Aracaju/Se,

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Os Crimes de Babinha em Itabaiana

Os Crimes que abalaram Sergipe

14. Os crimes de Babinha (*)
Acrísio Torres

Caldeirão da Serra de Itabaiana
 Em março de 1909, Manoel Babinha, protegido do chefe político de Itabaiana, dr. Baptista Itajahy, pôs suas reses a pastar nas propriedades (roças) de quatro pequenos camponeses. Os prejudicados, José dos Santos Oliveira, Avelino Nunes de Oliveira, José Neves da Luz e José Francisco dos Santos, procuraram a autoridade policial da cidade serrana. Pediram providências, e receberam insultos e ameaças. Deste modo, continuaram as reses a arruinar as roças das vítimas. Nada esperando das autoridades, desesperado, José dos Santos Oliveira, um dos prejudicados, atirou em duas reses, na sua própria roça, matando-as. Como era de esperar, essa atitude justa de defesa da propriedade, deu lugar a fatos gravíssimos, que em seguida se desenrolaram.
Itabaiana no início do século XX
Pondo-se à frente da força policial de Itabaiana, composta de cinco praças, a que incorporara vários paisanos, Manoel Babinha se dirigiu às propriedades dos perseguidos. Dirigem-se primeiro à de José dos Santos Oliveira, que espingardeara as duas reses. Põem porta abaixo. Não o encontrando, amarram sua mulher, insultam-na, injuriam-na, arrastam-na, espancam-na barbaramente. Neste lamentável estado, conduzem-na à casa de Avelino Nunes de Oliveira, que se acha entregue ao trabalho da farinhada, com doze trabalhadores, e sua mulher grávida de muitos meses, além dos filhos. Prendem, espancam e ferem a todos. Maria Estefânia, mulher de Avelino, pelo seu estado, não resistindo aos espancamentos, caiu quase morta. E depois de aplicarem nova surra na mulher de José dos Santos, deixam-na ir, quase nua, sangrando.

Banda de Música de Itabaiana
Dezesseis dias depois, Maia Estefânia expele a criança que trazia no ventre. Mas que horror! A criança tem o crânio inteiramente machucado, e de seu nariz e boca corre sangue. Pouco depois morre. Enquanto isso, Avelino Nunes, marido de Estefânia permanece preso, algemado, já há mais de vinte dias. Foi solto por habeas-corpus. Por outro lado, saquearam a venda de Avelino, roubando o que encontraram. Não estavam saciados de violências e sangue Manoel Babinha e seu grupo de desalmados. Dirigiram-se à casa da mãe de Avelino Nunes, que Haia fugido, espavorida, e lhe roubam as imagens. Encaminham-se então à casa de José Francisco dos Santos, a quem não encontram. Mas, derrubam portas, janelas e saqueiam. E, assim, continuaram os desvarios da força pública de Itabaiana. De tal modo que a população de Serra do Bom Jardim evadira-se.

Igreja Matriz de Itabaiana
Nessa época, o dr. Baptista Itajahy, chefe político em Itabaiana, da situação, era vice-presidente do estado. Procurado por José dos Santos Oliveira, em Aracaju, este foi mal recebido. Desta forma, não só o vice-presidente, como também o dr. Cupertino Dórea, chefe de polícia, apoiavam as loucuras da força pública, em Itabaiana. Nada fez o próprio governante sergipano, Guilherme Campos. Desafiado pelo horror do crime a iniciar uma ação saneadora, e fazer triunfar a justiça e a lei, mostrou-se impotente, embora tivesse elementos para a ação. Pressionado pela imprensa, prometera averiguar os fatos criminosos. Nunca sequer tiveram começo essas averiguações criminais. Nada. Nem corpo de delito, nem inquirição de testemunhas, nem quaisquer outras diligências policiais. É verdade que apareceram inseridos em órgão da imprensa oficial autos de perguntas, que não foram feitos pela polícia, mas arranjados pelo chefe político local, dr. Baptista Itajahy, que seguira para Itabaiana.

Cultura de Itabaiana
Este chegou ao ponto de obrigar a um pobre pai a negar as vergastadas aplicadas pela polícia na própria filha e justificar a morte de um neto, com o fim de inocentar Manoel Babinha e seu grupo de desalmados. Era assim que, em Itabaiana, agia o chefe político local, dr. Baptista Itajahy, de triste memória na história política de Sergipe. Em vão o sangue das vítimas de Bom Jardim clamaram justiça, e dos barrancos da Serra se levantaram, num eco de condenação, os vagidos da criança, fria e cruelmente assassinada pela força pública, protegida, inocentada, pela prepotência política da época.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 57/59.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 7 de dezembro de 2010. Vai abordar o crime praticado por Gilberto Amado contra o poeta Aníbal Theófilo, ocorrido no Rio de Janeiro no dia 20 de junho de 1912, de acordo com o autor e obra acima referidos.

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