Aracaju/Se,

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Mata Escura (V)

Crimes que abalaram Sergipe

Mata Escura (V)
Acrísio Torres


Mata Escura era um criminoso que caminhava para o patíbulo. Pelo caminho conversava serenamente com os soldados. Não cessava de fumar os charutos que lhe foram dados pelo carcereiro. Não reclamava, de nada se queixava. Todavia, lamentou diversas vezes não ter praticado mais um assassinato. Devia ter morto Manuel Antônio, causador do suplício que o aguardava. - No outro mundo nos encontraremos. Esta ameaça pareceu consolar o estranho criminoso. Desta circunstância se aproveitou habilmente o chefe da escolta, para sondar o ânimo do réu. Procurou lhe falar ao coração. Pôde conseguí-lo. Mata Escura prometeu confessar todos os seus crimes. Não omitiria nenhum, mas os manifestaria como um ser humano que responsabilizava a sociedade pelos crimes que cometera.


No momento em que o chefe da escolta lhe perguntou se era verdade ser ele o autor de quatorze mortes, o bandido sorriu. Havia uma expressão de desprezo pela vida de seus semelhantes, na face dura de Mata Escura. Era o sentimento comum nos autênticos criminosos. - Não foram  tantas! Diante dessa afirmativa aconselhou ao réu que era bom que ele manifestasse seus crimes, para não comprometer alguém que fosse inocentemente acusado. O bandido disse que o faria junto à forca. Desejava tomar o público como testemunha de suas confissões. - Eu o farei no patíbulo. Ao aproximar-se de Itabaiana, cenário de seus crimes, declarou ter fome. Era noite. O réu caminhava devagar, por estar com as pernas molestadas pelos ferros que o manietavam.

Descansou no engenho do coronel Domingos Dias, que lhe mandou dar comida. Comeu bem. Todos se admiraram do desembaraço como à mesa farta do senhor de engenho se comportou Mata Escura. Conversava e fumava como se não o ocupasse nenhuma idéia do patíbulo. Enganavam-se os da escolta. Era aparente a calma do bandido, que ainda sonhava escapar à punição. Pouco depois de deixar o engenho do coronel Domingos Dias, a escolta foi atacada por homens armados de bacamartes. Dois deles foram reconhecidos como moradores do engenho do coronel Graça Melo, protetor de Mata Escura. Frustrou=-se a tentativa de libertação do criminoso. Não era a primeira tentativa de livrar o criminoso ao castigo.

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Antigo Centro
de Itabaiana
A impunidade, a proteção escandalosa que prestavam homens de vultos aos criminosos era a causa de se verem repetidos esses crimes ofensivos à sociedade. Até então havia sucedido que a punição só alcançara os desvalidos, os desprotegidos. Entretanto, um dia ela chegaria a todos os que menos pensavam dever curtir os seus efeitos. Não podia ser outro o alcance da lei e da autoridade. Era o pensamento do presidente Ferreira Souto. O governo e as autoridades da província tomaram providências enérgicas para fazer respeitar as leis, sempre que feridas. Não importava a condição social dos infratores. A sociedade sergipana parecia se tranqüilizar. Estava certa de que os crimes de Mata Escura seriam punidos na forca.

Antigo prédio da Prefeitura,
onde funcionava também o Fórum
Passaria também por sobre o mar das contemplações e do esquecimento a tentativa de levá-lo à fuga. Não se fizeram esperar as medidas severas do governo da província. Terminantes ordens foram expedidas para que fossem presos, processados, punidos, os autores do atentado às leis e do desrespeito às autoridades. Era o duro escarmento. E assim ocorreu. Caçados implacavelmente, foram localizados nas matas de Itabaiana, perecendo todos no encontro armado com os policiais. Perdera-se, para Mata Escura, a última esperança de escapar ao patíbulo.

(*) - Do livro Sergipe/Crimes Políticos I, Cenas da vida sergipana 2, autoria de Acrísio Torres, Thesaurus Editora, prefácio do jornalista Orlando Dantas, páginas 86 e 87.

- Nova postagem de cenas da vida sergipana no dia 15 de fevereiro de 2011. Vai continuar abordando a saga do criminoso Mata Escura, ainda do tempo do império, a caminho do patíbulo, onde iria pagar, enforcado, pelos crimes cometidos, tudo de acordo com o autor e obra acima.

Adendo

José Ferreira Souto, presidente de Sergipe de 1846 a 1847, participou das três primeiras legislaturas da Assembleia Provincial da Bahia (1835-1841).

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