Numa palavra, o talento traduz uma bomba. Mas nem sempre. Às vezes, o talento propicia um saboroso e colorido espetáculo de pirotecnia. Especialmente quando o talentoso é, ao mesmo tempo, modesto, disciplinado, esmerado e, acima de tudo, paciente. Nesse ponto, é que vem a calhar a biografia de um sergipano que, neste momento, está passeando de asa-delta em céu de brigadeiro: Cezar Britto. Com efeito, o momento histórico que Cezar protagoniza é ímpar. Não apenas pelo cargo com o qual ele está sendo brindado (Presidente da OAB Nacional), mas pela pessoa que vai brindar o cargo. Hoje, é lícito crer que ele e o cargo se aperfeiçoam simultaneamente. E as razões são várias. Todas elas, a propósito, passam pelos atributos da modéstia, da disciplina, do esmero e, principalmente, da paciência.

Em tal sentido foi que cheguei a imaginar, um dia, movido pelo êxtase que me foi causado pelo tirocínio de César, que já tinha chegado sua hora para ser presidente da OAB em Sergipe. É que, anos antes, quando dirigia a entidade, eu o estimulara a entrar na Ordem, ocupando o cargo de conselheiro seccional. Fiquei espantado em ver como um garoto podia ter tanta desenvoltura para a coisa. Era o início da década de 90. Todavia, quando lhe propus suceder-me, falou a modéstia: “Cada um tem sua hora e sua vez. A minha ainda não chegou”. Tudo bem. Mas veio o fim da década de 90 e, com ele, chegou a hora de César. Numa vitória acachapante, ele galgou a presidência da Ordem. E, aí, falaram a disciplina e o esmero. César reestruturou a Ordem segundo uma perspectiva ainda inédita.

Por tudo isso é que Sergipe não pode perder a oportunidade de aplaudir. É a primeira vez que chegamos lá. Com Alberto Barreto Melo, que também era sergipano, a satisfação foi de uma superficialidade primária, pois ele se limitou a nascer em Sergipe. Com César é diferente. César nasceu, cresceu, educou-se, militou na advocacia de maneira extenuante e provou, antes de mais nada, que o vencedor é 5% inspiração e 95% transpiração, conforme um dia categorizou Einstein. Hoje, advogado compacto, íntegro e bem-sucedido, César está pronto para mostrar ao Brasil que o pequeno Estado de Sergipe não cabe no País. A Bahia, o Maranhão, o Piauí e o Rio Grande do Norte que, sozinhos, formariam uma nação, nunca tiveram um presidente no Conselho Federal da OAB. Sergipe, quase do tamanho de Israel, agora tem um. E por falar em Israel, vale a pena destacar aquele velho ensinamento do Eclesiastes, que realça a literatura israelita: “tudo tem o seu tempo”. Pois bem, Cezar, chegou o seu. Chegou o nosso. Abra as portas da OAB Federal para todos. É chegada a hora de isso também acontecer. Sergipe, agora, é você.
* Publicado no Jornal “CINFORM”, edição de 29 de janeiro de 2007, caderno especial sobre Cezar Britto, página 15.
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