Aracaju/Se,

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Crime em N. S. das Dores II

Os Crimes que abalaram Sergipe

11. Crimes em Dores II (*)
Acrísio Torres

Na noite de 2 de agosto de 1907, o bel Cupertino Dórea, chefe de polícia, do governo Guilherme Campos, chegava à malfadada vila de Nossa Senhora das Dores. No dia seguinte, apresentou-se em casa de Vicente Porto, que se recusou a prestar-se ao exame de corpo de delito. Poupava amigos seus de deporem no inquérito policial, para evitar novos desmandos. Neste sentido, Vicente Porto prestara declaração: “Nenhum motivo inconfessável fez com que não acedesse ao corpo de delito, mas somente que as testemunhas do crime são pessoas de minhas relações, e não quis atrair sobre elas as iras dos mandões da terra“. Com efeito, recusara o corpo de delito, mas pedira auto de perguntas, a ele, o que foi negado pelo chefe de polícia, alegando que a lei não facultava.




Guilherme Campos
Presidente de Sergipe
Para uma atitude de grande generosidade do político de Dores. Na verdade, procedido o exame de corpo de delito, indicada as pessoas (amigas dele) a deporem, qualquer declaração que refletisse a verdade, só serviria para aumentar a pressão em que já havia mergulhada a conturbada vila. Além disso, era chamar sobre as testemunhas a ira, a vingança feros assassinos. Fez, porém, algumas declarações suficientes para conduzir ao assassino. Declarou ao chefe de polícia que reconhecera na tentativa de assassinato à sua pessoa, o soldado Nenen, do destacamento. Não podia enganar-se. Declarou mais estar convencido que o mandante fora Malaquias Curvello, chefe situacionista local. Esperava que suas declarações, pela gravidade delas, fossem tomadas por termo.


Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores
Narrou o chefe político, Vicente Porto, que, na ocasião da tentativa de morte contra ele, conversava, sentado, à porta de uma venda. Lembrou que o lampião mais próximo dele, da iluminação pública, estava sem luz, decerto propositalmente. Na meia-escuridão o soldado se aproximou, desfechou um tiro, que o atingiu na região abaixo dos rins, e desapareceu. Os que presenciaram o atentado criminoso pasmaram, imóveis, aterrados. Mas, mesmo gravemente ferido, Vicente Porto, sentindo o efeito da descarga da arma, saiu em perseguição ao assassino. Disparou várias vezes sobre o criminoso, sem atingi-lo, e exausto, esvaindo-se em sangue, o valente político retrocedeu. O covarde atacante conseguira escapar. Cupertino Dórea inquiriu várias pessoas sobre o crime. Para se ter idéia da grave situação em Dores, mesmo presente o chefe de polícia, o famigerado sargento Almeida insultara e ameaçara os negociantes Pedro Leal, Manuel Leal, Orestes Carvalho, Euclides Menezes, Antônio Divino. Essas violências mais agravaram o estado de saúde de Vicente Porto, que insistia junto ao bel. Cupertino Dórea pela substituição do destacamento. Era, embora difícil de obter, a primeira medida a ser posta em prática. No entanto, depois da gravíssima acusação contra ele, o que se viu foi Malaquias Curvello seguir ao lado do chefe de polícia, até Siriri, para seguir no dia seguinte, ladeado de duas praças, entre as quais o assassino, Nenen, para Nossa Senhora das Dores. Não havia mais evidente prova de que, na crítica situação, Malaquias Curvello estava amparado e prestigiado pelo poder público policial. Significava que Malaquias continuaria tirânico e, Nenen, seu cabo de ordens.




Penitentes em N. S. das Dores
Enquanto isso, Vicente Porto continuava em estado grave. E, do leito de dores, persistia pedindo providencias contra os soldados que, impunes, continuavam ameaçando o povo na feira. Numa atitude de selvageria, faziam serenata na própria porta da residência de Vicente Porto. Parece incrível que se açulasse contra um moribundo tanta ferocidade. Novos crimes já se delineavam na atmosfera conturbada da terra dos Enforcados. E continuavam as tropelias. Na feira, os soldados, sem motivo justificado, davam de “cipó caboclo” nos pobres feirantes. Ulisses de Menezes, só por ser amigo de Vicente Porto, foi agarrado brutalmente e lhe “apertaram a goela de tal modo, que Ulisses deitou a língua de fora”. E todas essas ordens arbitrárias eram dadas pelo chefete local, Malaquias Curvello. De tal modo eram os distúrbios, que muitos negociantes preparavam-se para se mudar de Nossa Senhora das Dores. Noticias pungentes sobre o estado de Vicente Porto continuavam a chegar a Aracaju, e divulgadas pela imprensa livre. Mais de 20 dias de atrozes sofrimentos não lhe deixavam esperança de vida. Mesmo assim, nesse estado melindroso, Vicente Porto persistia telegrafando ao chefe de polícia, ao chefe do estado. Mas, em últimos telegramas aos amigos da capital sergipana, dizia que “descrente da justiça dos homens, apelo para a justiça de Deus”.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 45/47.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 16 de novembro de 2010. Vai falar sobre as ameaças e avisos endereçados ao jornal “Correio de Aracaju”, inclusive sobre os assassinatos que iriam ocorrer em Sergipe, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.

Um comentário:

  1. Aos historiadores gostaria de saber qual foi a participação na defesa da cidade de N.S.das Dores, do Sr. João Ferreira de Andrade? Fala-se muito do destemor desse cidadão que chegava a causar certo receio a Lampião nos seus planos de saquear a cidade.

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