeou um oficial de polícia para, na qualidade de delegado, sindicar os fatos, abrindo rigoroso inquérito. Também autorizou ao promotor da comarca, Propriá, que se transportasse para Pacatuba, no sentido de adotar as diligências precisas, dentro das rigorosas disposições legais.

Vista de Penedo-Alagoas
Mais uma vez, em tão grave conjuntura, era grande a responsabilidade do governo, pois, ou por meio de seus agentes descobria os criminosos intelectuais, para entregá-los à justiça, ou se confessava desarmado para fazer cumprir a lei e dar garantia e segurança à vida dos cidadãos, e manter a ordem. Não era fácil, naquela época, entregar à justiça determinados criminosos, dadas as categorias e posições dos potentados políticos que os protegiam. Mais uma vez, triunfava sobre a justiça o partidarismo, que tudo envilecia, até, muitas vezes, as consciências mais puras. Mais uma vez, deixara-se iludir o poder público, pelos potentados em Pacatuba. A ação do governo não produziu nenhum efeito, em mais este crime, prevalecendo o mistério com que se procurava, a todo custo, desviar e embaraçar as vistas da autoridade. E esta, sem a energia e valor precisos, era mistificada pelos useiros e vezeiros em crimes, que permanecem impunes pela impossibilidade de serem descobertos.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 53/55.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 30 de novembro de 2010. Vai falar sobre os crimes de Babinha, na cidade de Itabaiana, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.

 

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