Aracaju/Se,

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Gilberto Amado-Aníbal Theófilo - O julgamento

Os Crimes que abalaram Sergipe

15. Gilberto Amado-Aníbal Theófilo. O julgamento (*)
Acrísio Torres

Gilberto Amado
Gilberto Amado foi a júri no dia 30 de junho de 1916, um ano depois do assassinato de Aníbal Theófilo. O promotor público, que foi auxiliado pelo dr. Cyrillo Júnior, pedira a pena máxima. Mas, os advogados de defesa, Evaristo de Moraes, Aníbal Freire e Manoel Villaboim, refutaram com vantagem a acusação. O júri reconhecera que o réu havia assassinado a vítima com superioridade em armas, mas com privação de sentidos. Deste modo, o juiz pôs o acusado em liberdade. Embora ocorrido no Rio, o crime de Gilberto Amado, crime que ele, depois de tantas humilhações de Aníbal Teófilo, não pudera evitar, e o reconhecera a absolvição do júri, o crime de Gilberto, repito, teve largas repercussões políticas em Sergipe. Parece estranho à primeira vista, esta afirmação, mas teve decisiva influência nos novos rumos da política sergipana. Estava no governo de Sergipe Oliveira Valadão, que, aliás, o detinha pela segunda vez, num espaço de tempo de apenas duas décadas.

Oliveira Valadão
Nos dois períodos de governo, Oliveira Valadão revela personalidades políticas bem diferentes, extremas, contrastantes, já que violento no primeiro, voltou moderado no segundo período de administração. Esquecido dos atos de força e violências da primeira presidência, de 1914 a 1918, tomou a decisão de administrar sem oposição. Pretendia realizar. Para isso, duas condições eram necessárias. Uma delas, a reconciliação política com Francino Melo, um dos homens mais ricos do estado, na época, e a outra condição a aproximação política com o deputado Joviniano de Carvalho, que tinha jornal de oposição, o Sergipe Jornal. Não podia deixar de ser esta a posição de Oliveira Valadão, ele que na ocasião da posse lamentara “os tristes e lutuosos incidentes anteriormente ocorridos”.


[08.jpg]
Francino Melo
Só no caso da conciliação com o deputado Joviniano de Carvalho não influíra o crime de Gilberto Amado. Na verdade, o presidente Oliveira Valadão criou o cargo de diretor da Secretaria de Governo, e o ofereceu a Joviniano, que o aceitou para o genro, Gervásio Prata, que chegou a desembargador, neste estado. Não houve dificuldades, porque Joviniano estava também interessado na pacificação política em Sergipe. No entanto, talvez a aproximação e conciliação política com Francino Melo nunca tivesse sido possível a Oliveira Valadão, sem o lamentável crime de Gilberto Amado. E disso Valadão soube tirar proveitos políticos, benéficos a Sergipe. Cometido o crime contra o poeta gaúcho Aníbal Theófilo, Gilberto, sem recursos para a contratação de advogados, três, telegrafou ao presidente sergipano, Oliveira Valadão, de quem era muito amigo, pedindo ajuda financeira.


Evaristo de Moraes
Advogado
de Gilberto Amado
Oliveira Valadão, porém, sempre foi de escassos recursos econômicos. Por outro lado, honesto, não lhe parecera justo gastar o dinheiro do estado, ainda que se tratasse de um representante sergipano na câmara federal. Foi quando, com o tato que lhe era inato, e antevendo os efeitos políticos da atitude que ia assumir, que recorreu a Francino Melo, grande fortuna. Procurou-o e expôs a situação de Gilberto, e não só fundou sua interferência no fato de se tratar de um grande representante de Sergipe, no congresso nacional, mas de um intelectual a caminho da consagração literária, no país. Francino Melo, num exemplo de elevação política, exemplo raro, concordou em ajudar a Gilberto Amado, e os dois homens públicos apertaram as mãos, e se reconciliaram. Não só esta conciliação interessou particularmente a Oliveira Valadão, mas sobretudo ao estado, pelas obras beneméritas que, ainda no período administrativo de Valadão, Francino Melo se prontificou idealmente a realizar. Desta forma, o crime de Gilberto Amado levara a esquecer mágoas e futuros conflitos da parte de Oliveira Valadão e Francino Melo. Mais uma vez, comprovava-se aqui a sabedoria popular que diz que “não há um mal que não traga um bem”.

