Aracaju/Se,

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mulheres da Antiguidade - ENNIGALDI

Isto é história

Mulheres Audaciosas da antiguidade
ENNIGALDI
Vicki León

Não são muitas mulheres hoje em dia que conseguirão exercer três carreiras em uma existência; menos ainda, mulheres eram capazes de fazê-lo na antiga Babilônia. Entretanto, na metade do século VI a.C., Ennigaldi-Nanna de Ur deu um jeito de espremer em sua agenda três carreiras diferentes: diretora de museu, administradora escolar e suma sacerdotisa. E falar de passos (pegadas) rápidos! Ennigaldi começou sua vida simplesmente como a amada filha de Nabonido, o último rei da Babilônia e de Ur de origem local, antes que os persas assumissem o controle. A maioria dos reis babilônios gostava de esportes sangrentos, como a guerra e a caçada ao leão, atividades que eram bem representadas em murais heróicos. Poucos reis tinham um lado contemplativo, como Nabonido. Antiquário e restaurador, ele adorava lidar com coisas antigas, e também ensinou Ennigaldi a apreciá-las.

Quando arqueólogos escavaram certas partes do complexo que incluía o palácio e o templo de Ur, ficaram surpreendidos em encontrar dúzias de artefatos, arrumados organizadamente lado a lado, cujas idades variavam de centenas de anos. Então, apareceram tambores de argila com rótulos em três idiomas – os primeiros rótulos de museu conhecidos. Eles especularam que Ennigaldi e seu pai poderiam ter escavado pessoalmente algumas das peças do museu que ela mantinha – artefatos que já eram antiguidades naquele tempo. Essa jovem diretora de museu achou possível assumir mais de um cargo, porque não tinha de fazer uma coisa: deslocar-se diariamente para o trabalho. Os terrenos do palácio incluíam o templo e seus prédios subsidiários, além das habitações, o prédio do museu e uma escola para sacerdotisas, administrada por Ennigaldi – e onde ela possivelmente também ensinava. Naquela altura, essa escola já estava em operação contínua no mesmo local por 845 anos. O equipamento e as técnicas de ensino de sua escola eram similares aos de outras escolas para escrivães – embora, com jovens sacerdotisas como estudantes, pode ter sido dado uma ênfase menor a surras diárias de bengala e outros tipos de punição corporal, que faziam parte do currículo normal da escola suméria.

Assim como a instrução masculina era bastante reservada para as classes altas, a instrução feminina seguia o mesmo padrão na Mesopotâmia. As mulheres instruídas tinham até mesmo seu próprio dialeto escrito, chamado de Emesal. Por causa desse dialeto, os arqueólogos podem saber quando as mulheres escreveram – ou pessoas escreveram para elas – nos tabletes de argila. Em 547 a.C., Ennigaldi-Nanna se tornou suma sacerdotisa, tal como sua recém-falecida avó Adad-Guppi havia sido. Nanna era um deus, equivalente a Sin, o deus da lua. Portanto, ela era uma sacerdotisa de Sin, que não era um cargo tão pecaminoso quanto soa em inglês (com todo esse trabalho, lhe parece provável que ela tivesse tempo ou inclinação para isso?). Agora Ennigaldi passava noites de devoção religiosa ao deus da lua, na pequena sala azul no topo do grande zigurate de Ur.

Quando os babilônios falavam sobre correspondência, eles não diziam: “Você recebeu minha carta?”. Em vez disso, perguntavam: “Você ouviu meu tablete?”. Nós ainda temos de ouvir qualquer dos tabletes de Ennigaldi-Nanna; talvez amanhã uma pá desenterre algumas palavras deste dínamo da antiga Ur.

(*) - No próximo domingo, dia 28 de agosto de 2011, você vai conhecer TÔMIRIS, comandante suprema do temível exército massageta. Ela enfrentou o rei Ciro, o Grande, da Pérsia, por volta do ano 550 a.C. e o derrotou numa das batalhas mais violentas que o mundo já presenciara.

(**) - Do livro "Mulheres audaciosas da antiguidade", de Vicki León, Editora Rosa dos Tempos, 1997, Tradução de Miriam Groeger. Título original: "Uppity women of ancient times".

A Autora
Vicki Leon

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