(*) Do Livro “Cenas da Vida Sergipana, 2 – Acrísio Torres – SERGIPE/CRIMES POLÍTICOS, I”, Thesaurus Editora, prefácio de Orlando Dantas, páginas 65/67.

- Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 21 de dezembro de 2010. Vai falar sobre a invasão do Jornal do Povo, por policiais à paisana, de revolver em punho, fato ocorrido em 3 de outubro de 1921. Veja, pois, Imprensa, o 4º poder, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.
Adendo
Conheça Aníbal Freire
Um dos advogados de Gilberto Amado

Biografia
Ver imagem em tamanho grande
Aníbal Freire
Terceiro ocupante da Cadeira 3, eleito em 30 de setembro de 1948 na sucessão de Roberto Simonsen e recebido pelo Acadêmico João Neves da Fontoura em 10 de maio de 1949. Recebeu o Acadêmico Assis Chateaubriand em 27 de agosto de 1955. Aníbal Freire da Fonseca, jornalista, magistrado e professor, nasceu em 7 de julho de 1884, em Lagarto, SE, na mesma cidade em que nasceram dois outros antigos acadêmicos, Sílvio Romero e Laudelino Freire, seu tio. Faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 22 de outubro de 1970.

Filho de Antônio Cornélio da Fonseca, advogado provisionado, e de Júlia Freire da Fonseca. Fez o curso de preparatórios no Ginásio Sergipano, dirigido pelo notável professor Alfredo Montes, e no Ateneu Sergipano. Ainda estudante, em 1898, começou a fazer jornalismo, profissão a que votaria sempre, com os intervalos de sua carreira de político e suas atividades jurídicas. Em 1903, diplomou-se pela Faculdade de Direito de Recife, tendo exercido antes o cargo de promotor público de Aracaju, Sergipe. Em 1904 foi nomeado subinspetor de Seguros em Pernambuco. Foi eleito deputado estadual em 1907. No mesmo ano fez concurso para professor da Faculdade de Direito do Recife, seção de Economia Política, Finanças e Direito Administrativo, sendo nomeado. De 1908 a meados de 1909 exerceu o cargo de Secretário -Geral do Estado de Pernambuco, no Governo Herculano Bandeira. Em setembro de 1909 foi eleito deputado federal. Em 1916, foi provido no cargo de professor catedrático de Direito Administrativo. Eleito deputado federal para a legislatura de 1924-1926, renunciou o mandato para ocupar o cargo de Ministro da Fazenda, de 1925 a 1926, no governo de Artur Bernardes. Voltou à Câmara dos Deputados, na legislatura de 1927 a 1920. Exerceu as funções de membro do Conselho Superior de Ensino de 1913 a 1923 e do Conselho Nacional de Educação, de 1934 a 1940. De fins de 1938 a junho de 1940 exerceu o cargo de Consultor Geral da República, de que se afastou, por ter sido nomeado Ministro do Supremo Tribunal, no qual se conservou até maio de 1951, quando foi aposentado, por tempo de serviço.

Começou a militar no jornalismo em 1898, colaborando no Tempo e no Estado de Sergipe. Em 1901, foi redator da Gazeta da Tarde no Rio e de 1902 a 1909, redator principal do Diário de Pernambuco, então de propriedade do Senador Rosa e Silva. De 1926 a 1929, foi diretor do Jornal do Brasil, função que voltou ocupar de 1937 a 1940. Afastou-se, então, das lides jornalísticas, por haver ingressado no Supremo Tribunal Federal. Aposentado no cargo de Ministro, voltou à direção do Jornal do Brasil, em julho de 1951, do qual se afastou, definitivamente, em 1961.

Em setembro de 1955, foi nomeado presidente e membro da Comissão Permanente do Livro do Mérito e Chanceler da Ordem do Mérito, cargo do qual se exonerou em janeiro de 1956. Em junho do mesmo ano foi novamente nomeado para as mesmas funções, tendo-se exonerado em agosto de 1958. Foi membro da Sociedade Brasileira de Direito Internacional; sócio efetivo do Instituto Arqueológico Pernambucano; sócio do PEN Clube do Brasil e sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Vide : www.academia.org.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...